Minha Carta às Moças e Moços (Jovens Advogadas e Advogados)
Hoje conversando com uma cliente, lhe disse que sou "pai e mãe da paciência", depois dela me agradecer por eu estar sendo com ela paciente. Como "pai", o advogado oferece proteção, segurança e orientação firme; por outro, como "mãe", proporciona acolhimento, empatia e paciência inabalável. Essa combinação é essencial, pois as pessoas, naturalmente, tendem a ficar mais irritadas e ansiosas quando confrontadas com problemas, especialmente aqueles que ameaçam sua estabilidade, segurança ou justiça em suas vidas.
Ser paciente, e eis aqui um conselho aos moços e moças que ora iniciam suas carreiras jurídicas, um conselho dado do alto dos meus trinta e dois anos de dedicação ao Direito, é fundamental à advocacia: Nós advogados e advogadas não somos apenas especialistas em leis, mas também portos seguros para aqueles que enfrentam tempestades em suas vidas. A paciência, nesse contexto, transcende a mera tolerância ou capacidade de esperar. Ela se torna uma ferramenta crucial de engajamento humano, permitindo navegar pelas águas turbulentas das emoções humanas, enquanto busca soluções jurídicas para os problemas que nos são confiados.
Esse aspecto emocional do trabalho jurídico é frequentemente subestimado, mas é vital para a construção de uma relação de confiança entre advogado e cliente. A habilidade de manter a calma diante da tempestade, de oferecer um ouvido atento e palavras de conforto, enquanto se desdobra para encontrar a melhor solução legal, é também fundamental, além de muita dedicação e estudo, para sermos bons advogados.
Além disso, a paciência é indispensável no próprio processo legal, que muitas vezes é lento e burocrático e, ainda quando nos deparamos com decisões absurdas, tomadas ao arrepio da lei e/ou contra as provas que produzimos. A capacidade de gerenciar as expectativas dos clientes, explicando-lhes os procedimentos, os prazos e as possibilidades de forma clara e tranquila, é fundamental, não apenas para mantê-los informados e engajados, sem alimentar falsas esperanças ou desespero, mas para que se sintam verdadeiramente acolhidos por estes indispensáveis e, infelizmente, pouco valorizados, profissionais do Direito, advogadas e advogados.
Por fim, o estudo e atualização contínuos emergem não apenas como uma necessidade, mas como um pilar fundamental para o advogado moderno. Estamos imersos em uma era de informações rápidas e mudanças legislativas frequentes, no qual aprendizado contínuo se impõe. Além de fortalecer a competência técnica, a educação contínua alimenta a curiosidade intelectual e a resiliência emocional, essenciais para enfrentar os desafios e as incertezas do dia a dia de nossa dura profissão.
Adriano Espindola Cavalheiro em 06.03.2024