Existe apenas um Planeta Terra
Existe apenas um Planeta Terra
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia/FATEA/Lorena/SP)
O título desse artigo, por mais óbvio que possa parecer, de vez em quando precisa ser lembrado, para que todos os humanos possam manter esse pensamento efetivo e ativo nas suas respectivas mentes. Digo isso, porque a grande maioria das pessoas, embora saiba; que existe apenas um Planeta Terra e que todos os recursos naturais que nós humanos utilizamos são tirados direta e exclusivamente desse único planeta que habitamos; parece que se esquece desse detalhe fundamental na sua vida cotidiana e acaba usando os recursos indevida e levianamente, desperdiçando esses recursos absurdamente e, o que pior, produzindo alguns resíduos que a natureza não conhecia e que nós humanos resolvemos chamar de lixo.
É bom lembrar que na natureza não existe lixo e assim o lixo é um produto de origem exclusivamente humana. Existe uma boa parte desse material, que nós chamamos de lixo, que pode ser reaproveitado e reutilizado para outros fins e hoje há muitos humanos trabalhando no sentido de tratar melhor esses resíduos e conhecer suas diferentes utilidades. Mas, por outro lado, também existe uma boa parte desses resíduos que não pode ser reutilizada e outra que nem a natureza e nem nós mesmos sabemos como usar ou mesmo exterminar. Desta forma, esse tipo de material totalmente inútil vai se acumulando pelo planeta afora, ocupando espaço e degradando novas áreas que também poderiam ser úteis.
Em suma, usamos mal os recursos naturais e pioramos a qualidade do meio ambiente e da vida que nele se insere, inclusive e principalmente a nossa. Desta maneira, precisamos estar constantemente nos lembrando que temos apenas um planeta Terra de onde tiramos tudo o que utilizamos, para sempre tentarmos agir no sentido de garantir que os recursos naturais sejam utilizados de forma precisa, coerente e, sobretudo, sem desperdício.
O uso do planeta de forma precisa e coerente pelo homem recebeu recentemente o nome de SUSTENTABILIDADE e é sobre isso que vamos conversar um pouco. Primeiramente devo dizer que a Sustentabilidade consiste num princípio básico que determina que nenhuma geração tem direito de esgotar os recursos planetários, pois todos os humanos e as demais criaturas vivas que já viveram, que estão vivos hoje e aqueles que ainda virão tem os mesmos direitos ao uso do planeta Terra e de seus recursos naturais.
Por outro lado, devo esclarecer que a idéia de Sustentabilidade está basicamente contida num tripé que envolve o Ambiente, a Sociedade e a Economia, de forma tal que qualquer mecanismo só pode ser considerado sustentável se todos esses três itens estiverem satisfeitos de forma igualitária na sua composição. Sendo assim, não é possível conceber mais, nos tempos atuais, qualquer tipo de mecanismo que prestigie, mas esse ou aquele aspecto do tripé.
Durante muito tempo a humanidade sempre procurou priorizar o lado econômico, como sendo o mais importante para o seu desenvolvimento. Entretanto, nos últimos tempos, por conta da necessidade imperante e do crescimento do pensamento sustentável nas diferentes sociedades humanas, a visão estrita da Economia precisou perder um pouco de sua avidez. Desta maneira, o componente social passou a ser mais bem considerado nas diferentes situações e também, o componente ambiental, que antes nem era pensado pela maioria dos humanos, passou de insignificante para uma posição de igual importância na escala de prioridades a serem atendidas. Assim, o Desenvolvimento Sustentável passou a ser o mecanismo principal para que se possa tentar alcançar e garantir a Sustentabilidade planetária.
Algumas ações individuais e coletivas, não só podem como devem, ser estabelecidas pelas pessoas físicas (indivíduos humanos) e jurídicas (empresas e grupos socais) no sentido de trabalhar em prol da sustentabilidade e dentre essas, podemos destacar as seguintes:
1 – Desenvolver uma postura ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, visando o interesse das futuras gerações, ou seja, aqueles seres humanos que herdarão o planeta a partir de nossas ações atuais. Lembrar que o mundo não é só meu, nem é só dos outros seres humanos, mas que também existem inúmeras outras formas de vida que tem o mesmo direito que eu tenho ao planeta. Lembrar, principalmente que dinheiro é um meio e não um fim, o qual só interessa ao homem e não serve em absolutamente nada para as demais criaturas do Planeta.
2 – Redução do Consumo de Recursos Naturais, não comprando coisas supérfluas ou desnecessárias, investindo em Reutilização, no Reaproveitamento e na Reciclagem de materiais e minorando a produção de lixo e resíduos indesejáveis. Avaliar efetivamente a real necessidade do produto antes de adquirir. Não comprar por impulso, nem porque está na moda, ou porque o seu amigo tem aquele produto. É bom lembra que essa também é uma das principais causas da violência urbana. Se você tem uma bicicleta e o outro não tem, ele toma a sua.
3 – Redução e racionalização do Consumo de Energia, principalmente a energia oriunda da queima de Combustíveis Fósseis, que geram muita poluição, gases de Efeito Estufa e que atuam fortemente para o Aquecimento Global e consomem Recursos Naturais não renováveis. Reduzir o uso do carro, do chuveiro elétrico, da geladeira e mesmo da pilha e das baterias elétricas, as quais produzem resíduos tóxicos e altamente contaminantes. Se o quarto está vazio, por que a luz está acesa?
