VAMOS MATÁ-LA AGORA!

Muitos me perguntam por que eu sempre afirmo que escolhi Belo Horizonte para viver, trabalhar e quem sabe, morrer? – Por várias razões em permaneço e dificilmente irei sair daqui, salvo por mera ignomínia do destino!

Belo Horizonte é agora uma rota importante para vários lugares do mundo e isso facilita meu atual ofício; Minas Gerais possui um dos melhores modelos de Segurança Pública das Américas e isso facilita a vida de minha família; a capital é enorme, mas ao mesmo tempo se parece com um grande sítio onde todos se conhecem; por fim Belo Horizonte começa a dar exemplos claros e inequívocos de que está finalmente se preparando para criar um ambiente cada vez melhor para nós vivermos e dando exemplo ao mundo de como se faz uma política ambiental agressiva e sustentável.

Quando eu era criança costumava ir ao supermercado Paes Mendonça com meus pais e ao sair de lá, as compras eram embaladas em sacolas de papel pardo; no interior os mercadinhos e mercearias embalavam as compras reutilizando as caixas de papelão que traziam os enlatados; mas com o passar do tempo e a evidente escassez da matéria prima da celulose, criaram a maior das agressividades do mundo, as tradicionais sacolas plásticas e o povão aprovaram; primeiro porque são práticas e depois, porque todos as reutilizam como sacos de lixo. É raro vermos nas ruas, antes da coleta de lixo, os rejeitos domésticos sendo embalados em outro recipiente se não nas sacolinhas plásticas dos supermercados!

Agora a capital mineira segue a tendência que outras cidades e estados brasileiros já sinalizaram também seguir; nosso legislativo municipal proibiu a utilização destas sacolas plásticas em qualquer estabelecimento que a entregue aos seus clientes; além de banir completamente a utilização, o município multará quem desobedecer; num primeiro momento apenas os comércios, mas já se estuda também multar quem as trouxer de outros lugares e empregá-las no uso do lixo doméstico. – Eu acho a medida excepcional e tardia!

A Lei Municipal 9.529/08 proíbe o uso de sacolas plásticas feitas de derivados do petróleo. A proibição de sacos feitos de polietileno – que é um polímero, um composto químico – incide sobre qualquer tipo de estabelecimento no comércio, sejam supermercados, lojas, drogarias e outros, que devem oferecer sacolas fabricadas com materiais reaproveitáveis, recicláveis ou biodegradáveis, portanto, entende-se que não só proibiram por proibir; eles também deram a chance óbvia para que ninguém se sinta prejudicado, seja o consumidor final, sejam as fábricas que vivem deste tipo de comércio.

Informações oficiais declaram que o Brasil produz 210 mil toneladas de sacos plásticos por ano e isso significa que somente deste material o lixo em geral brasileiro poderá diminuir em quase 10%. Também haverá impacto significativo, para melhor, nas questões que envolvem enchentes, bueiros entupidos e a decomposição que dura em média 300 anos.

Meu bisavô nasceu em 1865; meu avô em 1910 e meu pai em 1942; eu nasci em 1962 e meu filho mais velho em 1996. Se na época do nascimento de meu bisavô, que já existiam as tais sacolinhas plásticas, uma delas fosse descartada no lixo na fazenda, ela teria passado por cinco gerações de minha família e provavelmente estaria lá, quase intacta; talvez meus netos ou bisnetos não mais a veria, mas há quem afirme que resíduo dela ainda permaneceria e causaria forte impacto ecológico até depois de 2165. Apenas como apontamento educativo, as sacolas plásticas foram criadas em 1862, mas o Brasil somente adotou de vez a idéia na década de 80, mais de um século depois...

