A educação vem de berço?

O trânsito seguia lentamente quando o motivo do transtorno urbano naquela movimentada via pública foi conhecido: dois veículos de luxo parados em fila dupla com seus jovens condutores conversando tranquilamente, como se estivessem no sofá de casa. Ambos devidamente acompanhados por latas de bebida alcoólica que eram atiradas pela janela sem constrangimento algum, transformando o canteiro central em lixeira particular. A ousadia dos folgados era evidente a ponto de estender o dedo médio em riste aos motoristas que buzinavam, num típico ato de provocação e desprezo. Após algum tempo de confusão na via, os dois veículos partiram em alta velocidade deixando para trás uma porção de usuários indignados e no gramado os vestígios de tamanha ignorância.

Em outro local da cidade o descaso com o meio ambiente foi explícito, no momento em que um veículo utilitário era descarregado ao lado da via pública. Entre o lixo ali depositado havia sofá, colchão, entulho de construção, lâmpadas fluorescentes, madeira, garrafas plásticas e lixo doméstico, entre outros. A tranquilidade e a indiferença do inconsequente contrastavam com uma placa afixada nas proximidades, que justamente anunciava a proibição da combatida e ecologicamente incorreta prática. Nem os protestos veementes dos transeuntes fizeram o homem desistir de seu intento. Concluída sua “missão” em livrar-se do incômodo a que se propôs, nosso anti-herói da biodiversidade desapareceu rapidamente, não antes de acenar cinicamente para os incrédulos cidadãos que assistiram a cena.

Há pouco tempo a mídia televisiva apresentou uma matéria sobre a utilização de espaços públicos, onde famílias inteiras se reúnem aos domingos e feriados para usufruir dos momentos de descontração. Seria a junção ideal dos ingredientes de um belo cartão postal, senão por um relevante e perceptível detalhe: a montanha de lixo deixado pelos usuários daquele logradouro. Por todos os cantos ficaram restos de alimentos, copos, garrafas, sacolas plásticas e muito mais. Indagada sobre a situação, uma entrevistada tentou justificar o ato sem acanhamento algum, com a desculpa que o motivo para aquela atitude insensata era a falta de lixeiras suficientes para receber os detritos produzidos. Faltou-lhe naquele momento, a humildade para reconhecer sua pouca educação e nenhuma preocupação com a preservação do meio ambiente, deixando de acondicionar o lixo e destiná-lo corretamente.

Esses e outros tantos exemplos são observados diariamente por todo o país. Algumas praias do Nordeste brasileiro estão totalmente poluídas por lixo de todo tipo. As metrópoles sofrem com as enchentes, resultado direto do acúmulo de material não degradável em bueiros e galerias de águas pluviais. As periferias de grandes cidades e as vias vicinais transformaram-se em depósitos de lixo a céu aberto, condição ideal para a proliferação dos vetores de transmissão de inúmeras moléstias. Estamos muito distante daquilo que poderia ser considerado como aceitável em termos de consciência ecológica e ainda de formação do caráter de nossa gente. Quais as efetivas medidas das autoridades constituídas para identificar e punir com eficiência aqueles que afrontam a legislação ambiental vigente? Onde estão o respeito e o acatamento aos valores morais recebidos no seio familiar, os mesmos que deveriam diuturnamente nortear as atitudes sensatas de nossa gente? Por acaso se perderam no tempo com o advento da tecnologia e do imediatismo consumista, sendo relegados a simples lembranças de um passado distante?

Cabe a cada um encontrar as respostas aos mais diversos questionamentos. De preferência, que venha em forma de atitudes firmes e previdentes, contribuindo para a manutenção da qualidade de vida no planeta. E de quebra, tentar provar com uma mudança consciente de paradigmas que a boa educação e o respeito, realmente, vêm de berço