Breve consideração sobre o pós-positivismo e a política atual
O pós-positivismo nada mais é do que uma convergência de racionalismos apta a criticar a estrita legalidade e suplantar a premissa de validade objetiva da norma jurídica. O simples fato de não conter qualquer vício formal, por muito tempo, foi suficiente sustentáculo à inércia do universo jurídico-filosófico, permitindo, ao cabo, a implementação da solução de conveniência, puramente pelo fato de não ferir formalmente a lei escrita.
Em que pese o inestimável valor da ciência de Kelsen, o arcabouço construído por sua mente brilhante há muito deixou de ser a moldura da ciência que se buscava - para tomar emprestada a célebre metáfora - e passou à condição de elemento de um novo conjunto-universo jurídico. Nesse novo mundo, o racionalismo interage com a ponderação e a necessária relativização, ferramental filosófico imprescindível à perseguição do ideário de Justiça.
Concessa vênia para falsa simetria, apenas pelo fim didático, tem-se como conexa a esse pensamento, a noção de quão imitigável é a relevância da hermenêutica, fato que sói quedar-se incompreensível aos fundamentalistas dos dois extremos políticos, quais sejam, o individualista-libertário e o coletivista-regrador. De outro vértice, poder-se-ia argumentar que os extremos, na verdade, interpretam a norma de algum modo, porém sob o viés que lhes favoreça, o que não deixa de ser um exercício de abstração intelectual. Contudo, tal exercício, por sua viciada tendência monista, já se traduz em avara técnica e paupérrima compreensão.