Dores de Parto
DORES DE PARTO
São Paulo, em um expressivo texto (Carta aos Romanos 8,22) afirma que o conjunto da Criação (terra, animais e humanidade) geme como em dores do parto, expectando a libertação e a salvação. Agora, em 2011 a “Campanha da Fraternidade” apropriou aquele texto paulino, referindo-se às mesmas dores que a terra e os seres vivos sentem diante da devastação de sua oikia, a casa de todos, o universo. A reflexão sobre as dores do parto forma o lema da campanha, cujo tema, voltado para a ecologia e cuidados com o meio-ambiente em “Fraternidade e a vida no planeta”.
Não é de hoje que problemas com a ecologia, como desmatamentos, queimadas, poluição do escapamento dos carros, chaminés das indústrias, a geração descontrolada de lixo, etc., a contaminação dos rios, a matança de peixes, o uso indiscriminado dos defensivos agrícolas, a produção de gases tóxicos e a formação de um terrível efeito-estufa alarmam a humanidade. Além disto, há outra ameaça séria, que é a produção de sementes geneticamente modificadas, transgênicas. Economicamente o argumento pode ser válido, mas em termos biológicos não se sabe no que vai acontecer com a saúde das pessoas no futuro.
Contra a salubridade urbana temos o problema do lixo. Esta é uma questão vital que nós ainda não aprendemos administrar. No Embora existam caixas diferenciadas para lixo (seco e orgânico) as pessoas depositam ali o lixo de forma indiscriminada. E mesmo que não fosse assim, a coleta do lixo em muitos lugares não é seletiva.
O lixo jogado na rua entope os bueiros de coleta pluvial, gerando enchentes que destroem ruas, moradias, provocando – não-raro – mortes. A água desperdiçada pode fazer falta no futuro, assim como águas paradas criam um ambiente favorável para a proliferação do mosquito da dengue.
A natureza geme. Seriam dores de parto ou angústia? Ela parece se sentir ameaçada pelas atitudes dos seres humanos que fazem muito pouco para preservar tamanha riqueza. Como objetivo principal, a Igreja no Brasil propõe contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta.
A cada ano a CNBB traz um assunto instigante para organizar a reflexão de sua “Campanha da Fraternidade”. É lamentável que, passado o período de Quaresma tudo se esvaia pelo ralo da rotina e do desinteresse. É preciso tornar o debate permanente, e não apenas adstrito a um curto período. É imperioso que, usando o método “ver-julgar-agir-avaliar” se saia do terreno das utopias e se assuma o protagonismo moral das ações transformadoras.
Escritor, filósofo e Doutor em Teologia Moral.