Uma das alternativas que já está sendo largamente utilizada aqui em Belo Horizonte é o plástico oxi-biodegradáveis; esta nova tecnologia produz plástico que se mortifica através de um processo de OXI-degradação. A tecnologia se baseia na introdução de uma quantidade muito pequena de aditivo pró-degradante durante o processo de fabricação convencional, resultando em uma mudança de comportamento do plástico. A degradação do plástico começa quando sua vida útil programada chega ao fim e o produto não está mais em uso (tal período controlado pela composição do aditivo utilizado.

Quando o aditivo reduz a estrutura molecular a um nível que permite o acesso de microorganismos ao carbono e hidrogênio3, o plástico é consumido por bactérias e fungos. Por causa disso ele pode ser chamado “biodegradável”. O material deixa então de ser plástico e se torna uma fonte de alimento. Tal processo continua até que o material tenha se bio-degradado em CO2, água, e húmus. Isto não deixa fragmentos de petro-polímeros no solo, por isso as sacolas produzidas através desta nova técnica já estão sendo chamadas de Ecologicamente Corretas.

Algumas redes de supermercados, como a mineiríssima Verde Mar, há tempos já comercializam sacolas alternativas feitas a partir de materiais reciclados e de uso retornável; estas sacolas têm o formato das antigas sacolas de palha, muito comum no interior, e possuem uma cubagem com cerca de 10 vezes a capacidade de uma sacolinha plástica tradicional. Elas custam menos de R$ 3,00 e quem as compra, caso voltem ao supermercado portando-as, recebem um desconto de 0,5% (meio por cento) sobre o valor geral da compra; quem gasta mais de R$ 500,00 por mês neste supermercado já tem a sacola sem custo! Para incentivar a utilização desta e de outras alternativas, o Verde Mar até fez um desfile de modas, assinado pelo estilista Ronaldo Fraga, onde as roupas das modelos foram feitas com os mesmos materiais das sacolas!

Sejam as oxi-biodegradáveis, sejam as sacolas de materiais reciclados ou ainda as de tecido, boa parte destas alternativas ainda não são as mais adequadas para um equilíbrio ambiental a curto e médio prazo; o uso do velho carrinho de compras, feito de metal, ainda surge como o mais viável para uma solução dos lixos desequilibrados em curto prazo e a educação generalizada da população, que insiste em manter-se cega, surda e muda quanto esta questão, poderia diminuir em pelo menos 30% dos lixões em até 10 anos.

Mas então, porque não fazemos uma mobilização geral para solucionarmos esta questão? – Simples! Somos mal educados, acomodados, ignorantes e pouco importa se a enchente do Rio matou milhares de pessoas, desde que não tenha vitimado alguém que gostamos, este problema é do outros e não nosso! – É assim que 90% de nós pensamos e não adianta querer afirmar o contrário ou que mandou aquele donativo para os desabrigados, por isso não é tudo e somente resolve 0,01% do problema. Precisamos é de vergonha na cara ou que muitas outras medidas pesem em nosso bolso, pois só assim acordaremos deste sonho eterno em que pensamos que o mundo é belo e que nada pode nos acontecer!

Recordo-me bem quando em Lisboa fui a um supermercado do centro da cidade comprar comida e vinhos; depois que passei pelo caixa notei que não havia embalagens e quando argüi a atendente de como eu levaria minhas compras, ela me disse: - o problema é do senhor! Segundo a portuguesa sisuda, elas estavam ali para vender produtos e não dar sacolas; talvez seja por ações assim que Lisboa é infinitamente mais limpa do que qualquer cidade brasileira, inclusive Curitiba, que é um padrão nacional; talvez também seja por isso que exista em Portugal e em quase toda Europa, empresas especializadas na compra do lixo seletivo com coleta em domicilio e pagamento imediato com vales que podem ser trocados por contas de consumo como água, luz, telefone e gás.

Quando nós brasileiros finalmente percebermos que nossas fontes de manutenção climática e ecológica são tão finitas quanto à própria energia fóssil, eu espero que não seja tarde...

Parabéns a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte pela Lei e ao Prefeito pela promulgação da mesma...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

www.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 04/04/2011
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