O NOVO BISPO DE GARANHUNS

Recentemente o papa Francisco nomeou o padre incardinado ao clero da diocese de Sobral – Agnaldo Temóteo da Silveira – para desempenhar seu múnus sacerdotal como bispo diocesano de Garanhuns.

A primeira grande circunscrição eclesiástica que tivemos em Pernambuco foi a diocese de Olinda, ereta em 1676, sufragânea da arquidiocese primaz do Brasil, São Salvador da Bahia.

Fruto de um tempo onde o Império de Portugal dominava tudo e se imiscuía nos assuntos eclesiásticos, via padroado, tornando a vida eclesial no Brasil muito complexa e difícil para o trabalho de evangelização, de início no período colonial e, pari passu, no Brasil imperial. Quase tudo dependia do beneplácito do Imperador e muito do que se decidia era através da chamada Mesa da Consciência e Ordens, relativamente ao que concernia aos clérigos pobres.

Raras eram as dioceses espalhadas pelo território nacional nos tempos do Império. Quando houve a Proclamação da República a Igreja do Brasil tinha quase duas dezenas de dioceses, bem menos que o México com quase trinta e os Estados Unidos com mais de vinte.

A diocese de Olinda abrangia os limites de todo o Nordeste brasileiro, excetuando-se a Bahia e Sergipe del Rey. Grandes bispos pontificaram em seu solo, a exemplo de D. Francisco Aranha, D. Joaquim Azeredo Coutinho, D. Vital e D. Hélder Câmara, dentre outros.

Com o novo regime de governo – a República – a Igreja concretizou aquilo que já tentara fazer, sem sucesso, ainda sob o governo de D. Pedro II, a expansão do número de dioceses pelo País. E a então diocese de Olinda tornou-se arquidiocese acoplando o termo “Recife” somente em 1918 quando são criadas as dioceses de Garanhuns e Nazaré da Mata. Houve a transferência de sede episcopal de Floresta – criada em 1910 – para Pesqueira ainda em 1918.

Escolhida Garanhuns para sede episcopal foi nomeado um padre filho de Nazaré da Mata, João Tavares de Moura, para primeiro bispo. D. Moura fez brilhante episcopado num período de forte coronelismo e banditismo rural crescente ante um Estado inerte à violência.

O segundo bispo, paraibano, veio da diocese baiana de Ilhéus onde exerceu suas primícias episcopais por mais de uma década. Viveu os tempos duros efervescentes do Cangaço na região do Agreste. Substituído por um gaúcho de nascimento e aracajuano por adoção, D. Mário de Miranda Vilas Boas, terceiro bispo, padre de D. José Tomás da Silva, então bispo de Aracaju, formado a partir da reestruturação da Igreja no Brasil pós monarquia. Era D. Mário um dos maiores oradores sacros da sua época.

Outro bispo que fora colega de D. Mário de Miranda no clero de Aracaju viria a substituí-lo em Garanhuns. Filho de Sergipe da poderosa família Britto, D. Juvêncio Britto, igual Dom Paiva, exerceu seu ministério episcopal em Caitité até ser transferido para Garanhuns como seu quarto pastor.

Findo o pastorado de D. Juvêncio Britto após quase uma década, substituiu-lhe um sobralense como o quinto bispo. Provindo da diocese de Oeiras, Piauí, D. Francisco Expedito Lopes toma assento no sólio diocesano garanhuense. Profundamente ultramontano e muito sério finda seu ministério alvejado por um padre do seu próprio clero, Hosana de Siqueira.

Substitui a D. Expedito um potiguar, D. José Adelino Dantas, em 1958, proveniente da diocese de Caicó. Historiador e escritor fez extensa pesquisa acerca da criação da paróquia primaz da diocese de Garanhuns, Águas Belas, ereta por dom Francisco Xavier Aranha nos idos de 1766.

Transferido para a diocese baiana de Ruy Barbosa, D. Adelino Dantas tem o sétimo titular empossado em Garanhuns – 1967 –, D. Milton Corrêa Pereira, paraense de Cametá e que pouco se demorou em terras pernambucanas, transmutado para Manaus. Implementou as reformas do Concílio Vaticano II na Diocese, trabalho iniciado por seu antecessor, D. Adelino.

Em 1974 assume os rumos da diocese de Garanhuns um europeu, D. Tiago Postma, holandês que já estava no Brasil havia certo tempo. Foi o bispo mais longevo no exercício do ministério episcopal, quando, resignando ao seu pastoreio deu lugar a D. Irineu Roque Scherer, em 1998, um gaúcho incardinado à diocese de Toledo. D. Tiago e D. Irineu foram pastores de forma diversa, cada qual com seu estilo, porém, ambos importantes na caminhada eclesial local.

Mais recente D. Fernando José Guimarães, um redentorista filho de Santo Afonso, recifense, assumiu a Diocese em 2008 até ser nomeado bispo castrense. Sucedeu-lhe outro paraibano, D. Paulo Jackson Nóbrega de Souza, em 2015 e agora no sólio de Olinda e Recife.

O novo bispo chegará com muitos desafios distribuídos por regiões diversas da diocese de Garanhuns, espalhados por 26 municípios com realidades distintas. Virá de uma diocese com forte entrelaçamento com Garanhuns, uma vez que D. Moura teve como um dos ordenantes D. José Tupinambá da Frota, primeiro bispo de Sobral, terra do grande padre-mestre Ibiapina.