Autoestima coletiva
Desenvolvi um aguçado senso de observação sobre o meu comportamento e o das pessoas com as quais interajo, mesmo que ocasionalmente.
A pergunta que me faço incessantemente é: Como praticar atitudes que levem a coletividade a um ambiente propício à paz e à compreensão entre as pessoas, respeitadas as individualidades?
Resido num apartamento em um prédio localizado em bairro de classe média, na Ci9dade do Rio de Janeiro, numa rua residencial paralela a importante artéria com intensa circulação de veículos, transportes coletivos e comércio variado. Ao caminhar, pelas manhãs, passei a observar o comportamento da coletividade. Saio do prédio e passo a cumprimentar as pessoas pelas quais cruzo ao acaso. São desconhecidos, em sua grande maioria. Pessoas que saem de seus lares, pessoas que chegam aos seus locais de trabalho. Pessoas que levam seus animais de estimação para o passeio matinal. De tudo um pouco na dinâmica social.
Em geral, nessa rua residencial e em sua transversal as pessoas retribuem o cumprimento. Algumas com timidez, mas com cortesia, dizem: bom dia; outras são esfuziantes e complementam com algo tipo: boa semana, saúde e paz, etc. e tal. No entanto, quando chego à principal artéria o comportamento é totalmente diferente. Meus cumprimentos ficam no “vácuo”. Deixo de ser retribuído em meus cumprimentos. O bom dia caí no vazio, fica perdido exceto quando dirigidos aos garis que fazem o seu trabalho da limpeza urbana no anonimato. Estes, invariavelmente retribuem com visível alegria. São reconhecidos como pessoas que são! Igualmente agem as pessoas em situação de rua.
Esse laboratório (assim chamemos ...) me levou a observar o quanto a comunidade que integro há mais de 50 anos modificou o seu senso de pertencimento ao bairro. Seja em grupos do tipo WhatsApp e redes de relacionamentos, em reuniões de conselhos comunitários, em encontros sociais, os indivíduos pouco prezam o gentílico que nos distinguem junto a todos os cariocas: Tijucano!
As pessoas parecem menos comunicativas. Esse tipo de isolamento social pode ser observado até mesmo dentro dos prédios. Indivíduos residem como vizinhos, mas levando em consideração o prédio como um todo nem sempre convivem socialmente.
Então, o que pode ser feito para reverter essa tendência e propiciar uma oportunidade para o aumento do senso de pertencimento social? Penso que a iniciativa de propor um movimento para o reforço e consolidação da autoestima coletiva seja possível. Será demorado, desafiante, mas gratificante e possível. Respeitar as individualidades é fundamental. Respeitar as diferenças em geral é a essência da pluralidade social. Mas aproximar e valorizar os que nos é comum é igualmente frutuoso.
Pois que fique nesse artigo lançada a iniciativa de unir esforços dos diferentes em valorizar os que nos é igual e comum. O cuidado com nossas ruas e praças, a valorização daqueles que nos servem, a gentileza como um hábito no trato interpessoal ... enfim, pequenas atitudes transformadoras que nos tragam de volta o senso do legítimo orgulho de sermos quem somos e nos considerarmos membros importantes em nossa coletividade. Somos gotas do oceano. E como tal podemos agir no cotidiano fazendo a parte que nos toca.
O paulista José Datrino, nascido em Cafelândia e vivido no Rio de Janeiro, se viu inspirado no pós incêndio do Gran Circus Norte-Americano, ocorrido em Niterói deixando mortas mais de 500 pessoas, em sua maioria crianças, em 1961, transformando-se a partir desse triste episódio no Profeta Gentileza. Hoje é figura notabilizada pela denominação do recém inaugurado Terminal Intermodal Gentileza, e pregava: Gentileza Gera Gentileza. E sua pregação foi plantada em solo fértil e generoso: o nosso coração.
O Profeta se valeu das colunas do Elevado do Gasômetro para as suas pinturas, hoje revitalizadas junto ao Terminal que leva o seu nome, como suas telas urbanas. Apagaram tudo, mas a mensagem ficou perene. Marisa Monte fez a sua parte com a canção Gentileza:
https://www.youtube.com/watch?v=mpDHQVhyUrY
Apagaram tudo pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta.
Apagaram tudo pintaram tudo de cinza, só ficou no muro tristeza e tinta fresca.
Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza,
Por isso eu pergunto a você no mundo, se é mais inteligente o livro ou a sabedoria.
O mundo é uma escola, a vida é o circo Amor: Palavra que liberta já dizia o profeta.
E aqui vale o reforço: Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade, seja qual for o nosso domicílio, merecemos lembrar as letras e as palavras de Gentileza. Af9nal, amor é a palavra que liberta!
E Você, que prestigia com sua leitura essas reflexões, se dispõe a revitalizar o senso de autoestima coletiva do local em que habita? Fica aqui a minha palavra de incentivo e esperança.