ONÇA, A LATIFUNDIÁRIA
“Em deslua, no escuro feito, é um escurão que pêia e péga. É noite de muito volume. O senhor já viu onça: boca de lado e lado, raivável, pelos filhos ?”
(João Guimarães Rosa, em Grandes Sertões, Veredas)
Assim como nossos irmãos índios, ela é americana. No princípio, habitava o Continente, desde o sul dos Estados Unidos até o Uruguai. Também foi sendo dizimada e acuada pelo homem branco. Seu habitat atual está reduzido basicamente ao Pantanal, Região Amazônica, alguns pontos da Mata Atlântica (ES, MG, SP, PR) e Parques de Preservação Ambiental ou confinada em Zoológicos.
Classificada no reino animal como felino mamífero e carnívoro, é o maior dos predadores da nossa fauna. Com a denominação científica de Panthera onca, a Onça Pintada se distingue das demais subespécies (Onça Parda ou Suçuarana, Jaguarundi e Jaguatirica), apenas nas cores dos pêlos e no tamanho, sendo que é a maior e a mais frequente delas. De aparência robusta, com pernas relativamente curtas e cabeça arredondada, sua pelagem apresenta uma tonalidade amarela com manchas pretas em forma de roseta, com exceção da região ventral, que é branca. É dotada de grande força muscular, sendo sua mordida considerada a maior dentre os felinos. A característica marcante dessa espécie é que ela não mia como os felinos. Emite uma série de roncos muito fortes que são chamados de esturros.
A Onça Pintada, pesando entre 110 e 150 quilos e medindo em torno de 1,85 m, vive cerca de 20 anos, tem gestação média de 101 dias e produz de um a quatro filhotes por gestação.
Ela preda 85 espécies animais diferentes e está no topo da cadeia alimentar. Possui mandíbulas fortes e é o único felino que mata suas presas perfurando o crânio com os caninos, podendo até rachar cascos de tartaruga. Tem como cardápio preferido capivaras, veados, porcos do mato, tatus, cotias e pacas. Em cativeiro, é alimentada com coração, músculo e fígado de boi.
Não encontrei estatísticas recentes sobre o número de onças existentes no Brasil, mas, em 1994, Peter Crawshaw, brasileiro descendente de ingleses, pesquisador e idealizador da ONG Pró-Carnívoros e um dos maiores especialistas em felinos no mundo, estimou que a população existente no Brasil estava em torno de 5.000 animais, o que ainda não caracterizava espécie em extinção. Sabe-se que, de lá para cá, a situação piorou, levando o IBAMA a incluí-la na lista vermelha.
A preocupação em livrar as onças do desaparecimento, levou Peter Crawshaw ao pioneirismo no uso de radio-telemetria, método que implica na captura de animais, com o uso de cães adequados ao trabalho. É colocado um transmissor na onça para ter sua localização rastreada. Essa técnica vem sendo adotada na Fazenda Caiman, no Mato Grosso do Sul. O projeto conta atualmente com um canil “com fins exclusivamente científicos”, o que permite que a captura das onças seja feita sem a necessidade de recorrer aos caçadores. A experiência conta, ainda, com a colocação de armadilhas fotográficas, para estudar o comportamento da espécie. Quando as capturas são realizadas com sucesso, as onças são medidas e pesadas, são feitos registros fotográficos de sua arcada dentária, além de coletas de sangue e sêmem. Por fim, coloca-se nelas uma coleira equipada com um transmissor de rádio, que possui uma frequência específica. A partir daí, pode ser feito o monitoramento diário dos movimentos registrados em GPS e marcadas em mapas localizados na base do projeto.
Felipe Süssekind, também pesquisador, que visitou o local em 2006, relata: “O que me pareceu interessante em relação aos projetos de pesquisa com onças, foi justamente a presença humana na paisagem. Estudos com animais selvagens na natureza (como dizem os biólogos) costumam ser feitos em parques nacionais ou reservas biológicas; isto é, lugares onde esses animais estão idealmente isolados do contato humano. Os projetos do Pantanal, por sua vez, ao problematizarem a relação entre os diversos agentes que constituem o mundo da onça, trazem para dentro da pesquisa diversos atores humanos e humanizados: fazendeiros, caçadores, peões, gado, cães, turistas...”, ou seja, está havendo mudanças positivas em relação à preservação do animal.
