Cada dia uma nova alegria
Em dois dias seguidos neste mês de agosto de 2024 as colunas de obituários da grande mídia deram destaque a duas personalidades que encerram seus ciclos de vida.
Um brasileiro, carioca de nascimento em 1930, filho de imigrantes, ao atingir seus 93 anos de vida, concluiu sua jornada em São Paulo deixando como legado mais que as suas realizações como comunicador e empresário. Fica a imagem da alegria contagiante.
Por outro lado, um francês, filho de pais separados, encerra sua vida aos 88 anos, em Douchy, França, com a imagem de um ator e empresário cuja fama esparramou seu glamour por todo o mundo enquanto jovem astro do cinema, e que “encarava com amargor a velhice, passando os últimos meses em depressão” (sic O Globo).
Senor Abravanel teve uma trajetória desafiante. De camelo na Lapa (onde nasceu no Rio de Janeiro) a comunicador e fundador de uma rede de televisão, adotou desde cedo o nome artístico de fácil assimilação pelo seu público e pelo qual se consagrou: Silvio Santos.
Cinco aos depois, em Sceaux, Borgonha, França, nascia Alain Fabien Maurice Marcel Delon. Quando em 1957 foi descoberto por sua beleza por cineastas famosos, adotou o nome que o destacaria na indústria cinematográfica internacional e em vários ramos da moda: Alain Delon.
Silvio Santos optou por passar seus últimos anos de vida em seu seio familiar, com sua esposa e 6 filhas, transmitindo sempre a alegria de viver e o seu sorriso largo. Alain Delon em 2022 anunciou publicamente a sua intenção de se submeter a um procedimento de suicídio assistido (o que é legalmente permitido na Suiça).
Com o avançar dos anos é natural que em meu círculo social eu conviva com pessoas já septuagenárias como eu. Alguns com um pouco mais, outros com um pouco menos. Dirigi durante mais de 15 anos um fundo de pensão e, nessa atividade profissional, lidei com um público-alvo com variadas faixas etárias que investiam seu capital, tempo e esperança, na perspectiva da aposentadoria com dignidade. Viver e usufruir da vida era a meta de todos.
Pela minha andança, percebo que a diferença entre essas duas personalidades que nos deixam vai muito além das culturas dos países em que nasceram e viveram. Trata-se de uma opção.
Tivemos no Rio de Janeiro um Secretário de Fazenda, de lamentável memória, que em suas inúmeras entrevistas matinais sobre seus desafios, dizia arrogantemente aos jornalistas que o entrevistavam: Cada dia uma nova agonia! Vixe! Eesbanjava pessimismo. Mas, como a natureza nos ensina, os tempos passaram, os desafios se transformaram, e a sociedade se viu livre desse pessimista de plantão.
Na contramão de pessoas com essa atitude, temos outros que superam os obstáculos sempre com uma autêntica positividade. São inúmeros os exemplos e apenas para exemplificá-los tenho o privilégio de contar com a amizade do paleontólogo austro-brasileiro Alexander Kellner, Diretor do Museu Nacional, que se viu diante do inacreditável incêndio que destruiu a instituição que dirigia e que, sem arredar pé de seu entusiasmo pela vida, lança o slogan com o qual reergue aquele centro de cultura: O Museu Nacional Vive! E como vive, através do entusiasmo que esse já sexagenário homem transmite a todos aqueles com os quais tem contato. Seu entusiasmo é de tal ordem que agora conclama em artigo publicado em O Globo: Com maior participação, poderemos transformar o Museu Nacional no Louvre brasileiro. Sem dúvida que o faremos. Como aprendemos com Santo Agostinho: palavras inspiram, exemplos arrastam. E o exemplo do Diretor do Museu Nacional nos reboca a essa trajetória de sucesso.
Encerro essa breve reflexão homenageando todos aqueles que me inspiram a levar a vida com leveza. A todas as pessoas que me fazem acordar a cada dia com a alegria de viver. Os amargurados, que sigam a sua trilha.