Água é Vida
A situação do abastecimento de água no mundo é preocupante. Mais de um bilhão de pessoas não têm acesso a ela; dois bilhões e 400 milhões não dispõem de saneamento, com projeções alarmantes para 2025, quando os seres humanos sofrerão sérias consequências por sua escassez.
O Brasil, que possui 14 % da água doce existente, tem muito a fazer para cuidar deste bem valioso e finito, para garantir a vida na Terra.
Este é um assunto de muita importância pelo o qual os políticos resvalam, como no caso da educação, talvez por estarem intimamente ligados às liberdades individuais de pensar e se movimentar. A água é estratégica, ligada à soberania, à economia e à saúde, embora não dê votos, sendo esquecida pelos políticos.
O cuidado com ela reflete educação e desenvolvimento, coisa também escassa por aqui. Não há consciência sobre a importância do uso racional e a necessidade de proteção dos rios e águas subterrâneas, através do adequado afastamento e tratamento dos esgotos doméstico e industrial.
E não são apenas os políticos, que só pensam no voto, a fugir do assunto; a imprensa também, e quase toda a população, a qual poderia tomar eficientes medidas em suas residências através do consumo inteligente, economizando e reusando.
Para muitos políticos interessa o voto das massas, a se amontoar em assentamentos irregulares - muitas vezes promovidos por eles próprios – onde crianças convivem com água contaminada, adquirindo graves doenças invisíveis, que as levarão ao sofrimento e à morte. Mais de três mil crianças morrem diariamente no mundo em decorrência de doenças provindas de água contaminada. No Brasil, 80% dos esgotos não são tratados, sendo jogados “in natura” nos corpos de água, contaminando o que será consumido por pessoas a adoecer, agravando o enorme passivo previdenciário. E o investimento dos governos é pífio. O País não tem os recursos necessários para enfrentar o passivo em saneamento, e há políticos contrários a investimentos da iniciativa privada nessa área. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cada dólar investido em saneamento básico significa uma redução de quatro a cinco dólares em despesas hospitalares.
Sessenta por cento do consumo destinam-se à irrigação na agricultura, feita aqui precariamente, com uma tecnologia medieval de inundação, por falta de informação e financiamento. Boas técnicas e projetos poderiam reduzir este consumo pela metade, liberando grande quantidade para o humano, nas cidades, onde vivem oitenta por cento da população.
É necessária uma profunda mudança no entendimento e nas iniciativas da sociedade para encarar o sério problema da água, que já estamos enfrentando e poderá se agravar muito, mesmo em nosso país tão bem servido por esse bem impagável, mas onde persiste a falsa cultura da abundância e do desperdício.
No Brasil, as perdas de água tratada nas tubulações variam de 40% a 60%, quando deveriam variar de 5% a 15%, como nos países desenvolvidos, por falta de investimento do poder público, que tem orçamento restrito.
Cuidar da água é cuidar da Natureza, da vida na Terra e, especialmente, do ser humano.
Como muito bem escreveu Guimarães Rosa, “a água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba”.
Nagib Anderáos Neto
www.nagibanderaos.com.br