Seu habitat é preferencialmente matas próximas a áreas inundadas, mas também anda pelos campos abertos. A habilidade para nadar está relacionada com a proximidade da água. Desta forma, as onças que habitam o Pantanal e áreas de várzea nadam melhor que as habitantes de florestas fechadas.
O desmatamento cada vez mais intenso para uso agropecuário e exploração madeireira, bem como a caça para a obtenção da pele ou com o intuito de proteger as criações de gado, também contribuíram para a diminuição de suas populações.
‘‘ Os fazendeiros derrubam o cerrado, habitat natural das onças, desonçam a região, colocam milhares de cabeça de gado, mas quando uma onça come um boi, vira um escândalo’’, afirma Jader Marinho Filho, professor da Universidade de Brasília.
Temida e considerada perigosa, a onça só se aproxima dos animais domésticos quando as alterações ambientais a impedem de se alimentar através de seu cardápio natural preferido. Seu caminhar cauteloso e seus movimentos silenciosos, permitem-lhe botes certeiros sobre a presa, não lhe dando chance de escapar. Pode ficar até uma semana sem alimentos. No entanto é capaz de devorar até vinte quilos de carne de uma só vez.
Para evitar que a população se extinga completamente é fundamental proporcionar-lhe espaço onde possa caçar e se reproduzir. Em áreas pequenas esses animais sofrem degradação genética, resultante dos cruzamentos repetidos entre parentes, gerando filhotes defeituosos, frágeis e desprovidos de resistência a doenças.
Agora pasmem! Animal considerado territorial, cada onça necessita ter, para seu uso exclusivo, cerca de 50 km², equivalente a um círculo de 8 km de diâmetro, onde vive solitariamente. Esse espaço só é compartilhado, em épocas de acasalamento, com duas ou três fêmeas, individualmente e em locais diferentes, onde os territórios da fêmeas formam pequenas áreas de intercessão periférica com o território central (o do macho). É nesses locais específicos que o casal se encontra para namorar, permanecendo juntos apenas por alguns dias. Ocorrida a fertilização, retornam cada qual para seus territórios individuais, que possuem áreas de mesmo tamanho. Em seguida, a fêmea se encarrega sozinha da gestação e dos cuidados com os filhotes, que nascem cegos e só abrem os olhos depois do 13º dia. Mamam até aos seis meses (a onça é bem diferente da Ema). Aos dois anos, já instruídos e fortalecidos, partem para demarcar seus próprios territórios. Ao que tudo indica, nem chegam a conviver com o pai. A maturidade sexual é alcançada mais cedo pelas as jovens fêmeas – entre dois anos e dois anos e meio. Para os machos só chega entre os três e os quatro anos.
Quanto à personalidade da onça, reporto-me às conclusões de Georges Leroy, em seu livro Cartas Sobre Os Animais, no qual afirma que os carnívoros apresentam maior desenvolvimento da inteligência. “A natureza lhes deu sentidos mais aguçados e muita força e agilidade; isso porque, para se nutrir, torna-se necessário comportar-se de forma competitiva e muitas vezes hostil; caso contrário, morreria de fome”.
Outra característica comum aos carnívoros por ele descrita é que “não vivem em sociedade; sua voracidade natural e a falta de presa os obriga a se distanciar uns dos outros... se estabelecem com suas famílias a uma distância proporcional à extensão do território que lhes é necessário para viver...Eles não são excitados senão pela atenção às necessidades do apetite, pelas do amor e pela necessidade de evitar o perigo”.
Desde criança, tenho ouvido muitas lendas e histórias fabulosas de boiadeiros e caçadores sobre onças. Meu amigo Edson Borges, que já tocou boiada, ao tomar conhecimento de que eu iria escrever sobre o assunto, relatou-me algumas de suas experiências com o temido animal. Disse-me que já levou carreira de onça, mas por sorte o peão da fazenda o salvou, com um tiro certeiro na testa do felino. Quanto ao gado, contou duas situações interessantes: uma é que, ao perceber a ameaça de ataque da onça, o boi reúne imediatamente todas as vacas em círculo fechado e fica ao redor urrando. Essa providência faz com que a onça desista e acabe se retirando; outra é que, se uma onça cruzar a estrada por onde irá passar a boiada, ao atingir o local exato, todos os animais “empacam”, provocando um enorme trabalho aos boiadeiros para fazê-la cruzar a linha invisível. Ele acredita que é porque a boiada sente o cheiro do rastro deixado pela onça.
