O EDUCADOR SE ETERNIZA EM CADA SER QUE EDUCA. (PAULO FREIRE)

 

Segundo Paulo Freire para que a educação seja de qualidade, deve contribuir com o desenvolvimento cognitivo e a formação da autonomia intelectual das crianças, dos jovens e dos adultos. A sua metodologia tinha como base uma maneira de educar conectada ao cotidiano dos estudantes e às suas vivências. Afirmava que o bom professor precisa, além de amar a sua profissão, ser afetivo, respeitoso e criativo. O seu dia a dia é um constante desafio.

A sua filosofia baseia-se no diálogo entre professor e aluno, procurando transformar o estudante em um aprendiz ativo. No livro “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire coloca o papel da educação como um ato político, que liberta os indivíduos por meio da “consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”.

Foi em 1974, cheia de sonhos e de projetos, que cheguei às salas de aulas. Ao longo destes anos, nem tudo foi perfeito, mas sempre busquei soluções coerentes e harmônicas, a fim de não gerar dissabores. Fiz da Escrita e da Leitura atividades envolventes e agradáveis. Aos poucos, vi o fascínio pelo ato de criar e o prazer do mergulhar no real e no imaginário ganhar vida. Os atos de ler e de escrever, além de lhes proporcionarem um excelente exercício intelectual e lhes aguçarem a subjetividade, também lhes ensinaram a lidar com as adversidades da vida. Falar de Paulo Freire e destes cinquenta anos como educadora é vivenciar sentimentos e emoções indizíveis. Os encontros foram e são repletos de singularidade e de afetividade. Por aliarmos saber, criatividade e companherismo, em inúmeras ocasiões, tivemos encontros de reflexões profundas e de olhares conscientes sobre a realidade do mundo. Vejo cada estudante como voz, som e fonte, que ao se espalhar por entre a polifonia da cidade, rompe com os limites do concreto, permitindo-se o compartilhamento de sonhos e de expectativas quanto ao amanhã, numa convivência frutífera e harmonizadora de diferenças.

Ao desenvolver o meu trabalho, objetivo promover a evolução das habilidades e das competências socioemocionais. Nossos jovens precisam estar preparados para lidarem com os outros e com suas vidas de forma sustentável e respeitosa.

Tenho certeza de que, assim como os alunos nos deixam marcas profundas e belíssimas lembranças, nós educadores nos eternizamos em cada ser que educamos. É importante que, diariamente, alimentamos com seriedade e perseverança os seus ideais.

Planejar, avaliar e construir alternativas multimodais para motivar a aprendizagem e aperfeiçoar os processos de ensino, sem dúvida, exigem muito amor, dedicação e empenho. Com frequência, lembro meus alunos de que não devem ter, em momento algum, a pretensão de afirmarem que nunca erraram ou errarão, uma vez que  o não cometer erros está fora de nosso alcance. Como na sala de aula, façamos de erros e enganos um trampolim para ampliar os conhecimentos.

Todo professor deve oportunizar espaço para que os estudantes pensem e reflitam sobre a realidade, ao invés de aceitar passivamente o que os meios de comunicação divulgam. Hoje, a maioria dos professores dominam as novas tecnologias e as utilizam como aliadas em benefício dos processos de ensino-aprendizagem.

Há trinta anos, trabalho numa escola inclusa que tem como proposta filosófica e pedagógica a afetividade, o respeito às diferenças, a solidariedade, a autoconfiança, a responsabilidade e a liberdade, levando em consideração que a missão de educar encontra-se, cada vez mais difícil, vivemos num mundo conturbado e escasso de valores éticos.

Tenho realizado o processo educacional de forma democrática e adequada à realidade dos alunos, reconhecendo-os como seres capazes de assimilarem aprendizados e desenvolverem habilidades, mesmo apresentando diferenças e limitações, não demonstrando a eles ansiedade com a padronização de conhecimentos e, sim, com a busca constante do seu crescimento e do seu aperfeiçoamento.

Uso currículos diferentes e procuro novas alternativas de aprendizagem aos educadores. A minha responsabilidade e objetivo é preparar jovens aptos a tomarem decisões éticas respeitosas em relação a si e aos outros, proposta que exige muito por ser trabalhosa; todavia, é extremamente gratificante e enriquecedora.

A inclusão tem sido bastante positiva, pois favorece o crescimento de todos, ensinando o respeito às diferenças entre alunos, professores e funcionários. Essa metodologia mostra-nos que as diferenças não são enfraquecedoras, pelo contrário, fortalecem-nos, tendo como principais focos, respeitá-las e tratá-las com a atenção e carinho, algo raro nos dias atuais. Nessa troca e convívio aprendemos que nada nos impede de sonhar. Diferenças são detalhes em uma jornada que se tem como tema o sucesso. A formação de vínculos, nos grupos, ocorre com naturalidade, sem se preocupar com o que o outro possa pensar. A cada ano, no término, a certeza de que iniciamos o ano letivo de uma forma e encerramos com mais sabedoria, sensibilidade e esperança com o que virá pela frente. Paulo Freire, em diversos momentos, disse que: "É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática”. O bom educador deve contribuir ativamente para a formação de pessoas autônomas, críticas, criativas e solidárias, cidadãos preparados para realizarem escolhas para amenizarem questões de um mundo cheio de inovações. Muito ouvi: “Não consigo! Não sei!” Mas, não desisti!  Com amor e carinho, aos poucos, consegui demonstrar a familiares e a estudantes que competências podem ser aprendidas. Pelos escritos da meninada, no decorrer dos encontros, constatei que, para a maioria, a produção textual e a leitura lhes propiciaram e propiciam enriquecimento da linguagem e requisitos gramaticais.

Fiz do magistério, lazer e arte. Educar tem me oportunizado fascinante exercício intelectual. A cada encontro, o ensejo da descoberta e um andar novo, repleto de mistérios e de surpresas, necessários para viver e encontrar novas habilidades e competências. Nesse universo, não vejo tempestades, embora ocorram situações imprevisíveis e inesperadas. Como educadora, meu dia a dia é um constante inovar, não há mesmice nem rotina, é um velejar em águas de grandes e belas emoções. Com respeito e confiança, acalento sonhos, sustento habilidade, disciplina e encanto a todos com muita afetividade. “Para mim, é impossível existir sem sonho. A vida, na sua totalidade, ensinou-me como grande lição que é impossível assumi-la sem risco”.

Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 20/07/2024
Código do texto: T8111203
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.