O concreto venceu mais uma vez.
Era o único terreno entre as casas daquela rua, repleto de plantas, meio que horta, meio pomar, uma miscelânea mais ou menos organizada naquele pequeno espaço. Pela cerca baixa de bambú dava prá ver tudo e dava água na boca ver as acerolas vermelhas, as goiabas, as pinhas rachando e amadurecendo no pé, a jabuticabeira tão pequena e já carregada de fruta até o tronco, tinha também uma parreira de chuchú e outra de maracujá, umas moitas de bananeira, algumas covas de milho, e pequenos canteiros com couve, cheiro verde e almeirão. Nos cantos dos muros havia moitas de erva cidreira, boldo, arruda, hortelã e manjericão. Uma festa para os olhos!
Outro dia passei por lá, e qual não foi a minha surpresa ao ver tudo aquilo amontoado no meio fio a espera da caçamba para ser levado para o lixão! Doeu! Doeu o meu coração ao ver toda aquela vida agonizando no meio da rua e o terreno limpo, a terra vermelha parecia uma grande ferida sangrando, e na calçada tambem nua, uma pilha de tijolos baianos a espera dos pedreiros para começar uma nova construção. O concreto venceu mais uma vez, e como diria o senhor Omar: Trágico, muito trágico!