O FUTURO DO PLANETA

Quando se trata do futuro sempre aparecem os adivinhos e os profetas. Em todos os séculos apareceram profetas que anunciaram, para próximo, o fim do mundo. No século XX os profetas trágicos e utópicos foram mais abundantes do que em outros tempos. Também neste início do séc. XXI as predições sobre o futuro não param. A maioria dos “profetas” anuncia um futuro trágico para a vida em nosso planeta. Uns poucos são otimistas, e acreditam nas potencialidades positivas da inteligência humana, capaz de reestruturar um retorno a condições paradisíacas. Vejamos alguns aspectos destas predições futurísticas para a vida no planeta terra.

Por 1800, Thomas Maltus previu um futuro trágico para a humanidade se o índice geométrico de crescimento populacional continuasse, como naquela época. Mas, entretanto, desde Maltus a população mundial cresceu sete vezes, já ultrapassando os 7 bilhões. Atualmente se profetiza que, por 2150, a humanidade chegará a cerca de 100 bilhões de pessoas, caso não se intervenha com medidas definitivas. Neste contexto, também se constata que a extinção de outras criaturas é 100 vezes maior do que nos últimos 50 milhões de anos. Aproximadamente a metade das espécies vivas na terra está sendo prejudicada. Especialmente os maiores mamíferos, os felinos e os primatas. Inclusive, algumas espécies de peixes das profundezas dos oceanos estão ameaçadas.

A maior ameaça aos seres vivos é a perda de seu habitat. Aos poucos, todos os vales férteis da terra estão sendo cultivados. Com isto, a vida selvagem é obrigada a se refugiar em regiões não agriculturáveis: montanhas, desertos, florestas tropicais, onde vivem mais de 90% das espécies animais. Dali a importância da preservação das florestas tropicais. Fragmentando estas florestas, diminui o habitat de muitas espécies, que necessitam de grandes áreas contínuas de florestas para sobreviverem. Por exemplo, os elefantes. Estes mamíferos somavam centenas de milhares no início do séc. XX. Ao final deste século estimou-se seu número em cerca de 30.000. Número que está caindo para cerca de 15.000 indivíduos.

A poluição é uma das formas de perda do habitat, tornando o habitat inabitável para muitos animais. A ameaça para a sobrevivência dos orangotangos, por exemplo, não é apenas a falta de árvores, mas também a ameaça de seu aprisionamento, que os faz abandonarem seu território.

A segunda maior ameaça, surpreendentemente, é a importação de espécies exóticas. Por acidente, chegaram à Nova Zelândia, à Austrália e a muitas ilhas, ratos, coelhos, raposas e outros roedores, que destroem sementes, e contra os quais pássaros e animais autóctones não possuem defesa; peixes exóticos, muitas vezes carnívoros, são introduzidos em rios e lagos de outras terras e continentes, e ali competem com os peixes locais, interferindo em sua reprodução.

A caça é outro perigo crítico, especialmente para animais com reprodução lenta. Por exemplo, a África possui habitats ideais para os rinocerontes negros, mas os mitos relativos aos poderes de seus chifres fizeram com que sua população, nas duas últimas décadas do séc.XX, fosse reduzida pela metade no Zimbawbwe. No Brasil, diversas espécies de macacos, mamíferos e aves (micoleão dourado, ararinha azul...) estão ameaçados de extinção.

Mas, frente a estas previsões dos profetas trágicos, também há sinais de esperança. As pesquisas sobre animais, plantas e meioambiente aumentaram em muito nos últimos tempos. Receberam status de ciência: a ecologia, a genética, a biogeografia, as leis ambientais, o controle a doenças, a etologia animal, a crioconservação de embriões e sementes, a inseminação artificial, estudos sobre o DNA, a radiotelemetria (que permite acompanhar animais em seu ambiente selvagem) etc... Muitos zoológicos foram reorientados em sua função: preservam espécies raras, ou em extinção, oferecendo condições para sua reprodução.

A ONU prevê que o crescimento humano, provavelmente, se estabilizará em meados do século XXI, ao redor de 12 bilhões de indivíduos. Isto não por coerção, mas porque mais e mais pessoas se decidirão por ter menos filhos, em vistas a melhorias na saúde, de mais autonomia para as mulheres, de melhores políticas sociais, que garantam aos idosos menos dependência dos filhos... Grandemente contribuirá para esta nova atitude, frente à vida e o meioambiente, a educação da humanidade. Interessante, por exemplo, nesta questão de mentalidade, foi a reintrodução e a sobrevivência do Oryxs nas regiões arábicas. A sua extinção está sendo evitada porque os líderes religiosos muçulmanos decidiram pregar ao povo do Oriente Médio de que ALLAH (o Deus de Maomé) não quer mais que o Oryxs seja caçado e morto.

Minha convicção é de que o “fim do mundo” ainda vai demorar. Por isto, sem dúvida, todo anúncio apocalíptico de um próximo fim de mundo é puro charlatanismo. Isto não significa que eu saiba a que distância esteja o fim de “meu mundo”.

Inácio Strieder é professor de filosofia- Recife- PE.