Meio Ambiente (última carta de Ivao Furukawa 2003) - I
Ivao Furukawa é filho de imigrantes japoneses que aqui chegaram em 1926, e como todo pioneiro aspirou continuar os sonhos deixados pelos seus pais e amigos.
Nascido em Mogi das Cruzes em 04 de Julho de 1934 foi criado e trabalhou no meio rural até 1976. Da lembrança mais antiga, lhe vem macacos atacando, ou melhor, carregando espigas de milho da lavoura dos Furukawa (ervilha, tomate e vagem), estaqueada e rodeada de milhos para proteger a plantação de ventos fortes e invasão de animais. Milhos estes que serviam também para criar porcos e galinhas.
Em 1976, desiludido com o resultado das repetidas colheitas anuais sem lucros, resolveu mudar de atividade. Convidado por grupos de produtores de mudas de árvores ornamentais, entrou no ramo de comercialização de plantas. Tendo o CEAGESP como ponto de partida, tomou parte na Primeira Exposição do Verde, realizado no Parque Ibirapuera, ocasião em que começava-se a falar sobre Ecologia num grau de importância acima do esperado pelos estudiosos da área.
Foi incumbido de dar vazão a milhões de mudas de árvores produzidas pelo grupo mencionado. Forneceu através de licitações, em aproximadamente três mandatos de prefeituras, dando cobertura a licitantes variados, incluindo os próprios produtores, como vendedores diretos da produção à prefeituras como de São Paulo e outras cidades.
O trabalho ligado à arborização, de 1976 a 2003 (27 anos) deu à Ivao Furukawa a convicção de fazer parte de ambientalistas ligados ao verde e à biodiversidade como resultado.
“Andando pelas rodovias afora: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina e voando sobre os Estados do Norte, vejo como o homem (eu entre os milhões) degradou o nosso ‘Brasilzão’, com certeza ‘Verdão’ e cheios de riachos em épocas passadas. Hoje, só existem os grandes rios e os afluentes secundários. Nascentes? Onde estão? Sumiram...
Como ex-fazendeiro, fico entusiasmado, orgulhoso mesmo de ser brasileiro com futuro garantido como ‘sustentador’ de alimentação ao resto do mundo. Milhões de hectares de grãos, soja, milho, arroz, feijão, plantas frutíferas, cafezais, dominando as planícies sem fim a perder de vista.
Tudo bem, tudo bonito, mas: Como conciliar? Como organizar? Como preservar os mananciais, as nascentes, as grotas, os buritizais? Vinte por cento da área total das fazendas, dos grandes latifúndios deveriam ser destinados literalmente à preservação destes. Bastaria? Seria suficiente? Onde estão? Então, os grandes produtores são obrigados a plantar e manter a preservação desses vinte por cento. Como dizem e observamos que não têm tempo nem suporte e apoio financeiro, é preciso viabilizar.
Vejamos pelo seguinte raciocínio:
Pegue uma área de 1000 hectares multiplicando por 1000 donos. Teríamos então 1.000.000 de hectares, 20 por cento dos quais resultaria em 200.000 hectares. Não podemos centralizá-la é lógico, visto o número de proprietários dessas ditas áreas destinadas a esse trabalho, estarem espalhadas em diversos tipos de padrões e dimensões num raio de 400 km tendo como eixo a capital do país, Brasília.
O Governo Federal, com o apoio de outros partidos, pensando na preservação do meio ambiente e no ‘Século da Água’, precisa e pode criar um serviço destinado ao verde, este verde histórico e necessário para o Distrito Federal e adjacências que podem estar fadadas à desertização caso não sejam tomadas as devidas providências. Aproveitando as nascentes (bacias dos mananciais pequenos) num raio de 200km (líquido de Brasília) e 400km (bruto) acima.
Não podemos fazer uso dos bons ‘Sem-terra’ com orientação técnica e planejamento de produção voltados à cooperativa Federal de micro-agroindústria com produção e por conseguinte o desenvolvimento sustentável?
