Platão e a mimesis : noêsis e eikasia

texto de Rubens Tiano

A arte foi e continua sendo um cenário de disputas e empasses de conceitos e configurações. Sempre se pensou arte e em arte.

Como diz Dufrenne (2004,23):

"Antes de construir conceitos ou máquinas, enquanto fabricava as primeiras ferramentas, o homem criou mitos e pintou imagens. Mas essa prioridade não pode ser reivindicada tanto pela religião, quanto pela arte?"

Assim percebemos o percurso da arte e as questões ligadas ao Belo nos pensamentos platônicos de forma tal que poderia levá-lo á fogueira pelas mãos dos artista, ou não.

É percebido claramente seu posicionamento nos diálogos de Fedro e Banquete acerca do belo na vida e na arte. Platão aponta que tudo o que existe no mundo participa da idéia de beleza, e esta, dentre todas as virtudes ( justiça , sabedoria) não apresentam tamanha luminosidade em cujo encanto é mais atraente. Esta exaltação do belo se desfaz frente a ação do artista, cujo ato, não aprendeu a contemplar, pois a arte requer a razão e seu artista descobre primeiro o mundo das idéias para poder alcançar tal beleza. É por meio da anamnese que se contempla a arte, por este meio de recordar as formas, este contato primaveril com a idéia.

Nesta descoberta o homem é levado a desvelar sutileza das coisas e esta emanação eleva seu espirito, instiga-o ao Eros. Esta trajetória, por meio da contemplação, abre as portas da alma para o amor e esta o apresenta a apreensão puramente intelectual da beleza, que é a própria idéia do Belo.

Platão aponta e esta caminhada um espectro florescente de luz a qual clareia o ambiente a medida que , por meio do intelecto, este se aproxima do sentido puro da beleza. Esta medida luminosa conecta- se a uma consciência mítica do Sol, como elemento da razão .

Assim, a analogia existente entre razão e luz é relatado pela primeira vez em Heráclito cujo elemento torna se o primeiro princípio da existência.

No entanto esta trajetória torna-se um equivoco ao ser apreendido pelos sentidos ao invés da razão, pois as questões referentes ao sensível falseia a verdade, a idéia. A Beleza para Platão apresenta sua totalidade em força e existência apenas no mundo das idéias e o mundo empírico é apenas um "parente pobre" (Blackburn,1997,192). Uma louça preparada por um designer não é em si perfeitamente redonda, pois existe um a natureza redonda perfeita no mundo das idéias cuja materialidade não expressa sua grandeza ,mas é algo próximo a esta natureza , desempenhando um papel importante em torno inteligível o mundo em que as coisas existem. A apreensão das formas torna-se assim um ideal do qual o filósofo tenta apropriar-se. Platão aponta a existência das formas universais e estas estão presentes , como imitação nas coisas particulares, mundo material.

Desta forma ele coloca o artista como um ilusionista, um falsário, visto que seu ato imita o não real; e as coisas já são imitações das suas formas, e as imitações das imitações nos afastam consideravelmente do conhecimento, das formas.

O artista , por vez não alcança o Belo ideal, mas é um corroborador da Eikasia, um promotor de sensações. Platão não atribui ao artista um papel significativo na tarefa de nos proporcionar o contato como as formas da beleza, ou com a Beleza em si.

A apreensão das formas constitui o conhecimento (noêsis) ao passo que a crença no mundo cotidiano é mutável e na melhor das hipóteses formula uma opinião (doxa).

O conhecimento é a recordação do contato que tivemos com as formas (supremo) antes de nossas almas imortais ficarem prisioneiras no corpo.

Esta noêsis era o tipo de conhecimento mais elevado imediatamente acima do conhecimento matemático. A sabedoria obtida apenas por aqueles que compreendem a natureza ou as maneiras do conhecimento, da justiça ou do bem. Desta forma em seu mito da linha, Platão categoriza um processo evolutivo do conhecimento.

Ao fundo está o mundo das imagens conhecidas apenas pela Eikasia, extasia, pela existência das sensações. Esta sensação oferece ao homem não um conhecimento sobre o objetos dos sentidos, mas sim uma pistis ou opiniões.

Já os objetos matemáticos e a ciências apresentam uma categoria diferente, pois estes independem nas sensações, visto que é uma conhecimento imutável a qual ficou denominada como dianoia ou raciocínio.

Por fim a noêsis, que é o conhecimento em si, esta abertura para o mundo um mundo supra-sensível, para o mundo das idéias.

Desta forma a arte é considerada um feito menor porque não alcança esta noêsis, a qual fica reduzida apenas á mimesis.

No mito das cavernas , a qual não é verdadeiramente um mito e sim uma alegoria, é apresentado no livro A República, no livro VII, 514-518, para mostrar os níveis em que nossa natureza pode ser iluminada.

Em primeira instancia encontra-se os prisioneiros, amordaçados de tal maneira que conseguem perceber apenas sombras na paredes das cavernas. São sombras difusos de objetos artificiais, cujo efeito , reflexo vem de uma fogueira. Para os prisioneiros , a realidade é constituída apenas por espectro destes objetos. Porém, caso um deles possa se soltar, poderá ir de encontro os objetos projetados, depois o fogo, caminhando em direção a uma luz maior que se encontra fora da caverna, ao o mundo real e, por fim o Sol. No entanto, caso volte e conte o ocorrido aos aprisionados, estes não entenderão e o acusará de louco. Platão diz que a ascensão descrita simboliza a viagem da alma até o inteligível ( as formas ) ; um encontro como o real.

Se a vida deve ser um devir á busca da iluminação, um encontro como o bem e o bom, a arte não seria um caminho coerente para o encontro do mesmo , pois esta só trabalhará como as imagens , as quais é imitações da Forma, cujo resultado das experiências desaguariam ao engano, afastando-o da luz do conhecimento, da noêsis.

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Bibliografias

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BLACKBURN,Simon. Dicionário Oxford de filosofia.Rio de JAneiro: Jorge Zahar, 1997

DUFRENNE, Mikel. Estética e filosofia. São Paulo: Perspectiva, 2004.

HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003

LACOSTE, Jean. A filosofia da arte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1986.

PETTA, Nicola Luiza de. História- uma abordagem integrada. 1ª ed. São Paulo: Moderna,1999

PLATÃO. O Banquete. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

PLATÃO. Diálogos: Menon-Banquete-Fedro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

SCHULER, Donaldo. Eros: dialética e retórica. 2ª ed. Sâo Paulo: Edusp,2007.

Rubens Tiano
Enviado por Rubens Tiano em 19/04/2008
Reeditado em 11/11/2010
Código do texto: T953368