CORUJAS URBANAS
Sandra Fayad
Nas proximidades da Quadra onde moro em Brasília, é evidente a existência de grande quantidade de corujas pousando em uma ou outra árvore contorcida, dessas típicas do cerrado. Geralmente saltam e voam aos pares. Ao se sentirem ameaçadas ou incomodadas na área que elegeram para seu habitat metropolitano fazem um tremendo estardalhaço, às vezes ensurdecedor. É o que acontece quando saio para passear com o Skypie, meu cão da raça boxer. Ao nos aproximarmos do local onde as “meninas” estão descansando, elas começam a gritar e mudar de galhos ou de árvores em vôos rasantes sobre minha cabeça, por causa da presença do cão que, irritado, tenta enfrentá-las sem sucesso. As constantes repetições e a preocupação com a possibilidade de um dia ser bicada na cabeça, levou-me a realizar uma pesquisa sobre essa ave, além do que, no meu último aniversário, uma vizinha chegou com um souvenir em forma de coruja e sussurrou:
- Isto é para lhe dar sorte!
Dar sorte? Fiquei “boiando”...
A Coruja brasileira, também conhecida por coruja-buraqueira, assim denominada por viver em buracos no solo, é capaz de fazer sua própria cova, mas prefere viver à custa dos outros. Mora em buracos abandonados por tatus e demais animais que cavam suas casas. De porte pequeno, a Coruja-buraqueira possui cabeça redonda, sobrancelhas brancas, olhos amarelos, pernas longas. As fêmeas são mais escuras e menores que os machos. É uma ave americana, que ocorre de norte a sul do continente. No Brasil, seu habitat natural é o cerrado ou o campo, escolhendo de preferência ambientes calmos em galhos de árvores ou tocas onde cochila durante o dia e voa suavemente pela região.
Mas nada como viver em um grande centro urbano, hein? Por que isso acontece? Pelas mesmas razões de sempre: destruição do seu habitat natural pelo homem.
Com olhos grandes frontais como os do ser humano, a coruja-buraqueira tem, no entanto, a visão 100 vezes mais aguçada que a do homem. Para olhar um objeto ao seu redor gira o pescoço em um ângulo de até 270 graus, aumentando assim seu campo visual. Essa disposição frontal, que lhe permite ver ao mesmo tempo com ambos os olhos e giratória, proporciona à coruja uma visão binocular, ou seja, pode ver em três dimensões (altura, largura e profundidade). Para completar, possui também uma audição invejável, que lhe facilita a caça até de insetos durante o vôo.
Para que os filhotes nasçam confortavelmente, o casal de corujas, em sistema de revezamento, cava uma galeria horizontal usando os pés e o bico e, por fim, forra a cavidade do ninho com capim seco. As covas estarão prontas quando possuírem de um metro e meio a três metros de profundidade por trinta a noventa centímetros de largura. Além disso, o macho circunda a área com estrume para atrair insetos pelo cheiro, que servirão de alimento para a fêmea durante a incubação. Dos ovos chocados durante aproximadamente um mês em cada ninhada nascem de sete a nove corujinhas, que ocorre geralmente em março ou abril. É também tarefa do macho proteger os filhotes no ninho até completarem 14 dias, quando já podem ir para a entrada da cova aguardar a comida trazida pelos pais, mas somente após 45 dias é que adquirem autonomia para caçar. Sua alimentação é composta de insetos, roedores, répteis, anfíbios, escorpiões, cobras e pequenos pássaros, que a coruja caça preferencialmente ao amanhecer e ao anoitecer (vou evitar esses horários!).
Descobri que a principal característica da personalidade da coruja é a timidez. Com aquela barulheira que faz, imaginem se não fosse! Mas para caçar é silenciosa e voa de forma quase imperceptível em direção à presa, matando-a primeiro para devorá-la. Graças a isso, é considerada ave de rapina, ou seja, aquela que “rouba” a vida.
Aqui vem a parte que mais me interessa.
