AÇÚCAR E ALCOOL PROCESSO DE PRODUÇÃO

AÇÚCAR E ALCOOL PROCESSO DE PRODUÇÃO

Com a finalidade de conhecer o processo de produção de açúcar e álcool em loco, foi agendada para o dia 11 de julho de 2013 uma visita na Usina de Açúcar do grupo Baldin, localizada no Km 210 da via Anhanguera no município de Pirassununga SP. Onde o Prof. Luiz Antonio Bortolo foI recebidos pelo Eng. Marcelino José Maganha, o qual me acompanhou durante toda a visitação explicando e esclarecendo sobre o processo de produção açucareira. O objetivo dessa pesquisa é de que através dos conhecimentos adquiridos comparar a produção do tempo colonial com o atual e, em posse dessas informações transmitir aos alunos os conhecimentos adquiridos.

Após o plantio o ciclo da cana é de 5 a 6 cortes variando com o solo e clima da região. Posterior ao sexto corte é necessário arrancar a cana e replantar, caso contrário o índice de produção começa a declinar forçando o gráfico da lucratividade para baixo, portanto não compensa. Cada solo é estudado minuciosamente na sua composição para que seja efetuado o plantio com a cana mais apropriada. Segundo o Sr. Maganha o custo de plantio por hectare (100m X 200m) é muito dispendioso, por esse motivo tem de ser feito dentro de rigorosa especificação técnica. Cabe aqui uma informação crucial, em cada área plantada são utilizados diversos tipos de cana diferente, obedecendo ao critério de que cada espécie precisa ser destinada ao solo correspondente, outro fator é diminuir a incidência de pragas, sendo elas cara e difícil de combater.

Decorridos o ciclo de 6 cortes, é feito uma rotatividade com outras culturas para recuperar a qualidade do solo, essa rotatividade engloba, soja, amendoim, feijão, com a finalidade de recompor o nitrogênio da terra. Crotalária é uma vegetação sem nenhuma utilidade comercial, serve apenas para recompor os nutrientes do solo. O rodízio é feito entre 12 a 18 meses, a safra isto é a colheita abrange os meses de março a dezembro, pode ser colhida fora dessa época se não houver a precipitação de chuvas, o fato de colher a cana com o solo molhado, incorre em sua compactação pelas rodas das máquinas, prejudicando a próxima colheita.

A variedade de cana é fruto de pesquisas realizadas pela Coopersucar, com essa diversificação ameniza o ataque das pragas e aumenta a produtividade. Nesse quesito convém que seja feito um esclarecimento. Todo e qualquer tipo de cana pode ser utilizado para a produção de açúcar e álcool, mas se a planta não tiver uma qualidade e quantidade de sacarose ( substância contida na cana) suficiente a produção torna-se inviável economicamente. Esse é o quesito primordial no qual o Brasil tem tecnologia de ponta, a qual é vendida para outros países. As pragas pertinentes ao canavial são diversas, sendo as mais corriqueiras fungos, larvas de uma mosca específica nesse tipo de cultura, brocas entre outros. Essas pragas são combatidas com defensivos agrícolas o mais usado, mas pode também ser empregado um controle biológico através de um inseto que se assemelha a “joaninha” que se alimenta dessas pragas, mas é muito caro. Um canavial contaminado tem a sua produtividade reduzida em razão da baixa qualidade e quantidade da sacarose, ou prejudicando o processo de fermentação do mosto (caldo).

O processo de queima da cana não prejudica o produto e nem o solo e tem de ser comunicada através de documentação com antecedência e obter a permissão, porém essa prática está sendo abandona por diversos motivos, após a queima e colheita o solo fica “nu” sendo castigado pelo sol necessitando assim de mais cuidados. Os plantadores observaram que ao colher a cana deixando no local a palha e outros resíduos, fertilizam o solo e o mantém úmido.

Em relação a produtividade com a tecnologia brasileira é possível produzir com cada tonelada de cana de 60 a 90 litros de álcool, ou 120 kg a 140 kg de açúcar. Em 2013 a saca de açúcar com 50 kg era vendida por apenas R$ 40,00. Ao lado da usina está instalada a empresa Dulcine, a qual recebe através de uma tubulação a matéria prima da Baldin. A empresa Dulcine é responsável pela fabricação de “açúcar invertido” utilizado na produção de doces e refrigerantes.

