Lixômetro

Há já algum tempo um “lixômetro” foi instalado na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de um contador indicando a quantidade de lixo recolhido na cidade.

O propósito da instalação do medidor era o de denunciar a imensa quantidade de lixo produzida pelo homem contemporâneo. Não tenho a informação, mas aposto que outros lixômetros tenham sido instalados previamente nas cidades mais ricas do mundo. O objetivo final da campanha era conscientizar os cidadãos da enorme quantidade de lixo gerada pela população, tentando com isso alcançar uma redução nesse despropósito.

Uma notícia em telejornal, no entanto, me chamou a atenção para outro ponto.

A repórter interpretou o lixômetro de uma maneira quase oposta à minha. Enquanto eu penso que o propósito da coisa seja reduzir o lixo gerado, a moça da TV acreditava que sua meta era aumentar a coleta do lixo, conscientizando a população para descartar o lixo em local apropriado.

Foi quando percebi uma decorrência paradoxal da campanha. Os países ricos resolveram há décadas o problema da coleta de lixo. No Rio de janeiro, no entanto, a coleta de lixo não se estende para toda a população. Muitos dos milhões de habitantes dos morros não são beneficiados pelas ações de cidadania mínimas, não dispondo ao menos de coleta de lixo em suas portas.

Curiosamente, em locais assim, o aumento na pontuação do lixômetro pode, paradoxalmente, revelar uma melhoria para o meio ambiente, significando que uma parte do lixo gerado não irá parar diretamente nos rios, mas será coletado e posto em local adequado.

Estranhas e imensas são ainda as desigualdades entre os povos, sugerindo que as ações sociais não devam ser transportadas de um local a outro. como se as necessidades dos povos fossem as mesmas.

Penso que, em nosso país, uma ação eficaz de controle do lixo seria a taxação de produtos descartáveis. Ainda usamos garrafas retornáveis, poderiam voltar a ser a preferência popular. Mas as campanhas se voltam para cortinas de fumaça como a tentativa de proibição das sacolas de supermercados. Enquanto essas sacolas são usadas para embalar o descarte do lixo, garrafas plásticas e latas causam enorme sujeira. Deveriam ser trocados pelos antigos cascos de cerveja e refrigerante que, décadas atrás, todos os brasileiros utilizavam. Aliás, o processo contrário, o de substituição dos cascos pelos descartáveis continua em andamento, um contrassenso ecológico a que ninguém parece incomodar.