S.O.S RIO SÃO FRANCISCO
Aliado ao clima seco e fertilidade do solo, o desenvolvimento de técnicas de irrigação das águas do Rio São Francisco nas últimas décadas permitiu a boa e rápida evolução no cultivo de uva, manga, goiaba, coco, banana, melancia e outras frutas tropicais, que fizeram de Petrolina o segundo centro vinícola brasileiro e a maior exportadora de frutas do país, tendo como receptores de sua produção os países da América do Norte, continente europeu e Japão, no sudeste asiático.
O principal meio de transporte internacional destas cargas dá-se através da empresa Cargolux, de Luxemburgo, que devido a ampliação do aeroporto de Petrolina, hoje um dos maiores de Pernambuco, com padrões internacionais e a segunda maior pista do nordeste, permite as freqüentes aterrissagens e decolagens de aeronaves de grande porte.
Como se pode ver, o Rio São Francisco, carinhosamente apelidado de “Velho Chico”, com nascente na Serra da Canastra, Minas Gerais, é a artéria principal de Petrolina, além de ser a divisa natural dos Estados da Bahia, Sergipe e Alagoas.
O fato é que o desmatamento, a poluição urbana, industrial, mineral e agrícola, que além dos agrotóxicos consome água demais, tem sepultado aos poucos o nosso Rio-mar, e consequentemente a condição de vida da população nordestina, já que nos últimos 40 anos o São Francisco perdeu cerca de 40% do seu volume de água, enquanto o Rio Amazonas perdeu 3,1% e outros rios brasileiros apresentam elevação na vazão.
A maior bacia hidrográfica inteiramente brasileira, terceira do país, produz mais de 10.000 megawatts de energia em suas 7 usinas hidrelétricas, que comprometem 80% de sua vazão e já desalojou 140 mil pessoas.
O reservatório de Sobradinho operou em 2001 com 5% de sua capacidade, e em 2007 houve uma contaminação com algas azuis (cianobactérias) vindas do Rio das Velhas, Belo Horizonte, e nos dando a certeza de que em épocas de pouca chuva o São Francisco não consegue mais diluir seus poluentes.
Outro fator demasiadamente preocupante é o plano de transposição de suas águas. Um projeto cheio de incertezas quanto aos seus beneficiários, mas ao mesmo tempo carregado de bons investimentos em marketing e visível impacto ambiental. O projeto leva água aos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, mas não distribui à população, o que em breve será motivo da insatisfação total deste povo.
João Suassuna, engenheiro agrônomo e especialista no projeto que transpõe o Velho Chico acredita que tal plano não apenas engana o povo, mas que também deve acelerar o processo de desertificação do semi-árido nordestino. “O povo está sendo iludido, não terá acesso a uma gota sequer d’água da transposição. Não está claro no projeto...”. Outro ponto muito frágil é o projeto de revitalização que não dá garantias de tratamento dos esgotos coletados na cidade antes de serem jogados no rio.
Uma boa alternativa à transposição seria o abastecimento de municípios com até 5 mil habitantes com água das 70 mil represas existentes no nordeste, ou de regiões sedimentares onde se é possível perfurar poços e obter água do subsolo, o que abasteceria 5 vezes mais pessoas pela metade dos investimentos, por exemplo.
Como se não bastasse, um relato feito pelo juiz federal e professor Carlos Rebelo Junior, na Conferência Internacional sobre Sinergias Ambientais entre as Águas Continentais e Marítimas, realizado em Buenos Aires, revelou que o Oceano Atlântico ao invés de receber as águas do Rio São Francisco tem despejado nele as suas, salinizando assim o Velho Chico, que por sua vez necessita de urgente reversão deste processo, sob risco de aumento excessivo em sua destruição.
Assim sendo, vivemos sob uma ameaça de perda do status que levamos décadas para alcançar. Os maiores produtores e exportadores agrícolas do país podem, em breve, perder a matéria-prima principal para o seu sucesso: as águas do Velho Chico. E é muito grave a falta de comprometimento político e social perante esta causa. O Rio São Francisco é a vida de quem o destrói!