Baseado nas informações do Sr. Marcelino o açúcar brasileiro é vendido “in natura”, isto é sem nenhum beneficiamento destinado à exportação para países europeus. Assemelha a uma areia grossa e escura com um odor muito forte de cana. Esse açúcar é utilizado na composição do concreto ou asfalto na pavimentação das estradas visando uma maior durabilidade devido a elasticidade que o açúcar confere a esse tipo de material. Do açúcar in natura também é extraído diversos subprodutos posteriormente vendidos para o Brasil. Quanto a fabricação de álcool é inviável para uma usina de pequeno porte devido a burocracia e política implementada pelo governo brasileiro, o lucro obtido por litro é ínfimo não compensando sua produção. Segundo o Sr. Maganha, a usina não pode vender diretamente para o posto de abastecimento, o álcool é vendido para o distribuidor de combustível, que abocanha a maior parte do lucro. Apenas para ilustrar tal procedimento. A usina vende o álcool para o distribuidor localizado a mais de 200 km da usina, esse álcool é vendido para o posto instalado em frente da usina. Constatamos nesse procedimento falta de vontade política e ingerência, se a usina pudesse vender diretamente ao posto de abastecimento com uma margem de lucro mais favorável, o consumidor pagaria menos pelo álcool, mas essa atitude promoveria uma baixa procura pela gasolina que é o carro chefe em matéria de combustíveis.

Quando indagado a respeito da mão de obra necessária para o funcionamento da usina, fomos informados de que os usineiros mantém em cada região uma escola voltada para essa qualificação profissional, onde são formados técnicos para os diversos seguimentos do processo açucareiro.

Em uma área determinada encontramos uma construção digna de atenção, ao indagarmos sobre o edifício fomos informados da parceria Baldin/CESP. A companhia de Eletricidade de São Paulo forneceu os equipamentos necessários para a geração de energia elétrica. Utilizando-se do bagaço da cana que é queimado em uma fornalha aquece as caldeiras responsável pela produção de vapor, esse vapor em alta pressão é dirigido para as turbinas geradores de eletricidade com capacidade para produzir mais de 400 Kilowatts, suficiente para atender a demanda em todas as suas necessidades de energia elétrica, o excedente é acoplado ao sistema da CESP que compra essa energia e revende para os consumidores, a quantidade produzida é capaz de suprir uma cidade com 400 mil habitantes (Jundiaí). Nesse sentido cabe informar que alguns motores elétricos destinados ao processo de moagem, são de tamanho e capacidade considerável alguns atingindo a potência de 120 HP (equivalente a dois automóveis).

Na produção açucareira a usina necessita de uma grande quantidade de água nas diversas etapas de produção, para tanto é destinada uma área de represamento e tratamento dessa água, para gerenciar a qualidade da água é mantido dentro dessa represa uma determinada quantidade e variedade de peixes auxiliando no monitoramento que também são realizados mediantes testes laboratoriais.

Em tempos remotos o “vinhoto” líquido escuro e mal cheiroso resultado da fermentação do mosto era lançado nos córregos contaminando toda região. Atualmente alem da proibição que incorre em pesadas multas caso a usina lançar esse subproduto no corpo d’água, o vinhoto é armazenado em tanques apropriados e quando necessário é descartado no canavial fazendo o papel de adubo, mas esse descarte é realizado seguindo instruções técnicas passadas pelos engenheiros agrônomos da usina.

Finalizando constatamos que há muita diferença nos processos de fabricação, em que hoje podemos contar com um procedimento embasado em muita tecnologia, em relação ao açúcar produzido nos tempos coloniais no nordeste brasileiro, mas infelizmente no que tange ao processo comercial, continuamos igual a séculos atrás, quando a Holanda comprava toda a produção brasileira, a qual só podia ser transportada em naus holandesas. Eles refinavam o açúcar e, vendiam para toda a Europa com uma boa margem de lucro. Ao passo que para o Brasil produtor o lucro era infinitamente menor, éramos e continuamos a ser apenas um insignificante fornecedor de matéria prima e mão de obra barata, no açúcar e também em outros seguimentos, fruto de uma política econômica equivocada, alavancada pela ingerência.

Quanto a esse pormenor é importante salientar que o Brasil não passa de um simples fornecedor de produtos agrícolas, em que para funcionar precisa importar tecnologia, adubos, defensivos, máquinas, transporte e especialmente as sementes híbridas e transgênicas. A Monsanto líder mundial no segmento é americana, fornecedora de sementes e defensivos. A Basf industria química com sede na Alemanha também é líder mundial na fabricação de substâncias destinadas a produção de fertilizantes. É evidente que ao contrário do Brasil todos esses produtos voltados para a exportação trazem em seu bojo valor agregado. Portanto sem a aquisição dessas importações torna-se inviável para o mercado brasileiro a produção agrícola. Outro detalhe e o de maior atuação maléfica são de que se atentarmos detalhadamente notaremos que em cada grão exportado estão acoplados vários grãos do nosso solo e uma imensa quantidade da nossa água.