Como Corrigir o Erro Histórico na Utilização do Planeta pela Humanidade?

Como Corrigir o Erro Histórico na Utilização do Planeta pela Humanidade?

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Como qualquer organismo vivo, nós humanos utilizamos (consumimos) coisas (recursos naturais) oriundas do planeta para nossa sobrevivência. A diferença é que os demais organismos vivos têm uma determinada gama definida de coisas que necessitam e utilizam e nós, ao contrário, temos uma amplitude quase incomensurável de coisas que consumimos do planeta. Por conta disso, o impacto produzido pela nossa espécie sobre o planeta e sobre os recursos naturais é extremamente grande e diversificado. Além disso, como agravante, ao que parece somos os únicos organismos cientes de que só existe um planeta Terra e que tudo que é utilizado aqui vem daqui mesmo. Nós mesmos nos assumimos como os únicos organismos racionais sobre a superfície do planeta, porém já faz muito tempo que estamos precisando reavaliar o nosso conceito de racionalidade.

Por outro lado, se não bastassem as nossas necessidades e a nossa pretensa racionalidade, a grande maioria das coisas que nós utilizamos é efetivamente supérflua. Isto é, essas coisas não são fundamentais a nossa manutenção como organismos vivos. Ademais, o resíduo produzido pela nossa ação é extremamente comprometedor ao planeta, não só pela sua grande quantidade, mas principalmente pela sua qualidade, porque constantemente mudamos as condições físicas e químicas das diferentes substâncias de forma significativa e assim produzimos novas estruturas, novos compostos e novas substâncias, muitas dessas expressivamente danosas ao meio ambiente, algumas efetivamente letais ao meio e a biota local.

Em suma, a constatação da situação em que nos encontramos perante a planeta Terra é a seguinte: nossa espécie realmente não é racional no que diz respeito ao tratamento da Terra, porque não cuida bem do nosso único planeta, pois utilizamos muitos dos recursos naturais indevidamente, geramos um grande contingente de resíduos e modificamos a condição primitiva dos recursos naturais e do meio ambiente como um todo, causando danos consideráveis e muitas vezes irreversíveis.

Mas, e daí, qual a novidade? Estamos cansados de saber isso e até aqui nada mudou, pois continuamos fazendo as mesmas coisas, agindo da mesma maneira e não parece que exista pretensão de modificar nosso comportamento, pois as mudanças necessárias propostas e até aqui realizadas ainda são muito tímidas e praticamente sem nenhuma significância. Então eu pergunto: quais são as perspectivas futuras? O que deve acontecer para que as mudanças necessárias sejam efetivadas de maneira satisfatória?

Temos que mudar nossa filosofia, desenvolver novo comportamento, adquirir outros hábitos e partir para ações que visem modificar o nosso modelo de consumo dos recursos naturais. Temos que conter o consumismo, o uso indevido e garantir a preservação dos recursos naturais. Mas, como fazer isso num mundo dividido com países ricos, pobres, carentes e miseráveis? Como fazer isso num mundo que distingue tipos diferenciados de humanos? Como fazer isso num mundo em que as discussões giram na esfera estritamente econômica? Como fazer isso num mundo em que a moda é mais importante que a fome? Como fazer isso num mundo em que a propaganda é mais importante que a educação? Como fazer isso num mundo em que a mídia é mais importante que a saúde? Como fazer isso num mundo em que o lazer é mais importante que a sede? Como fazer isso num mundo em que o prazer é mais importante que a casa (moradia)? Como fazer isso num mundo em que o eu é mais importante que o todo?

Temos realmente um grande problema e não parece que estejamos dispostos a solucioná-los. Enquanto ficamos discutindo se devemos ter um G7, ou G8, ou G15, G20 ou mesmo um G25, nos esquecemos que deveríamos ser apenas um G1 ou G único, que englobasse todas as mais de 250 nações humanas que ocupam o planeta e que efetivamente valorizasse as pessoas que compõem essas nações. Continuamos tratando o planeta como espaço de alguns que devem ser capazes de deter o poder sobre os demais e deixamos de lado as necessidades reais daqueles mais carentes nos problemas e menos abastados nos recursos. Continuamos pensando e agindo do ponto de vista estritamente econômico.

Alguns desses grupos querem ser entendidos como “seres humanos superiores”, pois imaginam que são os únicos detentores da verdade, pensam que sabem e podem determinar o que é melhor para os demais, independentemente de quem sejam e de onde estejam no planeta. Ora, isso é tentar legitimar um “neo-colonialismo” ou então, só pode ser piada de mau gosto em prejuízo da humanidade.

