PEDRA CARNEIRA

Quando cheguei para a tão querida vila de Anutiba, cerca de onze anos, algo me chamou a atenção a sua volta. Uma paisagem natural, com algumas montanhas e algumas rochas frondosas. Dentre elas, uma pedra com formato animalesco que alguém me sussurrou, informando-me que tal pedra tinha e tem o nome de “Carneira”, devido ao seu formato, como se fora uma grande cabra, assentada entre pastos e rochas, num contínuo entrecortes de pedreiras, formando uma pequenina cordilheira.

Mas, o formato animalesco também tem algo dantesco em sua estrutura: é que ela se apresenta acéfala. A parte superior não apresenta a cabeça, para completar cem por cento a idéia de uma cabra pastoril.

O nome de “carneira” deve ter advindo, da autoria e criatividade de alguém, mesmo sem considerar a falta da parte superior – a cabeça, como já explicitado. Não importa, o que fica é a idéia, a ilusão de ótica, a imaginação fantasiosa e, porque não dizer, a fama de tão festejada pedra.

Tudo na vida tem um nome. A qualquer pequena erva o homem campesino facilmente declina seu nome. Basta que se requeira dele. Algum paisagista ou amante da natureza do passado foi feliz em denominar aquela rocha disforme ao redor da pequenina vila de Santa Angélica e próximo também da vila de Anutiba, (ambos os distritos são pertencentes ao município e comarca de Alegre-ES) com um nome que a princípio espanta, mas depois se acostuma com a idéia.

E, por falar em forma dantesca, tal como se apresenta a mencionada pedra, (pedra não, rocha mesmo, imensa rocha!) como se fora uma carneira sem cabeça, vem-nos à imaginação a falta de “cabeça” ou de líder que faz a uma sociedade. Lembra o caos e a anarquia instalados, onde impera a balbúrdia e quando os dias vindouros nada prometem. Isto (a falta de líder, pode ocorrer em qualquer sociedade ou grupo). Não quero com isso trazer à baila assuntos de políticas ou com segundas intenções ferir alguém, não é isso. Meu objetivo é puramente moral e literal.

Outra curiosidade em torno do que vejo na “carneira” é sua posição. Muitas rochas se apresentam pontiagudas, cujas extremidades ou seus ápices, normalmente apontam para o Eterno ou para o infinito, lembrando o Criador de todas as coisas. Porém, a “carneira” apresenta-se inclinada, em sua parte dianteira e frontal. O que é isso? Qual a lição nos vem à mente? A do desânimo. A lição de alguém que perdeu a direção. Ou também de alguém que não anda no caminho reto, refestelando-se no abismo da clandestinidade moral ou da ilegalidade. (Mas, isso é só imaginação dentro da realidade de uma anticultura ou cultura inútil!).

Mas, felizmente, vejo na carneira algo de bom, de feliz e de aproveitável: é que de vários pontos, do meu município (Muniz Freire-ES) e de outros lugares estratégicos, muitos até, eu consigo contemplar a “carneira”. Pode ser do mais longínquo ponto, onde nem imagino poder contemplá-la, eu a contemplo! Isto me encanta! Fico deslumbrado por saber que a pedra carneira eu a posso ver de inúmeros lugares altos ou planos. Qual seria então a lição? A lição da precaução, pois o cristão pode e precisa ser visto de todos os ângulos e de qualquer lugar. Daí sua responsabilidade que carrega nos ombros de testemunhar em todos os lugares, porque é visto e conhecido de todos. Tem razão o apóstolo dos gentios – o cristão “é uma carta aberta, conhecida e lida por todos os homens”.

Estas e muitas outras lições a carneira me ensina e sempre me ensinou, todas as vezes que a contemplo.

MF, 02 DE DEZEMBRO DE 1998 - Fernandinho do Fórum