O QUE É LER BEM?

Ler bem não é simplesmente ler muito. Vivemos na era da imagem, mas ainda assim, muito se escreve, embora grande parte seja conteúdo superficial através das redes sociais. Nesta era moderna, há uma proliferação de informações, livros e conteúdos de baixa qualidade. Cabe a nós filtrar o que é bom do que não presta, separar o joio do trigo, como se costuma dizer. Por isso, o trabalho de curadoria realizado por alguns é fundamental.

Dependendo do tipo de literatura que consumimos, podemos nos tornar mais ignorantes em vez de intelectualmente mais enriquecidos. Por exemplo, alguém que só consome fake news ficará cada vez mais desinformado e menos inteligente. Engana-se quem pensa que ler bem é ler rápido; aqui, ser eficaz não importa tanto quanto ser eficiente, ou seja, o que realmente importa é o que você retém do conteúdo ao ler e, mais importante ainda, o que você faz com esse conhecimento.

Um livro de filosofia, por exemplo, não possui uma história a ser assimilada, portanto, o importante não é chegar ao final, mas sim o que você aprende, tira como lição e absorve com o livro. Nietzsche escrevia que seus livros deveriam ser "ruminados", não apenas lidos, como se fossem capim. Eu mesmo, por incrível que pareça, nunca cheguei a terminar "Assim Falou Zaratustra", mas é um dos livros que mais leio e releio, e a cada leitura aprendo algo novo, dando-lhe um novo significado.

Deleuze falava que o importante na leitura é o que acontece ENTRE as linhas. O encontro entre a subjetividade do autor e a do leitor faz surgir algo novo, alguma síntese, entre quem lê o livro e quem o escreveu, e isso é o mais valioso. Ao ler uma obra, podemos adquirir um pouco do repertório de quem a escreveu e isso se encontra com o nosso próprio.

Por isso, sou um grande crítico do conhecimento obtido por meio do Google e da Wikipedia. Apesar de oferecerem uma base de informação, nunca será conhecimento sólido e verdadeiro. Eles devem ser ferramentas de apoio, para fornecer uma base, não uma muleta. Não existe intelectual de Wikipedia e no ChatGPT. Sinceramente, dependendo do que se lê, é melhor não ler nada. 
 

Mas a privação de muitos brasileiros do acesso a livros é um crime civilizatório. O saudoso Ziraldo, que nos deixou recentemente, disse que os livros deveriam vir com a cesta básica, pois fazem parte do desenvolvimento humano, e eu não poderia concordar mais.