A FILOSOFIA "ANTES" e "DEPOIS" de NIETZSCHE

Um pequeno sobrevoo na história da filosofia para eu poder contextualizar a importância do pensamento de Nietzsche.

 

A filosofia começa com os pré-socráticos, um termo meio inconclusivo que serve para descrever uma gama de filósofos que tinham pensamentos diferentes entre si.

 

Há os filósofos pré-socráticos dos elementos da natureza que tentam explicar o universo através de uma substância primordial, como a água, terra, fogo e ar. Nomes como Tales de Mileto e Empédocles defendiam essa tese. Outro pré-socrático importante foi Heráclito, com seu conceito de devir, que tudo está em constante mudança no mundo, e que seria impossível nadar no mesmo rio duas vezes, porque quando eu entrar nele a segunda vez, ele já será outro. Há o opositor dele, que é Parmênides, com seu conceito de que o ser é uno, imutável, eterno e indivisível, e que o mundo sensível das mudanças e aparências era apenas uma ilusão, pensamento precursor do conceito de alma. E há o Demócrito, com sua teoria atomista que foi o primeiro a falar em átomo. A maioria dos escritos dos pré-socráticos se perderam e chegaram a nós só através de fragmentos. A maioria das informações que sabemos deles chegaram até nós pelos escritos de filósofos posteriores como Platão e Aristóteles.

 

Depois dos pré-socráticos, há o Sócrates, que não deixou nada escrito, assim como Buda ou Jesus Cristo, tudo que sabemos dele chegou até nós pelo pensamento de terceiros, em sua maioria, os diálogos de Platão. Sócrates é o filósofo da dialética e maiêutica, que seria a técnica de parir novos pensamentos, fazendo alusão a uma parteira, e chegar na verdade. Já Platão é o filósofo da dualidade, dizendo que o ser humano é composto de corpo e alma, e que o corpo sente e a alma pensa. E criou o mundo das ideias, na sua famosa parábola da caverna. Quem está aprisionado na caverna só conhece a realidade da caverna e conhece o mundo real por sombras. E o mundo das ideias seria o real e o mundo sensível, dos sentidos, é o falso, porque está sujeito a mudanças. Platão também estabeleceu o que seria uma república ideal, com obra de mesmo nome. Para ele, ela seria governada pelo filósofo-rei.

 

Depois veio Aristóteles com a sua teoria das 4 causas: causa material, causa eficiente, causa formal e causa final. Essas quatro causas representam uma abordagem holística para entender a realidade e são centrais para a metafísica e a filosofia natural de Aristóteles. Aristóteles também é o filósofo da ética, com sua obra Ética à Nicomaco, que era o nome do seu filho.

 

Depois houve a Idade Média, na qual se sobrepos o pensamento da igreja e a filosofia se tornou escolástica, agora já não se questionava a origem do mundo, já que Deus é a causa dele, mas se explicam conceitos puramente filosóficos. Nomes proeminentes desse movimento são Tomás de Aquino, Santo Agostinho e outros santos da igreja.

 

Depois desse período obscurantista da Idade Média, chegamos à época das luzes, dos grandes enciclopedistas e dos filósofos que enalteciam a razão, como Descartes, Diderot, Rousseau e Kant. Agora é o ser humano o centro do mundo, o pensamento deve estar alinhado com as descobertas científicas, de Galileu e Copérnico, que descobriram que a Terra não é o centro do universo. Por isso há um trabalho intelectual dos seres humanos para definirem o que é certo e errado, sem contar com Deus, em regras estritamente humanas, valendo-se da razão. Também é a era da moralidade, que Kant é o mais proeminente filósofo, com seu conceito de imperativo categórico e suas críticas do juízo, críticas da razão prática e da razão pura.

 

E é nesse contexto histórico que no século XIX surgiu Nietzsche, que criticaria boa parte dos filósofos estabelecidos. Ele faria a crítica do niilismo, que é todo aquele que se baseia em realidades supraterrenas para poder viver como uma espécie de muleta metafísica, entre nesse balaio os religiosos, os comunistas que querem uma sociedade ideal e todos aqueles que creem em conceitos morais ideais ou além-mundos. Nietzsche é o filósofo da sabedoria da terra, ou gaia ciência, que preconiza que a realidade da terra é a única realidade real do mundo, e que o mundo das ideias, de Platão, é uma invenção de filósofos. Quando Nietzsche afirma que Deus está morto, não é uma crítica somente à religião, mas ao niilismo cujo Deus é o maior representante.

 

Nietzsche também é o filósofo da vontade de potência, que afirma que o ser humano nada mais é do que uma fonte de energia que ora aumenta ora diminui. Quando aumenta nos sentimos felizes e quando diminui ficamos tristes. E afirma que o objetivo do ser humano e do gene egoísta é sempre obter mais energia. Nietzsche também é o filósofo contra a moralidade formal kantiana, que ele diz que há apenas duas morais, a dos nobres e dos ressentidos.

 

Eu fiz todo esse preâmbulo para dizer da importância do pensamento de Nietzsche porque há alguns ignorantes que nunca leram a obra dele, que afirmam que ele é simplesmente um narcisista, ególatra e sifilítico, desconsiderando que ele dinamitou todo o pensamento que veio antes dele e fundou o que é conhecido como pós-modernidade.

 

E também é vil e obtuso as teses segundo as quais tentam liga-lo com o nazismo. Nietzsche era contra aos antissemitas e por isso brigou com sua irmã, que era antissemita. Mas depois que ele morreu o trabalho dele foi modificado pela sua irmã para se alinhar mais com as doutrinas de Hitler. Mas não quero dizer com isso que Nietzsche era bom moço, pelo contrário, mas o pensamento dele não era político, mas é possível que o nazismo tenha incorporado boa parte da filosofia para elaborar sua tese de eugenia ariana, mas Nietzsche via nisso só mais uma forma de niilismo.

 

Agora li um texto de um beócio aqui no Recanto que tenta relacionar a doutrina INCEL com o pensamento de Nietzsche, desvirtuando-o todo. Ora, os incels são o símbolo mais arrematado de niilismo, com seu ódio pelas mulheres e falta de valorização de si mesmo, tanto de aparência como intelectual. Tudo que eles fazem é destruir. E a filosofia de Nietzsche, a do super-homem que há no livro do Zaratustra, é uma filosofia da criação de valores, seja através da arte externa ou a criação de si mesmo como obra de arte. É uma filosofia criadora e por isso tem eco nos principais filósofos que vieram posterior a ele, como Foucault, Deleuze, George Bataille e Dave Le Dave, embora AINDA anônimo.

 

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 11/04/2024
Reeditado em 11/04/2024
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