Em meados de março de 2002, no início do atual milênio, na residência do Sr. Onoyama, proprietário do Parque Onoyama em Brasília, reuniram-se ele, Yoshiaki Onoyama, o amigo de seu pai, Yoshio Kinoshita, agrônomo, pesquisador e produtor de plantas, Hiroshi Fujita e seu filho Júlio, também produtores e multiplicadores de espécies arbóreas, Ivao Furukawa e o convidado do Sr. Onoyama, César Maurício Wescher que, no interesse de implantar o verde e dar sustento financeiro à todos os participantes discutiram os seguintes pontos:
Venda de plantas arbóreas em grande escala (centenas de milhares de unidades) de dezenas de espécies para formação de massas verdes na região de Brasília. Justificativas diversas foram encontradas:
A) corrigir ou compensar a grande degradação ambiental causada pelo Projeto Cerrado nos anos 60 e 70 devido ao incremento do interesse agrícola. Projeto esse do qual o próprio Sr. Kinoshita participou convidado por Isidoro Yamanaka, assessor posterior do então atual Ministro da Agricultura Alisson Paulinelly e mediador dos negócios nipo brasileiros a nível Estadual e Federal da época;
B) O atual e grande celeiro agroindustrial do cerrado brasileiro foi implantado com a dizimação impiedosa de milhões de árvores e arbustos derrubados por correntes de toneladas de ferro arrastados por tratores de centenas de HP (cavalos), espécies estas tão necessárias à preservação do ecossistema;
Eu, Ivao Furukawa, tomei parte pessoalmente da transformação de 2000 alqueires geométricos ( 1 alqueire goiano corresponde a 50.000m2) na região de Pirenópolis a 100km de Brasília, para formação de arrozais e posterior pastagem para gado. Isto porque não existia a febre da soja. Ressalto que naquela época era possível ver o clarão no céu da capital brasileira. A paz da noite era transformada no dia posterior em novas derrubadas de outras áreas.
Após o arrastamento das correntes e noventa por cento das árvores arrancadas e tombadas com suas raízes para fora da terra, contratavam-se centenas de homens para formação de “coivaras” que são grandes leiras de 50m de largura de árvores destroçadas de todos os tamanhos a cada 100m de largura formando espaços agricultáveis. Os restos que insistiam ou sobravam na mencionada área eram novamente ajuntadas às leiras formadas pelas máquinas no sentido de não dificultar o trabalho dos tratores para o cultivo, como aração, gradeação, plantio, e cultivo do cereal. Um fato impressionante que antecedia o trabalho bonito do cultivo era a queima das coivaras. A direção que o vento tomaria, deveria ser prevista pelos homens na queima das coivaras, que aos olhos de quem assistia era de um espetáculo impressionante que causava no então desbravador, um sentimento de euforia, poder de domínio , orgulho e senso de conquista.
“Eu me incluo na lista desses conquistadores mas também destruidores. Hoje, depois de trinta anos, como ambientalista, sinto-me na obrigação de resgatar o que a destruição do homem causou ao cerrado. E o resto? O antigo Estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e todo o norte e nordeste brasileiro, onde também predominavam as espécies arbóreas de grande porte como as Perobas, os Marfins, os Cedros Mognos, as Araucárias, as Cássias, e outras dezenas de madeiras, que hoje talvez, se melhor preservadas, poderiam ser utilizadas no sustento da economia própria do país e comércio de exportação bem praticados.”
Essas espécies foram dizimadas com proveito, mas com o objetivo de abrir clarões para a formação de lavouras brancas manuais praticáveis na época, mas em grandes números porque era a base da economia e sustento dos habitantes da época, que depois concentraram-se em vilas e cidades causando o êxodo rural para as atuais capitais que hoje superlotam e causam uma má distribuição da economia.
