Sem os passarinhos
Assassinos! Assassinos!
Sejam homens, sejam meninos
Atentaram contra a vida!
Mataram o sabiá.
Seu corpinho ficou largado pelas valas da avenida.
Uma pedra certeira calou pra sempre seu cantar.
Mas, logo o sabiá, que toda manhã vinha me despertar?
Quem cuidará do seu ninho?
E os famintos bruguelinhos, quem é que vai alimentar?
Até as borboletas de cores variadas
Fizeram círculos, sobrevoando a calçada.
As folhas das árvores caiam vencidas, sacudidas, sucumbidas…
Flores que enfeitavam a avenida murchavam apressadas.
Pessoas desavisadas , desviavam-se cautelosas.
Só quem não parava eram as formigas, entorpecidas pelo trabalho, tentavam erguer o sabiá, leva-lo pelo atalho.
Como consolo derradeiro, tentam alimentar o formigueiro.
Canta o grilo chorão, uma música de algoro, escondidinho dentro do chão.
Vestiu-se em luto, o muro e a era, e toda a primavera há de chorar o pobre sabiá, que só sabia encantar.
Depois será o beijar-flor, em seguida o bem-te-vi, será grande a minha dor quando o tico-tico fugir daqui.
A laranjeira vai empobrecendo, sem o azulão, sem o galo de campina, foram em um alastrão lá pra cima da colina.
A cidade sem o sanhaço, vai ficando mais tristonha, mais silenciosa, mais escura, mais medonha.