Existe realmente uma natureza "natural"?
Salvem a natureza!. Natureza?. Como definimos aquilo que é "natural"?. Existe de fato uma natureza "natural"?. Cheguei a conclusão de que Slavoj Zizek (Filósofo) está coberto de razão na sua análise sobre a Ecologia, ao dizer que "A Ecologia irá se transformar, se é que já não se transformou, no ÓPIO DO POVO", sobretudo o pensamento ecológico tradicional, que nos evidência através de perspectiva negativista (NÃO FAÇA ISSO, NÃO FAÇA AQUILO), sobre uma série de problemas, a exemplo de: aquecimento global, derretimento de geleiras, desertificações, lixo espacial, deslizamentos em encostas, aumento de lixões, florestas em chamas, animais em extinção, tsunamis entre outros. E o que é mais problemático nisso tudo, é a ausência de compreensão de certos fenômenos e conceitos sobre o meio ambiente e a natureza "natural". Ora, como posso pensar o homem fora do seu ambiente "natural"?. Como podemos imaginá-”lo vivendo sem interação com a natureza”?. Somos naturalmente produtores de cultura, e nos desenvolvemos de múltiplas formas no tocante a nossa (des)organização. Então, já posso dizer que, o simples fato de existirem diversos povos e culturas, já nos indica que é um traço marcante da própria espécie humana, sua interação sociocultural no meio ambiente. Assim, nenhum povo-cultura, pode ser apontado como "natural" em relação aos outros, e a ideia de sociedade "natural", tem de fato, uma forte conotação ecofacista. Hitler também acreditava numa Alemanha nazista, ideal, pura, Ariana e “natural”. Nesse sentido, o racionalismo moderno veio se desenvolvendo em torno da relação sujeito-objeto, permitindo inclusive a incompreensão daquilo que conhecemos como IRRACIONAL. Chamar o povo hindu de irracional só porque se recusam a comer carne, quando uma parte da população indiana morre de fome, ao mesmo tempo em que ficamos horrorizados quando lemos nos jornais que se anda comendo rato no Nordeste brasileiro, não tem nada de "natural". Devemos ter em mente, que em cada ambiente-cultura, não há uma natureza "natural'. Ao contrário, o ambiente natural do homem, é produto de construção do próprio homem. Em suma, nas palavras do professor Carlos Walter "toda e qualquer cultura é um sem sentido que faz sentido para as pessoas que nela vivem", e a natureza dentro desse diapasão, passa a ser uma espécie de modelo para a sociedade. O problema é que, a natureza diferentemente do homem, não tem subjetividade, pois ela funciona, na expressão de Edgar Morin, como "um CAOSMO", ou seja, não é natureza que é um caos como pensou NIETZSCHE, nem tão pouco um cosmo ordenado, orgânico e harmonizado como querem os ecologistas. Dizer que somos nos humanos, enquanto categoria genérica, os responsáveis pela destruição da natureza, é ser simplista demais. Pois quem está destruindo a natureza(RECUROS NATURAIS, AMBIENTAIS E SOCIAIS), somos nos humanos, enquanto formas de organizações no seio de uma cultura, de uma prática, onde a as questões ambientais (COMPLEXAS), parecem exigir de nós, enquanto sociedade cultural, um novo paradigma, o qual a natureza e a cultura não caiam uma fora da outra. Estou ciente e consciente, que não existe nem mesmo palavras naturais para falar de natureza, já que as palavras são criadas e instituídas em contextos sociais. Por isso, vejo com certo engodo que os ecologistas queriam definir o limites da natureza "natural", sem se envolver com a política, já que a questão ecológica e ambiental é essencialmente um problema de governança. Ainda assim, acreditar que devemos parar o desenvolvimento, seja ele social, ambiental, cultural, político, econômico, em nome de uma negação ideológica criada pelos ecologistas tradicionais, é desprezar a próprio movimento temporal, que na definição de Kant, serve de base para uma representação necessária como condição subjetiva de nossa intuição geral. Ademais, criar um novo paradigma de sociedade natural para vida humana em toda a sua plenitude, exige um terreno onde os homens livremente possam definir seus destinos e a existência dessa condição, que inversamente impede o desabrochar da vida humana que é negado em nome de uma vida puramente vegetativa e biológica. Essa questão não é tão nova como se pensa, pois os Gregos no aflorar da filosofia, delimitavam a Pólis a partir da demarcação dos seus muros, ou seja, era a vida intramurana que decidia que era do campo e quem era da Pólis. Em Roma, na mesma estirpe, decidia-se quem era da Civita e quem era estrangeiro e quem era escravo. Nas condições em que historicamente vivemos, (tome