Uma imensa lixeira

A humanidade depara-se com um problema de grande complexidade e difícil resolução. O quadro se agrava na proporção do crescimento econômico e populacional mundial, levando as nações a buscarem métodos de tratamento utilizando alta tecnologia. A produção e a correta destinação do lixo tornaram-se uma questão de saúde pública no mundo todo. As medidas implementadas pelos governos com o intuito de estancar e reverter a situação se mostraram insuficientes ou inadequadas para fazer frente ao excessivo volume produzido. É preciso mais que consciência ecológica para minimizar os efeitos do descaso da maioria da população com a qualidade da vida no planeta.

Um simples prato dominical pode conter nada menos que meia dúzia de produtos agressivos à natureza, que são compostos em sua grande maioria por polímeros, materiais reconhecidamente duráveis e resistentes, comumente chamados de plástico. O delicioso almoço vem devidamente acondicionado em bandejas de poliestireno (isopor) lacrado com filme transparente, garfo, faca e copo descartável e para o transporte, uma providencial (e altamente poluidora) sacola plástica, que permanece por centenas de anos na natureza. O agravante desse ciclo nada virtuoso se reflete em montanhas de lixo por todos os lados, evidenciando a necessidade urgente em se promover a cultura da prévia classificação de maneira eficiente dos diferentes materiais e detritos sólidos e líquidos produzidos pelo ser humano.

Os resultados da separação e destinação correta do lixo são positivos, especialmente nas últimas duas décadas. A reciclagem mostrou-se uma alternativa viável e satisfatoriamente rentável, propiciando um significativo aumento na renda dos coletores autônomos. A instalação de cooperativas de trabalhadores nesse segmento proporcionou um aumento expressivo na quantidade de materiais reaproveitados, mostrando que a viabilidade econômica é um incentivo para outras iniciativas semelhantes. Alguns municípios priorizam a coleta seletiva e promovem a conscientização da população sobre o problema, estimulando um comportamento pelo menos aceitável do cidadão. Porém, a peça mais importante (e menos empenhada) nessa complexa engrenagem não corresponde com as reais necessidades em se destinar corretamente o lixo que produz. Apesar das inúmeras e contínuas campanhas governamentais, o ser humano insiste em espalhar suas “lembranças” por todo lado, como a provar constantemente que lhe é facultado o direito de poluir todo ecossistema, em detrimento de outras espécies que padecem com o desprezo pela manutenção da biosfera.

O ciclo perverso do consumo exagerado e da inserção de novos compostos industrializados na busca por comodidade e praticidade transformou o cotidiano das pessoas. A opção crescente pelos descartáveis se mostra diametralmente na contramão das iniciativas para a preservação do meio ambiente. A insensibilidade da população com referência à conscientização ambiental extrapola os limites domésticos. As vias públicas mais se assemelham a lixeiras a céu aberto, assim como os fundos de vale, as estradas rurais, os terrenos baldios e qualquer espaço em que o animal dominante vislumbre como local propício para depositar as marcas de uma inexplicável ignorância. O que fazer para tentar incutir definitivamente uma maior responsabilidade nas atitudes dessa gente inconsequente?

As campanhas publicitárias procuram chamar a atenção com vinhetas criativas, imprimindo dinamismo e versatilidade ao utilizar estereótipos exagerados, com o objetivo único de atrair o interesse do público para a situação ambiental. Porém, todo esforço em suscitar no cidadão a consciência para novas atitudes acaba reduzindo-se a boas intenções. Os exemplos aí estão a nos lembrar de que vivemos num mundo dominado por pessoas desinteressadas pelo bem estar da coletividade, às quais se poderia com toda propriedade impingir-lhes a pecha de “sujismundos”.

A qualidade de vida está diretamente ligada à uma postura coerente em nosso cotidiano. Cabe a cada um mudar de comportamento e aderir à causa com atitudes ambientalmente corretas. Então, mexa-se e faça sua parte.