Vamos correr no tempo. Quanto se levou? Com certeza, desde a Descoberta desse país iniciando pela extração do pau-brasil pelos portugueses e outros colonizadores, e formação de grandes cafezais. Era comum naquela época tirar um pouquinho da vegetação rica em minérios, espécies animais, pedras preciosas e muita, mas “muita” água (em todas as grotas brotava-se muita água).
Após cinco séculos, o pouco que resta da vegetação, digamos, talvez setenta por cento incluindo a Amazônia preservada, é o que temos de grande valor como elemento imprescindível ao mundo.
Ao longo desses quinhentos e tantos anos, o homem vem destruindo o Brasil e as Américas, desmatou também o planeta. Aí sim, em milênios, talvez três, cinco ou mais desde a sua existência. As milenares pirâmides dos faraós que conhecemos foram feitas com pedras sim, com pedras, comprovadamente. Levaram decênios na construção destas. Se tentarmos imaginar o local da época, com certeza havia muita vegetação, árvores gigantescas, rios, lagos, muita água em forma de nascentes, muita vida vegetal, animal, biológica e orgânica. Hoje, o símbolo conhecido das pirâmides é cercada pelo deserto que com certeza, como mencionamos, era diferente. O material colhido para a formação das próprias pirâmides e os homens habitavam esse local que hoje é esse vasto deserto tão famoso geograficamente e lamentavelmente.
Em se tratando da Brasília de 1950 a 2003:
· o Distrito Federal precisa do verde;
· O Cerrado precisa do verde;
· O Brasil precisa do verde;
· As Américas precisam do verde
· E conseqüentemente o globo terrestre.
Faz-se necessário, pensarmos na anti-desertização, na extinção total do verde.
No Século da Água, atual século é preciso analisar:
· como preservar o existente;
· como repor o degradado;
· como corrigir o destruído;
Como: a resposta seria – trabalhando, programando, colocando homens, empregando tecnologia e seus devidos recursos.
O homem bem orientado, bem dirigido, com o recurso e tecnologia atuais, pode REPOR a massa verde em 20 anos.
Em Brasília, Distrito Federal, temos o modelo vivo do Parque Onoyama para elucidar qualquer dúvida.
O viveiro de plantas do parque tem ligação com formadores de plantas nativas e exóticas para repor a vida vegetal em todo o Goiás.
Queremos e precisamos:
· da constatação da necessidade desse trabalho urgente;
· de vontade política;
· de legislação especificamente direcionada;
· de um Ministério voltado para o verde-homem-trabalho;
· da reversão do êxodo rural;
· da criação de espaços para formar milhões de hectares nas regiões ligadas às bacias hidrográficas;
· de núcleos organizados;
· de cooperativas para exportação do produtos extraídos do verde (adoçantes, enlatados, doces, sucos, frutos típicos, óleos vegetais colhidos e usinados em micro-agroindústrias e pequenas cooperativas)
OBSERVAÇÃO:
Uma árvore produz milhares de sementes por ano que em circunstância natural como no mato, vinga 5 milésimos.
Com a assistência do homem interessado na formação, aproveita-se 900 milésimos.
O tempo de formação sem sombra de dúvida e concorrência, acelerará para o dobro o ciclo de formação com um trabalho bem planejado e empregado.
Comparemos: Em 2050, Brasília em exemplo de semi-deserto. Em 2050, a mesma Brasília, sob outro aspecto, verde, com muita água, florida, úmida, formada de ipês, buritis, cássias, e micro lagos.
Enfim, todo sonho quando perseguido e trabalhado é possível. Temos muitos exemplos disso e cabe a nós como brasileiros, darmos novamente, um grande e valioso trabalho nesse aspecto, que com certeza ficará na história do país e da humanidade. O homem nasceu para trabalhar para o bem dela. Está nas mãos dele esse grande tesouro e responsabilidade. "
IVAO FURUKAWA