UM RIO AGONIZA
(*) Edimar Luz
O rio Guaribas, que já foi uma importante fonte de alimentos para a população do município de Picos através das plantações e da pesca artesanal, encontra-se hoje numa situação dramática.
Desolado, sob um sol causticante, ele segue inerme e resignado em meio a toneladas de poluentes; e muitos dos quais não são biodegradáveis, como, por exemplo, os plásticos e a maioria dos detergentes que, na verdade, vão-se acumulando no seu leito, diminuindo a capacidade de retenção de oxigênio das águas e, consequentemente, prejudicando a vida aquática.
Dezenas de espécies de peixes estão desaparecendo do nosso velho rio, o Guaribas; extinção também causada pela pesca indiscriminada e, sobretudo, por inúmeras substâncias nocivas impregnadas de veneno letal que são lançadas continuamente no rio, obstruindo o seu curso, por ser este um ponto vulnerável à ação destrutiva do homem.
A problemática da poluição dos rios, que é, indiscutivelmente, resultado da atuação inadequada do ser humano sobre o meio ambiente, vem gerando sérios problemas à humanidade, uma vez que as condições ambientais, como se sabe, são imprescindíveis para a vida, tanto no sentido biológico como social.
Percebe-se um intenso assoreamento no leito do Guaribas, mas, na realidade, uma dragagem não resolveria o problema de forma satisfatória, pois prejudicaria a já decadente produção de alho, que é, sem sombra de dúvida, uma importante fonte de riqueza para o município e, por esta razão, jamais deverá ser destruída. Picos que, graças a sua grandiosa produção agrícola (exceto nos anos em que as secas assolam o município), é considerado o Celeiro do Piauí.
O clima tem grande influência sobre os rios e, portanto, é verdade que a existência destes está estritamente relacionada com a quantidade de chuvas de uma determinada área. E o Guaribas, percorrendo uma região de clima semiárido, onde as chuvas são escassas e irregulares, não poderia deixar de ser um rio temporário. Por isso ele chega a secar parcial, ou totalmente durante o período de estiagem.
É importante ressaltar que, embora esporadicamente, ocorreram alguns cataclismos como, por exemplo, as enchentes de 1960 e 1974 entre outras, quando todo o seu vale e adjacências sofreram grandes e impetuosas inundações, causando evidentemente sérios prejuízos à população do município.
Em virtude de percorrer uma região pouco acidentada, o leito do rio Guaribas não apresenta grandes desníveis, ocasionando a ausência de reais cachoeiras e corredeiras. É um verdadeiro rio de planície, ou melhor, é um exemplo típico de rio de planície.
Em última instância, vale lembrar que é de capital importância um estudo acerca da despoluição do nosso rio para que possamos contemplar outra vez a beleza da transparência de suas águas cristalinas em todo o seu curso. Não se paga para sonhar!
* Este foi meu primeiro artigo publicado na imprensa picoense. Data: 31 de março de 1993.
Obs. Do meu livro MEMÓRIAS DO TEMPO. Todos os direitos reservados.
(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, memorialista, articulista, professor e sociólogo, formado em Recife – PE.
Picos - PI, 31 de março de 1993.