A FILOSOFIA DA NATUREZA

A Filosofia da Natureza

Ana Maria Braun

A Filosofia da Natureza tem como principal ponto de abordagem os filósofos pré-socráticos, os quais discutiam os fenômenos naturais e de como todas as coisas haviam surgido na natureza. Esse pensamento ficou conhecido como filosofia primitiva devido as interrogações e dúvidas que pairavam entre eles. Um dos grandes pontos de discussão desse período era os quatro fenômenos da natureza, água, fogo, ar e terra. Dentre eles havia uma discussão de que tudo que continha na natureza estava ligado diretamente a esses quatro elementos. Daí a importância de identificar esse período de forma a entendê-lo diferentemente de outros estudos.

Esta expressão, diferente da tradicional "filosofia natural" que designa a física ou as ciências naturais em geral, foi empregada pela primeira vez por Kant para designar uma disciplina nitidamente distinta da ciência. Por filosofia da natureza ou metafísica da natureza, Kant entendeu a disciplina que "abarca todos os princípios racionais puros que derivem de conceitos simples (portanto com exclusão da matemática) do conhecimento teórico de todas as coisas" (Crít. R. Pura, Doutr. transc., do método, cap. III). Assim entendida, a filosofia da natureza é uma das duas partes fundamentais da filosofia (a outra é a filosofia moral) e compreende apenas os princípios a priori nos quais se baseia o conhecimento da natureza, que são os fundamentos da física e das outras ciências teóricas da natureza, mas não as leis, cuja descoberta, na própria natureza, cabe à física (Ibid., cf. Crít. do Juízo, Intr., I).

Depois de Kant a expressão filosofia da natureza passou a designar uma disciplina que estuda a natureza, mas não como ciência. Foi desse modo que Schelling interpretou a filosofia da natureza, dedicando-lhe a maior parte de sua atividade. Schelling julgava que a ciência baseada na investigação experimental nunca é realmente ciência. De fato, a natureza é a priori, no sentido de que suas manifestações individuais são determinadas de antemão por sua totalidade, ou seja, pela ideia de uma natureza em geral (Werke, I. EI, p. 279). Substancialmente, a tarefa da filosofia da natureza é mostrar que a natureza se resolve no espírito (System der transzendentalen Idealismus, § 1), e esse objetivo permaneceu inalterado em todas as suas manifestações no séc. XIX; nesse sentido, foi grande a influência de Hegel, que considerou a filosofia da natureza como uma das três grandes divisões da filosofia, sendo as outras duas a lógica e a filosofia do espírito. A lógica seria o sistema das determinações puras do pensamento. A filosofia da natureza e a filosofia do espírito seriam ambas uma lógica aplicada; à filosofia da natureza caberia a tarefa "de levar para a consciência as verdadeiras formas do conceito, imanentes nas coisas naturais" (System der Phil., ed. Glockner, I, pp. 87-88). A filosofia da natureza, assim entendida, nada mais é que a manipulação arbitrária de conceitos científicos, extraídos de seus contextos, com o fim de reduzi-los a determinações racionais ou pseudo-racionais; continuou assim inclusive quando quis escapar à formulação idealista e foi tratada do ponto de vista realista, como fez Nicolai Hartmann. A Filosofia, da natureza (1950), deste último, conserva a pretensão de entrever ou reconhecer o valor "metafísico" ou "ontológico" dos resultados da ciência. Deveria ser tarefa da filosofia da natureza a análise categorial dos conceitos científicos. Hartmann afirma que "o pensamento matemático não pode dizer o que são extensão, duração, força e massa. Neste ponto, insere-se a análise categorial: é com os portadores ou substratos da quantidade que se ligam os problemas metafísicos de fundo da filosofia da natureza" (Philosophie der Natur, p. 22).

Pode-se dizer que o último e mais restrito conceito de filosofia da natureza foi apresentado pelos componentes do Círculo de Viena, nos primórdios do empirismo lógico. M. Schlick considerava a filosofia da natureza como a análise do significado das proposições próprias das ciências naturais. "Desse ponto de vista" — dizia ele — "a filosofia da natureza não é uma ciência, mas uma atividade dirigida à consideração do significado das leis de natureza" (Philosophy of Nature, trad. in., 1949, p. 3). Neste conceito há ainda alguns vestígios da filosofia como "visão do mundo" ou síntese dos resultados mais gerais das ciências particulares. A metodologia contemporânea, ao contrário, tem acentuado cada vez mais a ilegitimidade de extrair as proposições científicas de seus contextos e de encontrar nelas significados que vão muito além do que o próprio contexto autoriza. Com essa limitação metodológica, a tarefa da filosofia da natureza é cortada pela raiz. E tudo aquilo que ela legitimamente compreendia, que eram os problemas concernentes à linguagem científica em geral e às linguagens das ciências individuais, as relações entre as ciências, o estudo comparativo de seus métodos, etc, hoje encontra lugar no seio da metodologia das ciências. [Abbagnano]

Segundo a divisão usual da filosofia é uma das partes da mesma, ao lado da lógica, da psicologia e da metafísica. Muitas vezes foi chamada cosmologia. Desde o desenvolvimento e especialização das ciências empíricas, a filosofia da natureza tornou-se problemática, não só nos seus resultados como, também, na sua própria existência e justificação como ciência. Não faltam porém, na atualidade, estudiosos que trataram de fundamentar uma nova filosofia da natureza, harmonizada com os resultados das ciências empíricas, especialmente com a ideia da evolução.

ANA MARIA BRAUN
Enviado por antonio marcelei bataioli em 02/09/2013
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