ESQUIZOANÁLISE: Uma Alternativa à PSICANÁLISE
A parceria entre o psicanalista Félix Guattari e o filósofo francês Gilles Deleuze rendeu um livro revolucionário que cria um novo método de análise em contraposição ao modelo tradicional da psicanálise proposto por Freud, que via o inconsciente como um teatro de representações, com o dilema de Édipo no centro do conflito. Para Guattari e Deleuze, pelo contrário, o inconsciente é uma fábrica, uma usina impulsionada por máquinas desejantes. Para eles, a natureza humana é uma natureza de máquinas desejantes de objetos parciais que se conectam entre si, como peças de Lego; o desejo faz fluir um fluxo que outra máquina corta, como o seio e a boca do bebê que o suga, e isso está em toda parte.
“Há tão somente máquinas em toda parte, e sem qualquer metáfora: máquinas de máquinas, com seus acoplamentos, suas conexões. Uma máquina-órgão é conectada a uma máquina-fonte: esta emite um fluxo que a outra corta. O seio é uma máquina que produz leite, e a boca, uma máquina acoplada a ela.” - Anti-Édipo
Anti-Édipo combina dispositivos da filosofia, literatura, antropologia, arte, economia, ciência, política e biologia para produzir uma obra única e por vezes polêmica.
Outra crítica que os dois pensadores franceses fazem é ao método séptico dos atendimentos no divã, no qual há uma relação de poder entre o psicanalista e o paciente, que fica prostrado no divã recebendo impassivelmente as sugestões do analista.
Por isso, na esquizoanálise, eles propõem que o método de atendimento seja no ambiente do esquizo, preferencialmente ao ar livre, onde se capta com mais naturalidade a relação do analisado com a natureza.
“Passeio do Esquizo
O passeio do esquizofrênico é um modelo melhor do que o do neurótico deitado no divã. Um pouco de ar livre, uma relação com o exterior. Por exemplo, o passeio de Lenz, reconstituído por Büchner, é diferente dos momentos em que Lenz se encontra na casa do seu bom pastor, que o força a se ajustar socialmente em relação ao Deus da religião, em relação ao pai, à mãe. No seu passeio, ao contrário, ele está nas montanhas, sob a neve, com outros deuses ou sem deus algum, sem família, sem pai nem mãe, com a natureza. “O que deseja meu pai? Ele pode oferecer-me mais? Impossível! Deixem-me em paz.” Tudo compõe uma máquina. Máquinas celestes, as estrelas ou o arco-íris, máquinas alpinas que se acoplam com as do seu corpo. Ruído ininterrupto de máquinas. Ele “achava que deveria ser uma sensação de infinita felicidade ser tocado assim pela vida primitiva de toda a espécie, ter sensibilidade para as rochas, os metais, para a água e as plantas, captar em si mesmo, como num sonho, toda criatura da natureza, da mesma maneira como as flores absorvem o ar com o crescer e o minguar da lua”. Ser máquina clorofílica ou de fotossíntese ou, pelo menos, enlear seu corpo como peça em tais máquinas. “ - Anti-Edipo
Contudo, a principal crítica dos dois pensadores franceses ao trabalho de Freud é o conceito de Édipo, que se enquadra muito bem com a cultura greco-romana clássica da formação educacional de Freud. No entanto, para funcionar, precisa-se compreender uma família tradicional, com pai, mãe e filho. O que dizer de uma família brasileira da periferia, onde muitas vezes a figura paterna abandonou a família?
Por todas essas críticas, a obra Anti-Édipo é considerada premente e revolucionária