A observação das presas se dá no alto de árvores ou em mourões de cercas nos pastos e até durante o vôo silencioso, quando fazem uma varredura na área de caça. Quando um alvo é avistado a coruja voa silenciosamente até ele, mantendo sua cabeça em linha reta em direção ao alvo, quando então a joga para trás e empurra as garras para frente, a fim de prender seguramente sua caça. A força do impacto é violenta e certeira não dando chances à presa. Posteriormente a vítima é morta pela pressão do bico, num processo de abatimento de presas no solo (texto extraído de cuestasjardins).
Deus me livre! Já pensaram no risco que o Skypie e eu estamos correndo?
Considerada ave da sabedoria pelos gregos por causa de seus grandes olhos, adorada pelos índios, são os matutos que lhe atribuem o dom da “boa sorte” (é daqui que vem a frase da vizinha).
Outros povos já acreditam que seu canto causa azar e arrepios à noite, significando sinal de mau agouro. Há quem afirme que este canto é presságio de tragédia.
Das simpatias eleitas pela crendice, selecione estas:
Para eliminar a má sorte, é necessário jogar ferro ou pimentas fortes com vinagre no fogo e deixa-los queimar até o fim. Com isso a coruja queimará a língua e não piará, afastando a má sorte de sua vida para sempre. Mas se você já ouviu o pio da coruja, a única solução é tirar toda a roupa, virar pelo avesso e coloca-la novamente. E esta é para as mulheres: caso queiram que seus maridos sejam totalmente escravos e submissos a vocês, basta dar-lhes um prato de coruja assada para comer.
Uma das lendas indígenas sobre corujas conta que no começo do mundo só havia o dia. A noite estava adormecida nas profundezas do rio com Boiúna, a cobra grande que é senhora do rio.
Pois bem, a filha de Boiúna se casou com um rapaz de outra tribo, mas não dormia com ele porque nunca era noite. Um dia o rapaz resolveu mandar três amigos buscar a noite no fundo do rio, onde Boiúna entregou-lhes a noite dentro de um caroço de tucumã. Na volta, eles abriram o caroço deixando a noite escapar e tudo escureceu.
Mas a moça, que também queria dormir com o marido, resolveu separar a noite do dia. Para isso pegou um fio de seu cabelo, transformando-o em ave e disse:
- Tu serás cujubin, e cantaras sempre que a manhã estiver chegando.
Depois pegou outro fio, transformou-o em mais uma ave e falou:
- Tu serás coruja e cantarás sempre que a noite chegar.
E assim o dia passou a ter dois períodos.
Dentre seus predadores estão os beija-flores, que a expulsam das áreas onde preferem estar aos gritos e bicadas (que loucura deve ser!) e os gaviões, que a caçam até durante o dia, já que para ela se constitui em presa fácil para eles.
Na prática, a coruja é de importante utilidade para o homem, pois trabalha para a eliminação de pragas nas lavouras e controla a população de ratos e outros roedores que fluem para as cidades e no campo. Portanto, devemos cuidar da sua preservação, de preferência em seu habitat natural.
A origem da expressão Mãe-Coruja vem da garra com que a Coruja guarda o ninho onde se desenvolvem seus filhotes por semanas, sem descanso ou distração.
Conta a lenda que um dia apareceu um Gavião forte e ameaçador, que meteu medo na Mãe-Coruja. Esta então resolveu pedir-lhe para poupar seus filhotes, ao que o predador sensibilizado indagou:
- Como posso saber quais são os seus?
- São os mais bonitos dos ninhos. Poupe-os, por favor.
- Está bem – respondeu o Gavião. Vou atender ao seu pedido.
No entanto, na conferência do dia seguinte, a Coruja descobriu que o Gavião havia comido exatamente os seus filhotes.
Moral da história: para uma Mãe-Coruja seus filhos sempre são os mais bonitos, mesmo que aos olhos dos outros não sejam.
