O que sente um boi ao morrer?
A pistola de ar comprimido, o tiro na testa do animal que precisa ser certeiro a fim de alcançar a parte do cérebro em que vai ocorrer a insensibilização não garantem nada. Um estudo feito pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP apurou que “4,8% dos 2.150 animais acompanhados continuaram apresentando sinais de sensibilidade mesmo após terem passado pelo processo que deveria insensibilizá-los. Se aplicado no local correto, o método provoca morte cerebral instantânea e o boi fica insensibilizado, ou seja, não sente dor ao ser abatido”. A cifra de 4,8% é praticamente impossível de ser confirmada porque trata-se de sensibilidade e isto é uma reação interna individual, logo não há como ser medida e avaliada a não ser por aquele que sente. Há relatos de animais que, mesmo já pendurados após, supostamente inconscientes pelas marretadas ou tiros de pistola em suas testas, ainda mexiam os pés amarrados ao varal instantes antes de serem degolados. Logo, é duvidosa a afirmação de que o tiro ou a martelada os deixam totalmente inconscientes. A pesquisa ainda diz mais.
A pesquisa aponta que a calibragem correta da pistola e a o raio de distância do tiro em relação ao local recomendado para o disparo são os dois fatores que podem interferir neste processo. “A pistola precisa estar muito bem calibrada e o funcionário que faz a aplicação precisa acertar o alvo, localizado no meio da testa do animal”, explica o professor Augusto Hauber Gameiro, do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ, em Pirassununga. “Quanto mais próximo do alvo o tiro for dado, maior é a chance de insensibilização; ao mesmo tempo em que, quanto mais distante do alvo, maior será a chance de o animal não ser insensibilizado, sendo necessário um novo tiro, o que causará sofrimento ao boi”, descreve.
Os pesquisadores constataram que a calibragem correta da pistola hidráulica deve estar entre 160 e 190 psi (libra por polegada quadrada). E a distância do alvo deve ser próxima do zero. Se o tiro for dado a 1 centímetro do alvo, a probabilidade de o animal não ser insensibilizado é de, aproximadamente, 3%; se o tiro for dado a 8 centímetros do alvo, a chance de não haver insensibilização é de 12%. “Porém, nem sempre é fácil calibrar a pistola corretamente, além de ela ser pesada, chegando a quase quinze quilos”, conta o professor, lembrando que “também é preciso levar em conta que o animal pode conseguir se mexer durante a aplicação do disparo”.
Todos estes fatores comprovam que a violência não pode ser evitada no processo de abate de um animal. O sofrimento é inevitável. Ou seja, o ônus do processo de matança de um animal para servir de alimento é pesado demais para ser desprezado e cada um de nós carrega no inconsciente esse ônus, não importa se participamos ou não daquele ato. A análise tem que ser individual. Não adianta conhecermos detalhes do que ocorre se, ao entrarmos em um mercado de carnes e vermos expostos os pedaços do animal que foi abatido só pensarmos em nossos estômagos famintos e não levarmos em consideração a possibilidade de, um dia nos livrarmos desse costume impróprio. O mais significante nessa historia toda é que parte desse ônus secular que até hoje carregamos já nos influencia no nosso dia a dia e, somente através do despertar espiritual e da auto-análise iremos compreender com mais profundidade o que ocorre no interior de cada ser humano que tem por hábito ingerir carnes.