4 - Investimento em Tecnologias Limpas que propiciem novas formas alternativas de obtenção Energia não poluentes e que não ofereçam risco à saúde humana ou planetária. Ser proativo em relação a Energia Solar, Eólica, das Marés, das Correntes e outras não poluentes e naturais que possam existir. Ser atuante em práticas ambientalmente corretas. Pequenas ações como apagar a luz e usar mais a luz solar, desligar o computador, a TV e os demais eletrodomésticos quando não estão sendo usados, não desperdiçar água, reaproveitar o papel, as caixas, reduzir, ou mesmo acabar com o uso de sacolas plásticas e outros produtos descartáveis, que têm grande custo energético e levam anos para se decomporem na natureza.
5 – Buscar a ampliação das Áreas de Preservação Naturais e a Recuperação de Áreas Verdes Urbanas, no sentido de garantir a manutenção dos Ecossistemas Terrestres com seus respectivos Bancos Genéticos e sua Biodiversidade e também de melhorar a qualidade do ar nas cidades. Por exemplo, plantar árvores e não cortar as existentes é um mecanismo simples que garante a absorção da água pelo solo, diminui aquecimento global, refresca os ambientes, atrai pássaros e embeleza os ambientes sobremaneira.
6 – Recuperar, dentro do possível, os ambientes naturais degradados, a fim de minimizar as áreas comprometidas com ações antrópicas insustentáveis ocorridas no passado. Reaproveitar áreas antes impermeabilizadas, onde calçamento indevido ocorreu, aumentando as áreas de jardins e quintais. Nas áreas urbanas é onde mais há necessidade de melhorar a qualidade do ar, portanto faça a sua parte para que isso aconteça.
7 – Educar ambientalmente as populações dentro do preceito de que a sustentabilidade é a única maneira possível de garantir a qualidade e a continuidade da vida humana no planeta. A Prática educativa tem que trazer no seu bojo os princípios de garantir a manutenção e a continuidade dos recursos naturais não renováveis e a recuperação efetiva dos renováveis; de não degradar; de não sujar e efetivamente de chamar a atenção de quem age de forma contrária aos interesses do Planeta e da Sociedade, independentemente da justificativa apresentada.
8 – Definir criteriosamente as áreas agricultáveis e as culturas nelas desenvolvidas, visando minimizar o uso indiscriminado de Agrotóxicos e Defensivos Agrícolas, garantindo a manutenção dos solos naturais como forma de produção agrícola. Isso começa na sua casa, não usando veneno nas suas plantas ornamentais e também desenvolvendo sua pequena horta orgânica, da qual você pode tirar a sua alface, o seu tomate e outros alimentos.
9 – No plano político-administrativo, devemos procurar apoiar políticos e administradores públicos que estejam determinados a investir em políticas públicas, que favoreçam a sustentabilidade e que priorizem o interesse ambiental planetário, antes de qualquer interesse econômico particular ou qualquer grupo social específico, de acordo com a máxima ambientalista que diz: “agir localmente, pensando globalmente”. Oriente as pessoas de que as suas ações cidadãs em prol do planeta começam nos seus respectivos votos. Lute e trabalhe para que os seus candidatos tenham postura proativa, para que proponham as mudanças devidas que são necessárias à sustentabilidade.
10 – Enfim, como ação precípua, procure ser um exemplo daquilo que pregar. Ninguém vai acreditar em você, se realmente você não demonstrar aquilo que fala. Acredite e pratique a sustentabilidade em todas as suas ações, pois assim você estará demonstrando que não é impossível, basta apenas vontade, coerência e persistência. Se você consegue, certamente também é possível que outros consigam.
Por fim, quero dizer que é preciso repetir muito a frase: “Existe apenas um Planeta Terra” e esta é a única morada; o único planeta; a única nave espacial dentro da qual estamos todos nós, mergulhados no espaço universal. Todos nós somos passageiros e estamos na mesma viagem dentro do mesmo veículo denominado Terra. Não é muito pedir para que cada um faça a sua parte no processo de garantir que a viagem continue sem conturbações e realmente não é necessário nada mais que isso, porque se cada um fizer efetivamente a sua parte o todo estará sendo feito.
Sempre vale a pena ressaltar que “os maiores interessados em manter o planeta somos nós mesmos”, pois só assim garantiremos a nossa existência. Isto é: “o planeta não depende de nós, nós é que dependemos dele”. Então, cabe lembrar também, que para que o planeta continue seguindo em frente e com segurança, só depende de nós mesmos, os seres humanos. A nossa continuidade no mundo vivo está em nossas mãos, pois só nós temos o poder da escolha e da definição. Nossas atividades atuais definirão sobre a nossa existência planetária futura.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (55) é Biólogo, Professor, Pesquisador, Ambientalista e Escritor;
é Membro do Comitê das Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul (CBH-PS);
Sócio Fundador da Academia Caçapavense de Letras (ACL), ocupando a Cadeira 25;
Membro Associado de várias ONGs Ambientalistas, Educacionais e Culturais;
foi Membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) de São Paulo;
foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.