A NATUREZA HUMANA: Vontade de chance
No livro “Vontade de Chance”, Georges Bataille, filósofo e escritor francês, tenta criar uma nova definição para o que Nietzsche chamou de “vontade de poder”, visando compreender a natureza humana. Ele acreditava que essa busca pelo poder igual pensava Nietzsche, se incorporada para fins políticos, poderia ter fins trágicos, como evidenciado durante o nazismo, por isso Bataille acreditava que a natureza humana seria moralmente melhor compreendida como "Vontade de Chance".
Georges Bataille escreveu seu livro em 1969, muito após os desdobramentos do nazismo. Mas o que é “vontade de chance”?
“Chance” é o movimento que o ser faz ao agir, colocando-se em jogo e rolando a roda da vida, esperando pelo resultado da roleta. Se o resultado for favorável, ele ganhará mais fichas para continuar jogando o jogo da vida, mas também pode perder tudo. É, portanto, a ousadia de fazer um movimento de aposta para ver se o acaso lhe será favorável.
Ao colocar sua chance em jogo, o ser total arrisca sua totalidade, pois ao agir, divide seu ser. O sentimento de dilaceração do ser, que antes era uma totalidade, é a angústia. Há uma vontade interna que impulsiona o ser a se colocar em jogo, um desejo absoluto que nos faz buscar o outro: a vontade de obter mais fichas, mais chances. O outro está situado além do nosso ser, portanto, é o nada.
É a presença do nada que sentimos ao constatar que o outro ainda nos falta, que não está submetido à nossa vontade, que ele se inclina na direção do seu nada, e não na direção do nosso ser. A vontade de chance é um instinto ao qual nosso ser responde e tem como objetivo, ao realizar sua jogada, arrastar tudo que existe para dentro de nosso próprio ser. Quando conseguimos, aumentamos nossas chances; se perdemos, estas diminuem.
Perdemos quando os outros seres não se curvam à nossa jogada e se inclinam para seu próprio nada. É nossa própria energia que apostamos quando colocamos nossas chances em jogo, e o sentimento de dilaceramento quando perdemos é o resultado da derrota.
Para Bataille, a natureza humana seria melhor explicada como essa vontade de chance do que como vontade de potência. Pois a vontade de potência é uma busca implacável do ser por obter mais potência, diferente da vontade de chance, que ainda concede certa autonomia ao ser para controlar-se ou apostar no jogo da vida.