O SEXO NO CINEMA

O sexo no cinema é um artifício usado muito amiúde pelos produtores e diretores de cinema, assim como a nudez, ora para chamar mais público, ora pela importância na narrativa. Algumas produções fazem uso imprescindível desse recurso; outras o usam de forma puramente apelativa e gratuita. Irei tentar elencar alguns filmes cuja questão do sexo é protagonista e a impressão que causam em mim.

 

Love (2015, Gaspar Noé)

 

Eu gosto muito do cinema de Gaspar Noé. Para mim, ele tem um cinema visceral e filosófico que faz uso de violência e sexo, mas não levianamente; elas são cruciais para contar a história. Mas em *Love* ele se perdeu. Parece um "sexual trip" do diretor que queria filmar um ménage à trois em 3D. Filme vazio e sem sentido, que eu vi no cinema 3D me sentindo o próprio Travis Bickle. Nem a trilha sonora com "Maggot Brain" do Funkadelic salvou o filme.

 

9 Canções (2004, Michael Winterbottom)

 

Esse filme sim deveria se chamar amor. É a antítese do filme do Gaspar Noé. Se Noé fizesse um bom trabalho com seu *Love*, ele seria *9 Canções*.

 

Ele mostra o relacionamento do casal num amor de verão ao longo de 9 shows numa trilha magistral, com Franz Ferdinand, The Dandy Warhols e Black Rebel Motorcycle Club. É um filme muito bonito cujo sexo é fundamental para você adentrar na intimidade do casal, até o momento da saciedade impossível. Sexo e música boa, era difícil resultar num filme ruim.

 

Shame (2011, Steve McQueen)

 

Filme do diretor negro Steve McQueen. É sobre um viciado em sexo que, por conta do vício, se coloca em situações degradantes. É bom notar que, apesar disso, ele tem uma vida bem-sucedida, com um trabalho legal e um apartamento bom. Mas o vício o faz procurar conteúdo pornô até mesmo no trabalho. E também ele faz uso de álcool e drogas ilícitas, mas não ao ponto do vício. O maior problema dele é o sexo. Filme muito bom que não poderia ser concebido sem as cenas de sexo, obviamente.

 

Ninfomaníaca Parte 1 e 2 (2013, Lars von Trier)

 

Do brilhante Lars von Trier, cuja temática do sexo está presente em muitos dos seus filmes, como em *Ondas do Destino* e *Dogville*, mas em *Ninfomaníaca* ele passou muito do ponto. Acompanha a vida de uma ninfomaníaca desde a juventude até a idade adulta e como essa condição trouxe diversos problemas para ela. Ela relata tudo para uma espécie de assexuado culto, que pontua seus episódios com várias citações culturais, mas no final ele tenta abusá-la. É mais uma "sexual ego trip" do diretor. Eu não gostei. Pior filme do diretor dinamarquês na minha opinião. Eu vi no cinema.

 

Jovem e Bela (2013, François Ozon)

 

Uma garota de classe média decide aventurar-se como garota de programa. Do excelente diretor e polêmico François Ozon. Me parece uma homenagem a *A Bela da Tarde* de Luis Buñuel. Filme muito instigante e bem dirigido.

 

Azul é a Cor Mais Quente (2013, Abdellatif Kechiche)

 

Um relacionamento lésbico que fetichiza quem está a fim de ver duas moças jovens e bonitas se pegando. Um soft porn, mas cuja trama principal da vida de Adèle é tão fascinante quanto. Será que ela é homossexual mesmo ou está atrás só de experiências? O filme deixa no ar. Vi no cinema.

 

Último Tango em Paris (1972, Bernardo Bertolucci)

 

Bernardo Bertolucci fez um filme meio erótico que eu gosto muito, que é *Os Sonhadores*, mas nunca o perdoei por usar dois dos meus atores prediletos, Jean-Pierre Léaud e Marlon Brando, para dar vazão a seus anseios de ordem sexual. A cena mais famosa envolvendo manteiga do filme é abjeta para o meu gosto pessoal. Filme totalmente esquecível.

 

Kids (1995, Larry Clark)

 

O filme acompanha uma série de jovens problemáticos da periferia cuja diversão é usar drogas e fazer festas, algumas das quais rolavam encontros promíscuos. Filme importante ao abordar o problema da AIDS. Uma espécie de Don Juan tinha AIDS e não se importava em passar a doença para quem se relacionava.

 

Enter the Void (2009, Gaspar Noé)

 

Para citar agora um filme bom de Gaspar Noé, cujo tema é inovador. Um jovem traficante de drogas vivendo em Tóquio, estrangeiro, morre. Mas ele continua vivenciando as experiências fora do seu corpo pós-morte. O filme tecnicamente é brilhante. Uma das cenas principais é um travelling que Noé faz num motel de Tóquio mostrando a intimidade dos casais. Filme muito interessante ao mostrar uma subcultura japonesa. Japoneses são certinhos, mas quando dão para ser loucos não brincam em serviço.

 

 

De Olhos Bem Fechados (1999, Stanley Kubrick)

 

Eu assisti a este filme pela primeira vez quando era uma criança, quase adolescente. Fiquei aterrorizado com o que vi. Assisti até o final por motivos pouco nobres, admito. Vocês têm que entender que, naquela época, era difícil ver nudez na era pré-internet. Depois, quando revi o filme com um olhar já adulto, ainda voltei a ficar aterrorizado. Até hoje, não entendi completamente sobre o que é o filme. Acho que é sobre o medo da traição. Para mim, este é o filme mais fraco de Stanley Kubrick, mas ainda assim tem uma fotografia deslumbrante, cenas impressionantes e toques do humor inconfundível do diretor.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 16/06/2024
Reeditado em 18/06/2024
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