FUTURO INCERTO

Luiz Eduardo Corrêa Lima

Até bem recentemente uma espécie de alerta geral demonstrava que as pessoas estavam bastante preocupadas com o Aquecimento Global, com a destruição dos Ambientes Naturais, com os Transgênicos, com a Energia Nuclear e outras coisas de grande impacto planetário. Entretanto, agora está parecendo que tudo passou e que essas coisas deixaram de ser importantes e preocupantes ou passaram a ser coisas boas de uma hora para outra, porque, simplesmente, não se fala mais nada sobre nenhuma delas e muito menos sobre suas possíveis consequências. Na verdade, tenho a impressão de que as pessoas estão conformadas com a desgraça e os governos, por sua vez, estão muito satisfeitos com a manutenção desse status quo. Em particular, o Governo brasileiro, que nunca se preocupou muito com nada na área ambiental, embora tenha tido uma Ministra bastante preocupada com o Meio Ambiente.

As últimas reuniões do G8 não decidiram absolutamente nada sobre as questões ambientais. Enquanto isso, aqui no Brasil as emissões de Gás Carbônico na atmosfera em consequência das queimadas, o desmatamento descontrolado, o plantio de essências de interesse estritamente econômico para fins de “reflorestamento” e outros absurdos ambientais continuam ocorrendo sem nenhum controle em todo o país. Vejam os exemplos a seguir.

Na Amazônia está em franco andamento à construção da Transoceânica ou Trans-pacífica, ou ainda Transamazônica Oriental (nome é o que não falta), que, aliás, mostra que o governo Petista não é tão diferente do Governo Militar de algumas décadas atrás, o qual já sonhava e projetava esse absurdo que corta a Amazônia e os Andes, só para termos uma saída (entenda estrada) para o Pacífico. Ainda na Amazônia, as Usinas Hidrelétricas no Rio Madeira.

Na Bahia, precisamente na região de Ilhéus, marco histórico do Descobrimento desse país e que por isso mesmo deveria ser preservado, está sendo desenvolvido um Complexo Logístico que envolve a construção de um Porto, de uma Ferrovia e de um Aeroporto em área nobre que irá desmatar pelo menos 680 hectares de Mata Atlântica nativa. Ainda no Nordeste, a famigerada transposição do Rio São Francisco. No Rio de Janeiro está confirmada mais uma Usina Nuclear, além de várias outras pelo país afora.

Aqui na região estão sendo construídas duas novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) entre Lavrinhas e Queluz, que tiveram parecer negativo de todos os órgãos ambientais locais. Além disso, já existem vários municípios batendo e mesmo superando a marca de 10% e suas áreas cobertas pela Monocultura do Eucalipto.

Parece mesmo que os argumentos sobre Créditos de Carbono, o MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo) e Reciclagem de Materiais estão resolvendo todos os problemas ambientais. Todo mundo, de repente, vende créditos de carbono, mesmo que seja replantando eucalipto, desenvolve novas tecnologias para degradar menos, recicla tudo o que pode e acha que assim está tudo resolvido. A natureza que se vire e os recursos naturais que se danem, porque nós continuamos a usá-los indiscriminadamente, só que agora damos um jeitinho de iludir a opinião pública e minorar o tamanho da desgraça. De uma hora para outra, a questão ambiental parece ter sido resolvida mesmo. Em alguns casos ele parece ter deixado de existir. O mundo todo está bem e o nosso país melhor ainda, não há degradação ambiental e nem há crise econômica mundial.

Ora meus amigos, isso é uma falácia, uma enganação, porque, ao contrário do que estão tentando nos mostrar, todos (os que querem ver) sabem que a situação está cada vez pior e tudo que temos conseguido fazer é minimizar alguns problemas localizados em alguns lugares ou em algumas situações definidas, mas que nada representam perto do todo. A situação ambiental do planeta é grave e está cada vez mais caótica e isso também agrava a situação econômica, pois a escassez de recursos naturais e o crescimento da demanda levam ao aumento generalizado dos preços.