aqui o termo história, como a historia dos recursos naturais), não é de estranhar que a ideia de progresso, resquício do militarismo vulgar experimentado por nosso povo-nação, ainda esteja associado à industrialização como verdadeiro sinônimo da modernização. A manufatura é a primeira expressão desse pensamento ideologicamente dinfudido, que reúne sob um mesmo conglomerado, inúmeros operários a serviço de sua produção, e a disponibilização dos corpos destes atrelados a um saber que não lhes pertencem, é a prova viva de que, não há naturalidade no ambiente natural da fabrica moderna, do campo mecanizado, ou das instituições qualquer que seja. É preciso ficar atento e romper de vez com essa ideia dos ecologistas de que "os homens estão destruindo a natureza" tendo em vista que essa afirmação acaba por confundir nossa percepção, e pouco esclarece quem são de fato os maiores amigos e inimigos na natureza e das práticas socialmente justas. Marx, infelizmente talvez não tivesse sido muito claro, quando acreditou platonicamente que a razão humana pudesse escapar dos próprios limites daquilo que foi prometido a ela, ou seja, escapar dos entraves econômicos (CAPITALISMO) e sociais (PROLETARIADO) do século XIX, e viver um comunismo pleno, mas pelo menos, este pensador soube colocar a questão da relação do sujeito com o objeto, do conhecimento e com a realidade que existe fora de quem a conhece, através do conceito de práxis. E será que existe um práxis mundialmente ecológica?. A ciência, que não ciências da natureza, nem muito menos ciências humanas especificamente, mas, ciência na definição Weberiana, longe de ser um instrumento salvador da natureza, um quase Deuscientificnaturalis restaurador da ordem e eliminador do caos, se coloca como um ferramenta auxiliar, que através de uma prática sistematizada dos diversos campos dos saber, num projeto social e político, poderá servir de aporte para o ordenamento ecológico, que valorize as diferentes formas de utilização e de manejo produtivo da biodiversidade. Desse modo, o conceito de ambiente e de natureza penetra nas esferas da consciência e do conhecimento, no campo da ação política e na construção de uma nova economia, inscrevendo-se nas grandes mudanças do nosso tempo, já que, repito, os recursos naturais, estão sujeitos a temporalidades ecológicas de regeneração e produtividade que não correspondem aos ciclos econômicos atuais. E nessa seara conflituosa, a natureza converte-se ou inverte-se assim um meio de produção, objeto de uma apropriação social, atravessado por relações de poder. A chamada eco-evolução dos ecologistas tradicionais, contaminada por: submersões, emersões, enrugamentos, glaciações, desertificações, migrações e aparecimento de novas espécies, humanas ou não, estão inerentemente marcada por tensões e conflitos no âmbito das mutações ecológicas, genéticas, legislativas e dos efeitos da perturbação a longos e em curto prazo. A ordem física nesse patamar prolonga-se na ordem viva, ela própria regida por programas genéticos e computadorizados cada vez mais sofisticados, nos fazem crer ilusoriamente, que somos realmente onipotentes quanto as possibilidades. O que dizer, por exemplo, do sexo, e do transexual ismo na modernidade?. E o que isso tem haver com a ideia de natureza "natural"? Ora, não é nenhuma novidade que este, ou seja, o sexo em meados da segunda metade de século XX nos Estados Unidos se transformou rapidamente em objeto de especulação e controle social. O que nos faz mostra um capitalismo quente, psicotrópico e punk emergindo juntamente com essa avalanche de preocupações em torno não mais do gênero, e sim do sexo, associados a tecnofabricação dos corpos sexuados, que por sua vez alavancam uma das indústrias de maior crescimento nas últimas décadas: indústria farmacêutica. E Marx aqui acertou novamente, quando de sua declaração, "A América será o palco das transformações". E o que temos em comum com os Americanos nos dias de hoje?. A manipulação dos hormônios e a criação dos sintéticos consolidam a tecnofabricação dos corpos sexuados e a modificação das suas identidades que não naturais, e sim, meramente artificiais. Com isso, volto e me perguntar: Existe de fato uma natureza "natural"?. Ou é o velho jogo lingüístico entre sujeito-objeto que tenta se imortalizar hegemonicamente ignorando o sujeito-sujeito?. O velho jargão marxista de que, o que existe historicamente é a dominação do homem pelo homem, continua a servir de modelo contemplativo para o fortalecimento do tecnopoder em nome da natureza "natural”.