Português, idioma para a Paz

Tenho dedicado boa parte de minha vida em participar de situações que contribuam para a compreensão entre as pessoas e, por consequência, ao ambiente propício à paz.

Longe de ser o único, estou ombreado com homens e mulheres que atuam nessa mesma direção, o que me traz conforto espiritual.

No ambiente acadêmico e associativo me inspiro em identificar meios para que mais e mais construtores da paz, como costumo me autodenominar e tratar as pessoas que pensam e agem com esse espírito, possam atuar. E agora, ao ser guindado à comunidade Elista, percebo com clareza o português como um importante meio de união entre todos os que se valem desse rico idioma como sua língua oficial.

Diferenças de várias ordens podem fazer aguçar discordâncias, sejam quais forem as razões que possam nos levar a conflitos.

No entanto, um valor está sempre a nos unir: o idioma. Classes sociais diferentes se entendem; entre regiões temos sutis e charmosas formas de falar, mas sem que haja qualquer dialeto nesse país continental. Desde um passado longínquo o português se firmou como idioma predominante e capaz de promover a compreensão, mesmo entre os de distintas camadas sociais, políticas, econômicas, ideológicas ou de qualquer outra origem.

O português nos une. Promove o entendimento entre 215 milhões de brasileiros e estreita as relações entre povos do além-mar. Estima-se que sejamos aproximadamente 300 milhões de falantes espalhados por 3 continentes e 10 países.

É, amigos e amigas a quem dirijo estas palavras em bom português: Portugal deve sentir profundo orgulho de ter concebido e aprimorado desde tempos imemoriais esse patrimônio capaz de unir, jamais dividir ou separar.

Vinicius de Moraes, o nosso poetinha, escreveu em 1969 as seguintes palavras sobre a Pátria Mãe de nosso idioma: A gentileza humana parece ter feito seu último reduto em Portugal. E quando eu falo em gentileza, dou-lhe quase a acepção medieval de amor cortês, de medida, de mesura. É um povo incapaz de levantar a voz, e ninguém pense que por covardia, mas por uma boa educação instintiva e um senso de afetividade.

Que adiantam o superdesenvolvimento e a kultura (assim mesmo com k) de um povo, como dois ou três que eu conheço, se neles a relação humana torna-se cada dia mais difícil e indesejável diante de um outro tipo de ignorância bem mais perigoso a longo prazo, como esse da reserva e falta de diálogo; da submissão a preconceitos econômicos falsos na verdadeira escala de valores; do aburguesamento progressivo e da mesmificação do mais pessoal dos meios de comunicação, que é a linguagem? Que qualidade é mais a prezar no ser humano, exceto se for a gentileza, o gosto de conviver, a boa vontade em cooperar, em socorrer, em dar-se um pouco em tudo o que se faz, desde trabalhar a amar, desde comer a cantar, desde criar no plano intelectual a fazer no plano industrial ou agrícola?

Obrigado, Portugal! No contato de tuas gentes, teus escritores e teus artistas, teus estudantes e teus simples - teu povinho das brancas aldeias! - eu senti que há ainda muito isso que cada dia mais falta ao mundo: carinho e sinceridade. Represados, talvez, nas latentes como o sangue sob a pele, e prontos a romper a crosta criada a duras penas, ao longo de um passado tão cheio de sacrifícios e infortúnios.

Certamente Vinicius sabia interpretar as características do povo que nos tornou, a todos os falantes da língua portuguesa, os legatários de tamanho patrimônio que edifica a paz entre os diferentes, sejam lá quais forem as diferenças.

Vinicius de Moraes há de dar vida longa e próspera ao Elos Club Cidade Maravilhosa que traz seu nome no batismo. Vinicius, nascido e apaixonado pelo bairro da Gávea, estará na plataforma do alto do mastro da nave da vida, a nos inspirar com suas letras, poemas e canções, a colaborar com a comunidade lusíada promovendo a congregação de valores humanos dispostos a defender e promover a boa compreensão entre os povos de todo o mundo.

E como afirmou Fernando Pessoa, valendo-se de seu heterônimo Bernardo Soares, recordo o seu dizer em A Minha Pátria é a Língua Portuguesa: Longe de qualquer sentimento político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa

E já que Fernando Pessoa é citado, impossível terminar essas linhas, diante do desafio e da honra que me são confiados em implantar a unidade de Elos Club Cidade Maravilhosa – Vinicus de Moraes, sem lembrar e adaptar parte de seu poema intitulado Padrão:

O esforço é grande e o homem é pequeno.

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, será minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.