Fontes:
http://www.faunacps.cnpm.embrapa.br/ave/murucutu.html
http://www.zoologico.sp.gov.br/aves/corujas.htm
http://www.saudeanimal.com.br/coruja.htm e outras
Sandra Fayad
Nas proximidades da Quadra onde moro em Brasília, é evidente a existência de grande quantidade de corujas pousando em uma ou outra árvore contorcida, dessas típicas do cerrado. Geralmente saltam e voam aos pares. Ao se sentirem ameaçadas ou incomodadas na área que elegeram para seu habitat metropolitano fazem um tremendo estardalhaço, às vezes ensurdecedor. É o que acontece quando saio para passear com o Skypie, meu cão da raça boxer. Ao nos aproximarmos do local onde as “meninas” estão descansando, elas começam a gritar e mudar de galhos ou de árvores em vôos rasantes sobre minha cabeça, por causa da presença do cão que, irritado, tenta enfrentá-las sem sucesso. As constantes repetições e a preocupação com a possibilidade de um dia ser bicada na cabeça, levou-me a realizar uma pesquisa sobre essa ave, além do que, no meu último aniversário, uma vizinha chegou com um souvenir em forma de coruja e sussurrou:
- Isto é para lhe dar sorte!
Dar sorte? Fiquei “boiando”...
A Coruja brasileira, também conhecida por coruja-buraqueira, assim denominada por viver em buracos no solo, é capaz de fazer sua própria cova, mas prefere viver à custa dos outros. Mora em buracos abandonados por tatus e demais animais que cavam suas casas. De porte pequeno, a Coruja-buraqueira possui cabeça redonda, sobrancelhas brancas, olhos amarelos, pernas longas. As fêmeas são mais escuras e menores que os machos. É uma ave americana, que ocorre de norte a sul do continente. No Brasil, seu habitat natural é o cerrado ou o campo, escolhendo de preferência ambientes calmos em galhos de árvores ou tocas onde cochila durante o dia e voa suavemente pela região.
Mas nada como viver em um grande centro urbano, hein? Por que isso acontece? Pelas mesmas razões de sempre: destruição do seu habitat natural pelo homem.
Com olhos grandes frontais como os do ser humano, a coruja-buraqueira tem, no entanto, a visão 100 vezes mais aguçada que a do homem. Para olhar um objeto ao seu redor gira o pescoço em um ângulo de até 270 graus, aumentando assim seu campo visual. Essa disposição frontal, que lhe permite ver ao mesmo tempo com ambos os olhos e giratória, proporciona à coruja uma visão binocular, ou seja, pode ver em três dimensões (altura, largura e profundidade). Para completar, possui também uma audição invejável, que lhe facilita a caça até de insetos durante o vôo.
Para que os filhotes nasçam confortavelmente, o casal de corujas, em sistema de revezamento, cava uma galeria horizontal usando os pés e o bico e, por fim, forra a cavidade do ninho com capim seco. As covas estarão prontas quando possuírem de um metro e meio a três metros de profundidade por trinta a noventa centímetros de largura. Além disso, o macho circunda a área com estrume para atrair insetos pelo cheiro, que servirão de alimento para a fêmea durante a incubação. Dos ovos chocados durante aproximadamente um mês em cada ninhada nascem de sete a nove corujinhas, que ocorre geralmente em março ou abril. É também tarefa do macho proteger os filhotes no ninho até completarem 14 dias, quando já podem ir para a entrada da cova aguardar a comida trazida pelos pais, mas somente após 45 dias é que adquirem autonomia para caçar. Sua alimentação é composta de insetos, roedores, répteis, anfíbios, escorpiões, cobras e pequenos pássaros, que a coruja caça preferencialmente ao amanhecer e ao anoitecer (vou evitar esses horários!).
Descobri que a principal característica da personalidade da coruja é a timidez. Com aquela barulheira que faz, imaginem se não fosse! Mas para caçar é silenciosa e voa de forma quase imperceptível em direção à presa, matando-a primeiro para devorá-la. Graças a isso, é considerada ave de rapina, ou seja, aquela que “rouba” a vida.
Aqui vem a parte que mais me interessa.
A observação das presas se dá no alto de árvores ou em mourões de cercas nos pastos e até durante o vôo silencioso, quando fazem uma varredura na área de caça. Quando um alvo é avistado a coruja voa silenciosamente até ele, mantendo sua cabeça em linha reta em direção ao alvo, quando então a joga para trás e empurra as garras para frente, a fim de prender seguramente sua caça. A força do impacto é violenta e certeira não dando chances à presa. Posteriormente a vítima é morta pela pressão do bico, num processo de abatimento de presas no solo (texto extraído de cuestasjardins).
Deus me livre! Já pensaram no risco que o Skypie e eu estamos correndo?
Considerada ave da sabedoria pelos gregos por causa de seus grandes olhos, adorada pelos índios, são os matutos que lhe atribuem o dom da “boa sorte” (é daqui que vem a frase da vizinha).
Outros povos já acreditam que seu canto causa azar e arrepios à noite, significando sinal de mau agouro. Há quem afirme que este canto é presságio de tragédia.
Das simpatias eleitas pela crendice, selecione estas:
Para eliminar a má sorte, é necessário jogar ferro ou pimentas fortes com vinagre no fogo e deixa-los queimar até o fim. Com isso a coruja queimará a língua e não piará, afastando a má sorte de sua vida para sempre. Mas se você já ouviu o pio da coruja, a única solução é tirar toda a roupa, virar pelo avesso e coloca-la novamente. E esta é para as mulheres: caso queiram que seus maridos sejam totalmente escravos e submissos a vocês, basta dar-lhes um prato de coruja assada para comer.
Uma das lendas indígenas sobre corujas conta que no começo do mundo só havia o dia. A noite estava adormecida nas profundezas do rio com Boiúna, a cobra grande que é senhora do rio.
Pois bem, a filha de Boiúna se casou com um rapaz de outra tribo, mas não dormia com ele porque nunca era noite. Um dia o rapaz resolveu mandar três amigos buscar a noite no fundo do rio, onde Boiúna entregou-lhes a noite dentro de um caroço de tucumã. Na volta, eles abriram o caroço deixando a noite escapar e tudo escureceu.
Mas a moça, que também queria dormir com o marido, resolveu separar a noite do dia. Para isso pegou um fio de seu cabelo, transformando-o em ave e disse:
- Tu serás cujubin, e cantaras sempre que a manhã estiver chegando.
Depois pegou outro fio, transformou-o em mais uma ave e falou:
- Tu serás coruja e cantarás sempre que a noite chegar.
E assim o dia passou a ter dois períodos.
Dentre seus predadores estão os beija-flores, que a expulsam das áreas onde preferem estar aos gritos e bicadas (que loucura deve ser!) e os gaviões, que a caçam até durante o dia, já que para ela se constitui em presa fácil para eles.
Na prática, a coruja é de importante utilidade para o homem, pois trabalha para a eliminação de pragas nas lavouras e controla a população de ratos e outros roedores que fluem para as cidades e no campo. Portanto, devemos cuidar da sua preservação, de preferência em seu habitat natural.
A origem da expressão Mãe-Coruja vem da garra com que a Coruja guarda o ninho onde se desenvolvem seus filhotes por semanas, sem descanso ou distração.
Conta a lenda que um dia apareceu um Gavião forte e ameaçador, que meteu medo na Mãe-Coruja. Esta então resolveu pedir-lhe para poupar seus filhotes, ao que o predador sensibilizado indagou:
- Como posso saber quais são os seus?
- São os mais bonitos dos ninhos. Poupe-os, por favor.
- Está bem – respondeu o Gavião. Vou atender ao seu pedido.
No entanto, na conferência do dia seguinte, a Coruja descobriu que o Gavião havia comido exatamente os seus filhotes.
Moral da história: para uma Mãe-Coruja seus filhos sempre são os mais bonitos, mesmo que aos olhos dos outros não sejam.
Fontes:
http://www.faunacps.cnpm.embrapa.br/ave/murucutu.html
http://www.zoologico.sp.gov.br/aves/corujas.htm
http://www.saudeanimal.com.br/coruja.htm e outras