Sendo assim, por que a mídia não está marretando sobre esse fato? Por que a mídia não fala mais no Esgotamento dos Recursos Naturais, nem no Aquecimento Global (que agora já virou Esquecimento Global)? Por que a população, pelo menos aqui no Brasil, emudeceu e não reclama mais de nada? Por que os governos, em particular o Governo Brasileiro, não tomam as devidas previdências para, pelo menos, manter a discussão aquecida? Por que estamos todos pensando que os problemas ambientais, simplesmente, não existem ou estamos esperando que a Previdência Divina nos acene com as soluções de todos eles?

Não sei, mas sinto que há algo de muito esquisito no ar. Como diz o ditado: “há algo de podre no Reino da Dinamarca”, ou talvez na “poderosa, perfeita e conservadora” Democracia Americana, que mantém o maior país consumidor e destruidor dos recursos naturais do planeta e que interfere diretamente, tanto do ponto de vista político, quanto administrativo em todos os outros países do globo terrestre. Penso que essa é a principal causa do emudecimento do mundo, em particular da mídia, que infelizmente também costuma seguir os preceitos e interesses americanos.

Entretanto, é preciso deixar claro ao mundo, que não é justo que numa Terra com mais de 6 bilhões e 500 milhões de habitantes e cerca de 250 países, apenas um único país, que possui cerca de 4% de toda população do planeta, consuma cerca de 40% de todo o recurso natural que o planeta possui e, o que é pior ainda, produza, em contra partida, quase 50% de todo o resíduo. Isso é, no mínimo, uma imoralidade, além de ser uma total desconsideração com o resto do globo. Principalmente se for considerado que em muitos dos demais 96% da população, há quem não use absolutamente nada dos recursos naturais do planeta, ou que use apenas para a sua subsistência. É preciso que todos os países do mundo cobrem dos americanos a responsabilidade que eles têm com o restante do planeta.

Tomara que eu esteja errado, mas não acredito muito em grandes mudanças, com o novo Presidente eleito nos Estados Unidos, Barack Obama. Aliás, que fique claro, eu também votaria nele, até porque o outro era a certeza da continuidade dos absurdos. Pelo menos, no que se refere ao Meio Ambiente e aos problemas ambientais, acho que o Obama (que me lembra sob vários aspectos, além da sonoridade do nome, um certo Osama), vai continuar mantendo o drama, a política e a postura caseira do Bush. Isto é, aquela idéia mais ou menos assim: “Deus salve a América e o resto do mundo que se dane”.

Penso que dias mais negros (sem trocadilho ou preconceito pela raça do Presidente Eleito) nos esperam. Quando digo nós, estou pensando em todo o mundo, inclusive nos próprios americanos, embora a maioria deles não vão entende o porquê. O mundo ainda não viu nada. Infelizmente, creio que o pior está por vir, porque a pressão econômica será extremamente grande por causa da crise instalada. Mas vamos esperar e, mais uma vez, tomara que eu esteja errado.

Enquanto isso, aqui no Brasil, o governo está radiante e oficializa na maior tranquilidade a destruição da Amazônia, faz festa com novas reservas de petróleo, inventa mais inúmeras PCHs absurdas, diminui o tempo do Licenciamento Ambiental e o mais engraçado de tudo: diz que está fazendo Desenvolvimento Sustentável e ainda acredita que é o melhor governo que o país já teve. Ora, isso só pode ser piada.

Se não bastasse isso, é bom lembrar que ainda tem Ministra achando que: “o pessoal do Meio Ambiente só atrapalha o desenvolvimento” e o pior é que tem Presidente que tem a cara de pau de dizer que o País está bem e que a crise não nos afeta, apesar das grandes empresas estarem demitindo ou dando férias coletivas. O Brasil parece mesmo uma ilha isolada do resto do mundo e infelizmente vai continuar assim, enquanto nós não aprendermos a votar e não mudarmos a nossa postura frente às questões ambientais, que hoje são as mais importantes de todas.

Luiz Eduardo Corrêa Lima (52) é Biólogo, Pesquisador, Ambientalista, Escritor, Professor de Ensino Superior e Médio, Membro da Academia Caçapavense de Letras e foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Caçapava