Donos da terra

“Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas do nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é a nossa mãe. Tudo o que acontecer com a terra acontecerá aos filhos da terra.”

Estas palavras foram extraídas da Carta de Seatle, um documento escrito por um chefe índio em 1854, respondendo à proposta do presidente dos Estados Unidos, de comprar grande parte do território de sua tribo. Apesar de passados tantos anos, a Carta de Seatle ainda é considerada um dos mais belos pronunciamentos feitos em defesa do meio ambiente.

Hoje, quando contemplamos o céu cinzento no horizonte, escurecido por toneladas de pó, fumaça e substâncias químicas despejadas na atmosfera pelas chaminés de nossas fábricas, quando admiramos o crepúsculo de inverno mais vermelho e bonito (devido à grande quantidade de enxofre em suspensão), não vemos senão uma denúncia do alto índice da poluição que já causamos. E quando milhões de bolhas alvíssimas cobrem de espuma as águas turvas dos nossos rios, constatamos, estarrecidos, o resultado de milhares de litros de dejetos e detergentes que aos poucos vão tornando sem vida a própria fonte de nossas vidas. O que assistimos é a confirmação das palavras de um sábio que, aos olhos da nossa civilização, foi um bárbaro, um selvagem! Entretanto nós, os civilizados, doutrinados e senhores da sofisticação tecnológica, não soubemos amar a terra e respeitá-la como nossa mãe verdadeira que é. A despeito de sua destruição, em nome do progresso, poluímos, desmatamos, queimamos e extinguimos outros seres que conosco habitavam este paraíso sem par no Universo.

“Tudo o que acontece à terra, acontecerá aos filhos da terra” - sentenciou Seatle! Então, o que vemos? Exploração desenfreada dos recursos naturais, poluição, florestas dizimadas! Não se respeitaram sequer as margens dos rios, e a resposta não tardou: erosões de proporções alarmantes, secas, desertificação, assoreamento de cursos d’água, enchentes! Das enchentes culpamos “El Niño”. E de “El Niño”, a quem culparemos?

Vamos rezar para que Deus tenha pena de nossas desgraças. A oração é um consolo e nos traz novas esperanças. Também, vamos torcer para que Ele, em sua bondade, não se tenha cansado de nossas mentiras. Mentimos e ofendemos hoje para nos arrependermos amanhã! É sempre assim.

Deus é bom, é misericordioso, mas a falsidade dos humanos é tão grande, que mesmo Ele, às vezes, se aborrece e, tal pai que, cansado de ver a psicologia falhar na educação do filho, recorre à palmada, que, mesmo sendo uma violência, funciona. Não seriam, então, essas palmadas em forma de raios, vendavais, enchentes, terremotos, secas, etc., uma mostra do que poderá ocorrer, se não tomarmos o caminho certo?

O índio Seatle não viveu para assistir à confirmação das suas palavras, mas sua lição de amor e respeito à terra, nossa mãe, está por aí, nas coisas simples da natureza  coisas que temos o dever de amar e respeitar como único legado que deixaremos aos nossos filhos. Caso contrário, mandaremos tudo para o céu, em forma de fumaça e pó, e pagaremos nossos pecados no inferno que, insanamente, estamos construindo!

Enquanto os “cérebros” do mundo não se convencerem de que são filhos da terra e não donos dela, muitas catástrofes virão e, quem sabe, um dia, quando o arrependimento vier, não seja tarde demais?