Ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável e interessante
Ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável e interessante
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia – FATEA/Lorena/SP)
Os padrões atuais de desenvolvimento estão altamente carregados de sustentabilidade, pelo menos na sua essência teórica e partem do pressuposto que a frase que intitula esse artigo seja uma premissa para todos os projetos que possam ser mentalizados e produzidos. Entretanto, será isso uma verdade? Será que a sustentabilidade pensada, preconizada e necessária está sendo praticada na íntegra?
Creio que não, pois normalmente não costuma haver comprometimento total da noção norteadora de sustentabilidade ao longo do andamento de todo o projeto, independente da área de atividade onde ele esteja inserido. O que acontece é que geralmente, no decorrer do processo, as coisas vão mudando e se travestindo gradativamente, o que acaba por mascarar a sustentabilidade prevista e assim a velha noção de progresso e de crescimento a qualquer custo infelizmente continua, ainda que indiretamente, imperando e comandando as ações. Por conta disso é que têm ocorrido inúmeros fracassos econômicos, sociais e principalmente ambientais em projetos intencional e primitivamente ditos sustentáveis.
Vejam bem, a consequência natural de tentar corrigir o fracasso, quanto à sustentabilidade do projeto, acaba produzindo malefícios piores e quem mais sofre com esse fato é o meio ambiente. Somos seres humanos e nos defendemos muito mais social e economicamente do que ambientalmente. Lamentavelmente, os nossos diferentes padrões culturais têm alguns aspectos comuns e a priorização sócio-econômica em detrimento do meio ambiente é um desses aspectos. Independente de nossa Cultura original, nós temos sido histórica e generalizadamente levados a entender que o ambiente não é algo que tenha grande importância.
Em outras palavras, o que estou querendo dizer é que, embora a noção de sustentabilidade não seja em si mesma uma utopia, haja vista que é possível produzir bons projetos sustentáveis, essa noção, em certo sentido, é contra as culturas estabelecidas na humanidade, porque tenta priorizar algo que não estamos culturalmente preparados para dar a devida importância. Assim, a noção de sustentabilidade acaba sendo uma falácia, porque na prática o que continua valendo primeiramente é o interesse econômico, depois o social e por último fica o interesse ambiental, o qual deveria ser primário. Isto é, o meio ambiente está sempre sendo relegado para o terceiro plano em importância, quando na verdade deveria ser o primeiro.
Mas, como sanar essa deficiência sociológica e cultural da humanidade, tentando priorizar as questões ambientais em detrimento dos interesses da Economia? Como demonstrar que a sociedade e o planeta só ganharão com a priorização ambiental?
Aparentemente, em função do que já foi dito, essas questões propostas não têm respostas possíveis e definitivas, que produzam modificações positivas para o meio ambiente, no cotidiano da maioria das pessoas nas sociedades humanas, haja vista que elas estão culturalmente programadas exatamente para o contrário. Entretanto, essas respostas precisam existir e necessitam ser postas em prática para garantir a sustentabilidade e, em última análise, a manutenção da vida humana sobre a superfície do planeta.
Tenho observado em várias oportunidades que ainda não há consenso entre a maioria das pessoas, mesmo aquelas preocupadas com o meio ambiente, sobre a importância das questões ambientais para a humanidade. Eu já ouvi, mesmo de alguns ambientalistas a seguinte questão: como o sujeito vai se preocupar, por exemplo, com o desmatamento das florestas, se ele não tem o que comer?
Aliás, não é só isso. Na verdade, ainda não há percepção de que as questões sociais cotidianas foram antes questões ambientais pontuais não cuidadas ou mal cuidadas. Problemas sociais são consequência de problemas ambientais. Pouca gente percebe, por exemplo, que falta de moradia é consequência de falta de espaço, que violência urbana é consequência de falta de alimento e de espaço, que a falta de critério político-administrativo é o que produz falta de saneamento básico e as doenças que advém disso.
Comer bem envolve em plantar bem, produzir bem, cozinhar bem. O problema é que parece que as pessoas esqueceram que têm que plantar para comer, pois a comida que comem vem do supermercado. Esqueceram da natureza. Na prática, hoje se entende apenas que alguns plantam para ganhar dinheiro e se esquece que plantar é fundamental para produzir alimento e poder comer, que é uma das necessidades biológicas (natural, ambiental) vitais. Estar socialmente bem é consequência de estar ambientalmente bem, ou seja, num ambiente ecologicamente equilibrado e compatível com a vida. Não entendo como é possível se pensar diferente. Assim, temos que pensar no meio ambiente prioritariamente.