Vejam esta história contada por um peão pantaneiro:
O sujeito chamou um caçador para ir atrás da onça. Chegando no mato, ficou esperando enquanto os cachorros correram na batida da onça. Mas a onça rodeou e voltou para trás de onde ele estava esperando, subindo numa árvore alta. Logo depois, o sujeito ouviu o barulho do caçador voltando com os cachorros, mas achou que fosse a onça e subiu também na árvore. Só que ela já estava lá em cima e ele não viu. Quando o caçador chegou, falou:
– Não precisa pegar ela sozinho não, deixa que eu atiro aqui de baixo.
Nisso, o cabra viu a onça em cima dele e despencou lá de cima, rolando no chão feito um quati. A cachorrada foi então para cima, achando que era um bicho, e acabou com ele. (Coitado !!!)
Para amenizar e finalizar, vai aqui uma história mais leve, que há muitos anos ouvi de um caçador, durante uma viagem de trem entre Brasília e Catalão:
“Certa vez um caçador, que tinha um cão muito fiel, saiu com ele para caçar. Lá no meio da mata apareceu uma onça pintada. O caçador atirou, atirou, mas não conseguia acertar a onça. Até que a danada subiu em uma árvore. Nesse momento havia acabado a munição. Então o caçador ordenou ao cão que ficasse ali vigiando a onça, até que ele retornasse da casa, onde iria recarregar a espingarda. Acontece que o caçador caiu doente e não pode mais voltar. Dois anos depois, já curado, retornou ao local e encontrou duas ossadas: a da onça em cima da árvore e a do cachorro embaixo, na posição de alerta”.
És uma das mais belas e elegantes feras,
Rainha das matas e do cerrado.
Voraz, aterrorizas até os teus iguais,
Que caças na terra, nas árvores, a nado,
Dominando-os com golpes mortais.
Se teus desejos te levam ao amor;
Depois dele é dos filhotes tua atenção.
És respeitada por homens e animais,
Que se puderem correm como avião
Em disparada, sem olhar pra trás.
Incluíram-te na lista dos “em extinção”
Mas em extinção, na verdade, já estão
Os que te extinguem sem piedade.
Esses - os que se dizem civilizados,
Voaram sem rota entre a mata e a cidade,
Vestindo sonhos e ideais ultrapassados.
Classificada no reino animal como felino mamífero e carnívoro, é o maior dos predadores da nossa fauna. Com a denominação científica de Panthera onca, a Onça Pintada se distingue das demais subespécies (Onça Parda ou Suçuarana, Jaguarundi e Jaguatirica), apenas nas cores dos pêlos e no tamanho, sendo que é a maior e a mais frequente delas. De aparência robusta, com pernas relativamente curtas e cabeça arredondada, sua pelagem apresenta uma tonalidade amarela com manchas pretas em forma de roseta, com exceção da região ventral, que é branca. É dotada de grande força muscular, sendo sua mordida considerada a maior dentre os felinos. A característica marcante dessa espécie é que ela não mia como os felinos. Emite uma série de roncos muito fortes que são chamados de esturros.
A Onça Pintada, pesando entre 110 e 150 quilos e medindo em torno de 1,85 m, vive cerca de 20 anos, tem gestação média de 101 dias e produz de um a quatro filhotes por gestação.
Ela preda 85 espécies animais diferentes e está no topo da cadeia alimentar. Possui mandíbulas fortes e é o único felino que mata suas presas perfurando o crânio com os caninos, podendo até rachar cascos de tartaruga. Tem como cardápio preferido capivaras, veados, porcos do mato, tatus, cotias e pacas. Em cativeiro, é alimentada com coração, músculo e fígado de boi.
Não encontrei estatísticas recentes sobre o número de onças existentes no Brasil, mas, em 1994, Peter Crawshaw, brasileiro descendente de ingleses, pesquisador e idealizador da ONG Pró-Carnívoros e um dos maiores especialistas em felinos no mundo, estimou que a população existente no Brasil estava em torno de 5.000 animais, o que ainda não caracterizava espécie em extinção. Sabe-se que, de lá para cá, a situação piorou, levando o IBAMA a incluí-la na lista vermelha.
