Gaston Bachelard e a anima : o feminino na criação poética
“ Ao encontro das imagens originais os símbolos repousam e levantam “
texto de Rubens Tiano
Cada ciência apresenta uma visão diferenciada a respeito do objeto observado. Um antropólogo poder olhar, por exemplo, para uma pedra por meio de um ponto de vista religioso, enquanto um geógrafo poderá vê- la como um mineral, material oriunda de um determinado tipo de solo.
O objeto no entanto é o mesmo, elemento fixo. Ele não muda de forma, de cor, quer esteja nas mãos de um ou de outro. Mas as abstrações, os conceitos e as formas de olhar, ver, são diferenciadas nas concepções de valores.
Estes valores são representações da mente, um elo subjetivo existente entre os mundo: externo e psíquico. Este processo do ser e do representar existe um jogo, um entrave entre razão e sentido, entre existência ( fato) e ser (conceito).
Por esta razão existem Bachelard acredita que o entendimento do mundo tomado pelas questões empíricas do mundo levaria o homem ao encontro de inúmeros véu, visto que as concepções são filtros que mascaram a realidade.
No entanto, por meio das imagem do devaneio, Bachelard encontra um meio de burlar a censura da pura imagem.
Então, para se chegar á esta claridade das razão é necessário desvelar a persona e encontrar as imagens primaveris do ser humano. Neste processo, Bachelard apropria-se da fenomenologia para comunicar-se com a consciência dinâmica da criação. Este fenômeno, pré - ato da criação, torna-se então objeto de estudo. Nem ao objeto material , nem ao objeto formal , mas ao dínamo da criação, a alma da arte. Por meio da fenomenologia, as imagens poéticas são alcançadas em sua fonte, em seu impulso imaginado, cuja finalidade encontra-se, se-gundo BACHELARD(2007,pág.3):
“[...] em acentuar-lhes a virtude de origem, em apreender o próprio ser de sua originalidade e em beneficiar-se, assim da insigne produti-dade psíquica que é a imaginação.”
Ao seguir o mesmo raciocínio, de forma retroativa, encontramos o percurso proposto pelo filósofo: que á imaginação é fruto da produtivida-de da psique, e esta poderá nos revelar a origem das coisas. Este ins-
tante da psique, a imagem primordial, revela a inovação e trás um crescimento á consciência, uma amplitude dos espaços em detrimento á projeção luminoso; este é um devir de uma psique vigorosa.
Será no devaneio poético(idem,pág7) que estas imagens serão recebidas e ouvidas em sua polifonia dos sentidos. Bachelard , então, o coloca como uma chave do conhecimento, uma ferramenta a qual poderá abrir a porta do mais íntimo símbolo. Segundo Busnardo(2008), os “[...] símbolos nos servem para representar o conhecimento adqui- do pelo homem e para explicá-lo, servem para explicar os aspectos inconscientes da percepção da realidade e servem, também, para representar os acontecimentos que não tomamos conhecimento[...]”. A imaginação em certos devaneio poéticos “ ilustra um bem-estar” (idem,pág11), confere uma amplitude de vida e qual nos confere um passo além da ponte , para mundos belos; é “um pouco de matéria noturna esquecida na claridade do dia ” (idem , pág 10 ). Este “[...] mundo sonhado ensina-nos possibilidades de engrandecimento de nos-so ser nesse universo que é o nosso” (idem,pág.8) e confere “[...] eu um não-eu que é o bem do eu: o não-eu meu”(idem,pág13) .
Este devaneio , apresenta –o, em sua dualidade, em seus universos, onde se mesclam vida diurno e noturna.
Para o olhar de Apolo-Prometeu , Bachelard vê a clareza metaforizada da consciência., um estado de vigília e atenção. Nele se encontra o dia e a luz trazida á margem do mundo pela chama de Prometeu.
Este caminho mítico narra sua trajetória acerca da ciência e da razão. Porem ao se tratar dos processos da racionalidade, aberta por Bachelard, é importante abster a estagnação de um estado pressuposto e dogmático, mas sim , um ater se ao sentido de razão científica que caminha e encontra na imagem sua porta para o novo. Para Durand (1989, p.120), o fogo apresenta o ser ”ígneo da luz".
E o devaneio na emergência das imagens ao consciente torna-se um fenômeno do coração e da alma.
O método fenomenológico encontra-se marcado por dois aspectos fundamentais de seu método : a repercussão e a ressonância .
A repercussão é um estado da alma a qual o sonhador é conduzido ao interior de sua alma pela extasia, Eikasia; e o ” [ ...] fenomenólogo pode despertar sua consciência poética a partir de mil imagens que dormem nos livros” (Bachelard,2007, pág.7).
A imagem poética nascente torna-se então um “ [...] origem absoluta, uma origem de consciência. Nas horas de grande achados, uma imagem poética pode ser o germe de um mundo, o germe de um universo imaginado diante do devaneio de um poeta.”(Bachelard,2007,pág.1).
Neste processo a epifania toma a sua alma e este sente o desejo de falar; alcança assim a ressonância, a percussão da alma por meio da voz.
Segundo Bachelard, a o sublime encontrado neste novo evento da percepção “[...] reanima origens, renova e redobra alegria de maravilhar-se. Ao maravilhamento acrescenta-se, em poesia, a alegria de falar.”
(Bachelard,2007,pag.3).
Neste processo, a qual abre aos portas do conhecimento da alma, Bachelard anima um estado feminino e sublime do ser em detrimento a cientificidade , masculina, da razão e do pensamento de sua época. Jung atribui ao animus o “logos paterno” a qual afirma que a lógica e a razão são qualificação masculinas (Cloninger,1999, pág.85).
Ao fazer um apontamento a qual direciona seu trabalho á anima como base relevante ao estudo do devaneio, afirma:
“O devaneio vivido no sossego do dia, na paz do repouso –o devaneio verdadeiramente natural -, é a potência mesma do ser em repouso. É verdadeiramente, para todo ser humana, homem ou mulher, um dos estados femininos da alma. Quem aceitar seguir esses índices [...] regressará a esse gineceu das lembranças que é toda memória, memória antiquíssima.” (Bachelard,2007,pág19)
Ao apropriando-se nos estudos de C.G.Jung, Bachelard integra o devaneio ao caracter de anima.
É nesta anima que encontrará elementos os quais fundamentariam a filosofia do repouso, este descanso da alma que repõe a doçura da vida e a paz no trato do viver. Por meio deste encaminhamento da alma a consciência lhe devolve a infância, natureza esta , que animará diversos setores da vida adulta.
Este recuo da consciência confere ao poeta a sinceridade do poema e para isso seria necessário o afastamento do animus e seu estado de controle e vigília racional.
Para que haja arte e criação a química, a ciência e matemática na categoria de homem diurno deverá adormecer para que o homem noturno e sua poética seja despertada.
Isto só poderá acontecer no instante em que houver um encontro com infância e um estado de analise material de espaço ao subjetivo a eikasia das imagens .
E como diz Delacroix (Lacoste,1986,pág 55):
”Imaginação – É a primeira qualidade do artista”
Bibliografias
BACHELARD, Gaston. A Poética do Devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BUSNARDO, Antonio Filho. Arte e Representação Simbólica. in. Revista Educação /UNG.2008
CLONINGER, Susan C. Teorias da personalidade. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
DURAND, G. Mito, símbolo e mitologia. Lisboa: Editorial Presença, 1982.
LACOSTE, Jean. A filosofia da arte. Rio de Janeiro.: Jorge Zahar, 1986.