A essência da ARTE

A essência da ARTE

(por Thaís Falleiros)

A essência da Arte é a sinceridade! O artista que perde a genuinidade da arte, o artista que se rende ao mercado e faz arte, antes, para lucrar, perde a conexão com público, e, portanto, a arte se perde dele. Dinheiro é importante sim, mas este nunca deve ser o objetivo inicial. O autêntico - real, puro e verdadeiro - é que chega nos corações e faz a arte existir.

E eu explico. Como atriz contadora de histórias, vi aos poucos, a minha conexão com o público desaparecendo. Dia após dia, espetáculo após espetáculo, apresentação após apresentação, o público mais sincero que existe – o infantil, não prestando mais atenção em mim, não tendo mais interesse em ouvir minhas histórias. Achei que o tempo tinha passado para mim, achei que eu estava velha para contar histórias, achei que a culpa poderia ser das crianças, achei que era hora de parar. Mas aquilo me doía e eu procurava uma resposta clara do porquê.

Sempre fui muito filósofa, questionadora e o achismo me corroía a alma. Mesmo quando eu tentava “deixar pra lá”, a pulga ainda ficava atrás da orelha. Pensei, pensei, por meses. Até que a resposta veio: todas as últimas vezes que contei histórias, eu mesma estava desrespeitando a arte e o público, de alguma maneira sentia isso. Eu ia para um evento (aniversário, escola, evento público ou privado), no modo automático, me vestia, como quem se este para ir trabalhar no banco, no comércio, no escritório, e repetia o que eu já tinha feito milhares de vezes.

Claro, sei que hoje em dia está cada vez mais difícil fazer arte porque, é comprovado cientificamente não sei por quem e visível a olhos nus, o tempo de atenção diminuiu (por influência de redes sociais, vídeos curtos, ansiedade, excesso de informações etc.) Mas ainda sim, eu acredito que, o que está na essência do ser humano fica, permanece, perpetua, mesmo que adormecido. E ouvir histórias é intrínseco ao ser humano, pois ouve-se histórias desde a época das cavernas. Ou seja, para fazer arte, seja ela qual for, é necessário fazer com o coração, com verdade, com sinceridade, pois o público sente (talvez não entenda, mas sente).

Com isso, não quero incentivar ainda mais a desvalorização do artista (claro que não!); já passei por muitas situações em que me pediram para fazer teatro, contação de histórias, recreação (etc.), de maneira gratuita, como se eu não tivesse contas para pagar. Estamos num mundo capitalista e nossa arte é o nosso ganha-pão. Nós, artistas, precisamos ser também empresários, produtores culturais, marketeiros, vendedores e muitas outras funções além da arte. Precisamos falar de preços, mas no momento de fazer ARTE, ela deve ser a soberana. Os olhos têm que percorrer outros olhos, o corpo, a alma, a respiração, têm que estar no presente...

A arte sem verdade, não é arte. Não dá para fazer no automático, não dá para fazer na repetição, não dá para fazer somente para lucrar. Talvez por isso seja que nós, artistas, soframos tanto. Nós vivemos a dicotomia eterna do precisar sobreviver de arte e querer viver da arte.

Thaís Falleiros
Enviado por Thaís Falleiros em 20/10/2024
Reeditado em 20/10/2024
Código do texto: T8177868
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