Quer dizer, a sustentabilidade só existe se tivermos o meio ambiente na sua base e só há uma maneira de conseguirmos isso: temos que mudar o paradigma e criar uma nova Filosofia que possa discutir e introduzir a Educação Ambiental maciçamente nas diferentes sociedades humanas e produza um novo modelo de comportamento na humanidade. Precisamos acabar com essa coisa de que pequenos projetos podem resolver grandes questões. Infelizmente, não temos mais tempo para isso. Temos que partir para o grande projeto de mudança comportamental do homem atual, para produzirmos um homem do futuro consciente e já programado para priorizar as questões ambientais antes das demais. Precisamos de uma nova Cultura que privilegie o meio ambiente. Aliás, se isso efetivamente vier a acontecer, todas as questões sociais, ao longo do tempo, deixarão de existir, porque estaremos resolvendo todos os problemas da humanidade.
Partamos, pois, para discutir e efetivar esse nosso projeto de Educação Ambiental planetário, para todos os humanos e para bem de todos os demais habitantes do planeta. Que fique claro, de uma vez por todas, que a Educação Ambiental tem que ser definida e ensinada conceitualmente, para que possa ser entendida, vivenciada e produza modificações comportamentais efetivas e perenes na humanidade. O empirismo aplicado a projetos não justifica outras questões conceituais importantes e infelizmente, ainda cria modismos sem entendimento das reais necessidades planetárias.
Portanto, quero esclarecer que não estou aqui me referindo, por exemplo, a nenhuma orientação sobre um simples projeto envolvendo a reciclagem de resíduos, estou sim pensando em trabalhar conceitual e comportamentalmente para que a humanidade procure produzir mecanismos que não possibilitem a geração de mais nenhum resíduo. Por mais absurdo que isso possa parecer, essa deve ser uma meta. A reciclagem de resíduos é um pequeno detalhe que acontece em alguns locais, mas nós temos que pensar no todo planetário. Não quero apagar incêndios, quero acabar com a possibilidade de ocorrência deles.
Não devemos mais nos envolver apenas com pequenas experiências locais, temos sim, que mudar a forma de pensar do homem para que todos os humanos possam agir dentro de premissas ambientalmente corretas. Não há mais tempo para resolvermos apenas algumas questões locais, precisamos pensar e solucionar as questões planetárias. Cuidar do planeta deve ser entendido, por toda a humanidade, como algo tão vital quanto à necessidade de comer ou de respirar.
Temos que sair do paliativo e adentrar na construção de uma sociedade embasada filosoficamente na importância do planeta e de tudo que nele existe, inclusive nós. Porém, não devemos nos sentir como “seres superiores”, pois esse foi, historicamente, o grande erro cometido pela humanidade ao longo dos tempos. Isto é, nós humanos fomos levados culturalmente a acreditar que somos as coisas mais importantes que existem no planeta e assim nos assumimos como “Os Verdadeiros Donos da Terra”. A espécie humana não é dona de nada, além de seu próprio destino, que é o mesmo das demais espécies, ou seja, a extinção, que pode ser tardia ou prematura.
Nossa espécie é apenas uma pequena parte do planeta como tantas outras e deve respeitar a demais partes para garantir uma maior longevidade de sua existência na Terra. A única coisa que devemos obrigatoriamente ter é uma responsabilidade maior que as demais formas vivas, haja vista que aparentemente somos a única espécie que tem consciência de sua existência. Essa é a grande verdade que precisa estar clara na mente de todos os humanos do futuro.
Assim, quero concluir afirmando que a sustentabilidade, além de ser uma necessidade planetária e uma obrigação da humanidade. Entretanto, ainda temos que nos preparar mais seriamente para ela, priorizando o meio ambiente em relação aos demais interesses. Temos que sair da falácia e entrar na realidade, pois o tempo urge. Doa a quem doer, mas projetos não sustentáveis não podem mais ser pensados e muito menos operados e produzidos.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (55) é Biólogo, Professor, Ambientalista e Escritor;
Membro Fundador e atual Vice-Presidente da Academia Caçapavense de Letras;
Ex-Conselheiro do CONSEMA (Conselho Estadual do Meio Ambiente);
Ex-Vereador e Ex-Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.