A preocupação em livrar as onças do desaparecimento, levou Peter Crawshaw ao pioneirismo no uso de radio-telemetria, método que implica na captura de animais, com o uso de cães adequados ao trabalho. É colocado um transmissor na onça para ter sua localização rastreada. Essa técnica vem sendo adotada na Fazenda Caiman, no Mato Grosso do Sul. O projeto conta atualmente com um canil “com fins exclusivamente científicos”, o que permite que a captura das onças seja feita sem a necessidade de recorrer aos caçadores. A experiência conta, ainda, com a colocação de armadilhas fotográficas, para estudar o comportamento da espécie. Quando as capturas são realizadas com sucesso, as onças são medidas e pesadas, são feitos registros fotográficos de sua arcada dentária, além de coletas de sangue e sêmem. Por fim, coloca-se nelas uma coleira equipada com um transmissor de rádio, que possui uma frequência específica. A partir daí, pode ser feito o monitoramento diário dos movimentos registrados em GPS e marcadas em mapas localizados na base do projeto.
Felipe Süssekind, também pesquisador, que visitou o local em 2006, relata: “O que me pareceu interessante em relação aos projetos de pesquisa com onças, foi justamente a presença humana na paisagem. Estudos com animais selvagens na natureza (como dizem os biólogos) costumam ser feitos em parques nacionais ou reservas biológicas; isto é, lugares onde esses animais estão idealmente isolados do contato humano. Os projetos do Pantanal, por sua vez, ao problematizarem a relação entre os diversos agentes que constituem o mundo da onça, trazem para dentro da pesquisa diversos atores humanos e humanizados: fazendeiros, caçadores, peões, gado, cães, turistas...”, ou seja, está havendo mudanças positivas em relação à preservação do animal.
Seu habitat é preferencialmente matas próximas a áreas inundadas, mas também anda pelos campos abertos. A habilidade para nadar está relacionada com a proximidade da água. Desta forma, as onças que habitam o Pantanal e áreas de várzea nadam melhor que as habitantes de florestas fechadas.
O desmatamento cada vez mais intenso para uso agropecuário e exploração madeireira, bem como a caça para a obtenção da pele ou com o intuito de proteger as criações de gado, também contribuíram para a diminuição de suas populações.
‘‘ Os fazendeiros derrubam o cerrado, habitat natural das onças, desonçam a região, colocam milhares de cabeça de gado, mas quando uma onça come um boi, vira um escândalo’’, afirma Jader Marinho Filho, professor da Universidade de Brasília.
Temida e considerada perigosa, a onça só se aproxima dos animais domésticos quando as alterações ambientais a impedem de se alimentar através de seu cardápio natural preferido. Seu caminhar cauteloso e seus movimentos silenciosos, permitem-lhe botes certeiros sobre a presa, não lhe dando chance de escapar. Pode ficar até uma semana sem alimentos. No entanto é capaz de devorar até vinte quilos de carne de uma só vez.
Para evitar que a população se extinga completamente é fundamental proporcionar-lhe espaço onde possa caçar e se reproduzir. Em áreas pequenas esses animais sofrem degradação genética, resultante dos cruzamentos repetidos entre parentes, gerando filhotes defeituosos, frágeis e desprovidos de resistência a doenças.
Agora pasmem! Animal considerado territorial, cada onça necessita ter, para seu uso exclusivo, cerca de 50 km², equivalente a um círculo de 8 km de diâmetro, onde vive solitariamente. Esse espaço só é compartilhado, em épocas de acasalamento, com duas ou três fêmeas, individualmente e em locais diferentes, onde os territórios da fêmeas formam pequenas áreas de intercessão periférica com o território central (o do macho). É nesses locais específicos que o casal se encontra para namorar, permanecendo juntos apenas por alguns dias. Ocorrida a fertilização, retornam cada qual para seus territórios individuais, que possuem áreas de mesmo tamanho. Em seguida, a fêmea se encarrega sozinha da gestação e dos cuidados com os filhotes, que nascem cegos e só abrem os olhos depois do 13º dia. Mamam até aos seis meses (a onça é bem diferente da Ema). Aos dois anos, já instruídos e fortalecidos, partem para demarcar seus próprios territórios. Ao que tudo indica, nem chegam a conviver com o pai. A maturidade sexual é alcançada mais cedo pelas as jovens fêmeas – entre dois anos e dois anos e meio. Para os machos só chega entre os três e os quatro anos.
Quanto à personalidade da onça, reporto-me às conclusões de Georges Leroy, em seu livro Cartas Sobre Os Animais, no qual afirma que os carnívoros apresentam maior desenvolvimento da inteligência. “A natureza lhes deu sentidos mais aguçados e muita força e agilidade; isso porque, para se nutrir, torna-se necessário comportar-se de forma competitiva e muitas vezes hostil; caso contrário, morreria de fome”.
Outra característica comum aos carnívoros por ele descrita é que “não vivem em sociedade; sua voracidade natural e a falta de presa os obriga a se distanciar uns dos outros... se estabelecem com suas famílias a uma distância proporcional à extensão do território que lhes é necessário para viver...Eles não são excitados senão pela atenção às necessidades do apetite, pelas do amor e pela necessidade de evitar o perigo”.
Desde criança, tenho ouvido muitas lendas e histórias fabulosas de boiadeiros e caçadores sobre onças. Meu amigo Edson Borges, que já tocou boiada, ao tomar conhecimento de que eu iria escrever sobre o assunto, relatou-me algumas de suas experiências com o temido animal. Disse-me que já levou carreira de onça, mas por sorte o peão da fazenda o salvou, com um tiro certeiro na testa do felino. Quanto ao gado, contou duas situações interessantes: uma é que, ao perceber a ameaça de ataque da onça, o boi reúne imediatamente todas as vacas em círculo fechado e fica ao redor urrando. Essa providência faz com que a onça desista e acabe se retirando; outra é que, se uma onça cruzar a estrada por onde irá passar a boiada, ao atingir o local exato, todos os animais “empacam”, provocando um enorme trabalho aos boiadeiros para fazê-la cruzar a linha invisível. Ele acredita que é porque a boiada sente o cheiro do rastro deixado pela onça.
Vejam esta história contada por um peão pantaneiro:
O sujeito chamou um caçador para ir atrás da onça. Chegando no mato, ficou esperando enquanto os cachorros correram na batida da onça. Mas a onça rodeou e voltou para trás de onde ele estava esperando, subindo numa árvore alta. Logo depois, o sujeito ouviu o barulho do caçador voltando com os cachorros, mas achou que fosse a onça e subiu também na árvore. Só que ela já estava lá em cima e ele não viu. Quando o caçador chegou, falou:
– Não precisa pegar ela sozinho não, deixa que eu atiro aqui de baixo.
Nisso, o cabra viu a onça em cima dele e despencou lá de cima, rolando no chão feito um quati. A cachorrada foi então para cima, achando que era um bicho, e acabou com ele. (Coitado !!!)
Para amenizar e finalizar, vai aqui uma história mais leve, que há muitos anos ouvi de um caçador, durante uma viagem de trem entre Brasília e Catalão:
“Certa vez um caçador, que tinha um cão muito fiel, saiu com ele para caçar. Lá no meio da mata apareceu uma onça pintada. O caçador atirou, atirou, mas não conseguia acertar a onça. Até que a danada subiu em uma árvore. Nesse momento havia acabado a munição. Então o caçador ordenou ao cão que ficasse ali vigiando a onça, até que ele retornasse da casa, onde iria recarregar a espingarda. Acontece que o caçador caiu doente e não pode mais voltar. Dois anos depois, já curado, retornou ao local e encontrou duas ossadas: a da onça em cima da árvore e a do cachorro embaixo, na posição de alerta”.
És uma das mais belas e elegantes feras,
Rainha das matas e do cerrado.
Voraz, aterrorizas até os teus iguais,
Que caças na terra, nas árvores, a nado,
Dominando-os com golpes mortais.
Se teus desejos te levam ao amor;
Depois dele é dos filhotes tua atenção.
És respeitada por homens e animais,
Que se puderem correm como avião
Em disparada, sem olhar pra trás.
Incluíram-te na lista dos “em extinção”
Mas em extinção, na verdade, já estão
Os que te extinguem sem piedade.
Esses - os que se dizem civilizados,
Voaram sem rota entre a mata e a cidade,
Vestindo sonhos e ideais ultrapassados.
Fontes:
-Relatório de Felipe Süssekind, maio/2006: http://amazone.wikia.com
- http://www.brazilnature.com/fauna/onca.html
- http://www.ambientebrasil.com.br/
- Revista Super Interessante – Dez/1994
- Livro: Cartas sobre os animais, de Charles Georges Leroy, ed. 1990
- Depoimento verbal de Edson A. Borges – Brasília (DF)