Se continuarmos nesse caminho não vamos resolver nenhum dos problemas planetários. Aliás, não vamos nem mesmo chegar perto de começar a minimizar esses problemas, porque continuaremos nossa empreitada progressiva de destruição e, o que é pior, agora com respaldo oficial a partir de um Gn qualquer que pretende controlar o planeta e a humanidade. A única mudança é que assim criaremos novos ricos (remediados momentâneos) e os isolaremos dos miseráveis, os quais agora serão considerados “sub-humanos”. Entretanto, continuaremos destruindo, usando, degradando e consumindo o planeta. Certamente esta não é, nem de longe, a solução que estamos precisando, quando pensamos na humanidade.

Precisamos nos dar o direito de parar, pensar e ver que o modelo consumista que empreendemos historicamente é que está errado. Não há necessidade de definir quem pode fazer o quê no planeta, mas sim, de se saber o que pode e o que não pode se fazer no planeta, seja lá para quem for. Também é necessário se definir como e onde poderá se fazer aquilo que deverá ser feito. Mas, isso tem que ser pensado no interesse do planeta e da humanidade atual e principalmente futura e não no interesse de alguns.

Realmente é muito difícil. Aliás, pelo que conheço do ser humano e pelas tendências que observo, estou começando a achar que será impossível chegarmos ao nível ideológico necessário. Então, infelizmente, só nos resta aguardar o fim ou continuarmos brigando por situações paliativas que, no máximo, permitirão que alguns grupos perdurem um pouco mais que outros, mas o extermínio será inevitável. Acho que esta divisão em grupos (G7, G8, G15, etc...) visa exatamente isso. Vamos escolher e garantir quem serão aqueles que permanecerão por mais tempo, enquanto os outros irão progressiva e continuadamente desaparecendo.

Entendo que é extremamente duro e violento o que acabei de dizer, mas é assim que parece estarmos pensando, pois é assim que a conjuntura está nos levando a agir. Estamos classificando e excluindo pessoas, estamos preferindo uns e preterindo outros seres humanos. Parece mesmo que estamos deliberadamente conscientes e preparados para o fim e isso não nos traz nenhum constrangimento, desde que possamos ficar por aqui um pouco mais. Infelizmente somos diferentes da demais formas vivas e nunca pensamos como espécie. Somos egoístas ao extremo, pensamos e agimos apenas como indivíduos. Isto é, parece que idealizamos as coisas assim: “se eu puder me dar bem, o resto que se dane”.

Se quisermos de fato mudar a realidade próxima, precisamos priorizar determinadas coisas. Primeiramente devemos tratar todos os humanos como humanos, independente de qualquer outra coisa e depois devemos apenas tomar algumas atitudes relacionadas à manutenção do planeta e da continuidade da vida. Temos que dar urgentemente um basta no crescimento populacional humano; devemos minimizar o uso de recursos naturais utilizando apenas o que for indispensável e acabando com os supérfluos; necessitamos diminuir progressivamente o contingente de todos os tipos de resíduos através de reciclagem, reaproveitamento, readequação e tratamento; precisamos manter os bancos genéticos primitivos criando e ampliando as áreas de Unidades de Conservação e também temos que garantir a recuperação das áreas degradadas.

O homem como espécie, assim como as demais espécies do planeta, vive à custa daquilo que o planeta pode oferecer, mas nós abusamos desse direito e assim estamos historicamente atrapalhando todas as espécies do planeta, mas prejudicamos principalmente a nós mesmos. Infelizmente, ainda não conseguimos entender que somos muito mais dependentes do planeta do que as demais espécies. A vida humana certamente se extinguirá um dia, mas esse dia não precisa estar tão próximo quanto está parecendo. Para adiar ao máximo essa possibilidade, basta apenas que nós humanos realmente queiramos nos dar conta do erro que estamos cometendo e que trabalhemos com afinco para que esse dia demore a chegar.

Nós humanos somos a única espécie planetária que tem capacidade de pensar e assim também somos a única capaz de modificar o presente para produzir um futuro diferente do que se anuncia na Terra, porque temos conhecimento científico e porque podemos desenvolver mecanismos tecnológicos que nos possibilitem programar e estabelecer um novo futuro. Entretanto, qualquer que seja o resultado do futuro, também só haverá uma espécie responsável. Espero que reflitamos bem sobre esse fato e partamos para corrigir os nossos erros do passado e criar um futuro promissor.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (53) é Biólogo; Professor de Ensino Superior, Médio e Técnico; Escritor; Ambientalista;

Membro da Academia Caçapavense de Letras; foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava.