QUE MARAVILHA É A ARTE
Como filhos de Deus que somos, possuímos a capacidade de desenvolver nossas vidas até o mais alto grau de pureza e perfeição. Faremos, assim, de cada um de nós, a verdadeira expressão da arte. Deus, na qualidade de arquiteto máximo e insuperável dotou o mundo em que habitamos de todos os atributos necessários e indispensáveis à aplicação do toque artístico nas mínimas coisas. É só olharmos o mundo a nossa volta. Não há sequer o mais ínfimo defeito no cenário deixado por Deus para o deleite do ser humano; vivemos num palco multicolorido de graça e beleza inigualáveis. A vida despreocupada, aquela que é ideal à felicidade consegue detectar em tudo a manifestação da arte divina.
A natureza esplendorosa que permeia cada rincão planetário nos presenteia com seu dom peculiar. Ficamos extasiados quando a conseguimos apreciar dando ao eu do momento, essa chance de desprendimento. Não há ser que consiga se manter indiferente diante das dádivas em forma de arte natural. Aí está a prova maior da existência de Deus e de Sua bondade em nos querer agradar. Não existia outra intenção no coração divino ao projetar no mundo esse manancial artístico. Em todos os cantos, quer seja no irmão idoso que caminha ao nosso lado, carcomido pelo avançar dos anos ou na exuberante flor que surge entre as rochas e desafia a intempérie apenas para deliciar nossos olhos, encontra-se a intenção do criador; tudo foi ideado e executado para a nossa felicidade.
A vida otimista vem ser aquela que tem, como prioridade, o desenvolvimento do teor artístico. Não teria sentido viver se, em cada ato, palavra, profissão não coexistissem a vontade de manifestar arte e dom inato em cada um de nós. Manifestar esse dom é o diferencial entre viver de verdade ou simplesmente existir. Em tudo está presente a arte, esse arquétipo que, quando em prática faz a diferença entre o eu e o outro. Basta a vontade de sair do ramerrão imposto pela rotina obrigatória, impondo ao dia intervalos artísticos até que isso se infiltre em nós como parte, que realmente é, do ser filho de Deus. Podemos observar isto ao nos determos em certas apreciações; todos vivenciamos experiências no que tange a manifestações artísticas.
Há seres, humanos e outros, que possuem, no dom como no esforço essa qualidade de nos deslumbrar: nos aspectos, nos gestos, nos movimentos; não só no que grosseiramente queremos entender como arte, mas em detalhes que, ao não observador passam despercebidos. Penso que arte não se resume em trabalhos artísticos, mas sobretudo no ato de viver a vida. A redundância em afirmar que arte é vida perde a razão de ser porque tudo se resume em arte. Não importa a origem, o que faz, os laços genéticos ou recursos materiais; a arte nada tem a ver com essas imposições. Ela está no ideal primeiro de descobri-la por trás do óbvio. Prova disso está nas opiniões que divergem quanto ao que chamamos de gosto ou preferência. A arte não está no visível das coisas, como sabiamente afirmou Exupéry. O essencial é variável a depender do foco do apreciador. O que é arte para mim pode, para o desvinculado do interesse artístico parecer não mais que um mero intuito comercial. Por outro lado, o que não traz fins de comércio pode resultar na mais fina arte, na mais indelével fonte de gozo e felicidade.
É delicioso viajar no contexto arte quando empreendemos ações obrigatórias do dia a dia. Daí resulta uma felicidade rara, mas que deveria ser o trivial de todos. Isto porque a preocupação tira do homem o prazer de viver. Se ele permitir que a arte o deleite mais do que as conquistas frustradas ele verá, nos mais simples eventos e no mais tosco visual uma demonstração de arte. É claro que o feio existe; existe o mau gosto, que faz deslocar o sentido artístico. Não se pode deixar enganar e tomar por arte o que não o é de fato. Mas são raros esses exemplos. Primeiro, porque o apreciador pode criar seu próprio conceito de arte, despertado do seu íntimo predisposto a isto. Em seguida, por ser ela, a arte produto mais de quem a aprecia do que do seu benfeitor.
Às vezes nossa intenção de agradar frustra o espectador e o que não julgávamos vultoso de sentido é que desperta nele o êxtase; olha como a arte é perspicaz e difícil de ser captada!
Beleza e arte nem sempre estão de mãos dadas. Se é uma beleza cosmeticamente manipulada, a essência da arte pode desaparecer instantaneamente. Não é muito fácil essa junção, mas ela pode ser conseguida por meio da espontaneidade, contrapondo as qualidades que vêm sendo exaltadas linhas acima.
Tudo na vida é equilíbrio. Pode haver harmonia entre o feio e o belo porque, da mesma forma que o bem sempre vence o mal, o belo se sobrepõe ao feio sempre que seus caminhos se cruzam, resultando daí o que pode ser considerado arte; é o esforço da natureza ao superar a si mesma. Arte é consciência, é estado mental voltado para a prática do bem. É pensar no outro ao empreender um movimento voltado para o exterior porque ele será apreciado e vai gerar uma opinião, manifesta ou não. O lucro é secundário quando a arte é arte de fato. A abundância de recursos favorece à manifestação artística, mas não a sua originalidade, esta não é nem nunca será carente do esteio humano, pois brota do interior da alma e é inspirada por Deus. As maiores testemunhas das ações artísticas são os olhos de quem as aprecia. Uma visão voltada para a essência artística nunca será ludibriada por interesses.
É por isso que arte não se resume em trabalhos pura e simplesmente dependentes do esforço físico, mas da intenção de agradar, de distribuir felicidade. Se o alvo do ganho for posto à frente do amor em servir através da arte, essa já foi conspurcada, por mais bela que seja a sua manifestação. Só isto já nos dá uma ideia de como profunda e inatacável é a arte de Deus.
Devemos, ao meu ver, manifestar a arte em todas as nossas ações. Desde uma fisionomia agradável de ser contemplada até o auge de uma obra, tudo é arte e traz opiniões, não importa a forma nem a origem dessas opiniões. Imagina se pudermos testemunhar o desabrochar de uma flor do campo, por exemplo; é um momento incomparável, um nirvana espiritual. Mas ela está ali, a nos contemplar e nós a ela. Ela nasceu, isto é o que importa. A intenção impregnada no âmago daquela obra divina já nos invade a alma e nos massageia o dia; e tudo não passou de uma simples contemplação. “Os que apreciam as flores possuem o coração que a elas se assemelha”. Essas palavras de Mokiti Okada conceituam o valor da arte, que reside na apreciação. Não haveria possibilidade de vida num mundo isento de belezas naturais, como não há beleza em uma vida desprovida da finalidade artística. Elas se interpenetram e é isto, nada mais do que isto que resulta na razão de ser da nossa existência, pois é o que nos dá a felicidade.
Buscamos em coisas efêmeras, a razão da felicidade e quase sempre saímos frustrados; e assim sempre será enquanto não houver a conscientização de quem realmente somos. Penso que a resposta a essa indagação se encontra no viver desprendido de conquistas efêmeras e na aceitação das dádivas de Deus em forma de beleza artística. Qualquer realização em prol do outro que tenha como prioridade essa razão de viver terá muito mais força e o bem resultante dela será muito mais abrangente.
A vida que vale a pena ser vivida só pode ser aquela em que o espírito possa se deleitar com todas as formas de belo. Isto se encontra na maneira com que observamos o mundo ao nosso redor. Somos todos espectadores e artistas ao mesmo tempo. No palco do mundo, onde as cores brilham com maior intensidade, encontram-se aqueles que se conscientizaram da importância do comportamento artístico. Há uma concentração em torno de todos os atos, todas as palavras e intenções para que o belo se manifeste. Compreender que ele não se encontra apenas na aparência nem na artificialidade significa ter avançado um pouco mais no conceito de belo.
É por isso que, desde a jovem mais deslumbrante, passando pelas fantasias e adereços os mais luxuosos até ricas e notáveis mansões, pode haver o vazio da expressão se não houver, por trás disso, a intenção de agradar, de praticar o bem. Nem sempre o belo deve agradar; a simpatia não se restringe ao ser humano. Ela está no tipo de relação entre mim e aquilo que eu aprecio; se não houver uma troca de identidade; de gosto; de sentimento purificado, nenhuma expressão de belo conseguirá me impressionar.
Daí, resulta o belo por trás das rugas de uma velhice, entre as crianças pobres de um casebre e mesmo no meio de rebotalhos largados e esquecidos. Se assim não fosse, não tiraria, o escultor, de um refugo de floresta ou de uma peça inoperante a mais alta expressão de belo que sua imaginação pode conceber; ele consegue transformar em arte aquilo que costumam desprezar os olhos despreparados. O belo já foi delineado em nossas mentes à partir da apreciação de tudo que se encontra ao redor; basta o toque final para a sua concretização. Deus, ao criar o universo viu que tudo era bom e, se tudo é bom, não há como não se tornar belo, também. Pois, a arte é o belo de Deus manifestado.