O início da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES

O início da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES

"São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra imbustes e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós príncipe da milícia celeste, pela Divino Poder, precipitai no inferno a satanás e a todos os espíritos malignos, que andam pelo mundo para perder as almas. Amém!"

O Comendador José de Aguiar Valim e Luís Francisco de Carvalho, fizeram iniciar, em 29 de setembro de 1858, a construção de uma capela em louvor ao Padroeiro do dia, São Miguel Arcanjo, que seria inaugurada em 29 de setembro de 1860. Esse fato, futuramente, influenciaria nos destinos do lugar que, em 1943, seria denominado de Guaçuí.

Antes, porém, é importante ressaltar que consta no Livro de Tombo Nº 01, da Paróquia de São Miguel Arcanjo, a transcrição de uma escritura registrada no Livro de Notas do Cartório do Tabelião Custódio Martins Carneiro, que reza o seguinte:

“... Que no dia 09 de novembro de 1863, a Sra. Alzira Maria do Espírito Santo, o Sr. João José Justino Maria, o Sr. Alexandre Pereira Monteiro e outros, fizeram uma doação de terras, num total de um alqueire a São Bom Jesus do Veado”.

Doação efetuada com as bênçãos do Pe. Antônio Bento Machado

Consta ainda que mais tarde, outra doação foi feita:

"... Que os Srs. José Benedito Viana e Silvestre Joaquim da Rosa doaram terras, num total de dois alqueires a São Bom Jesus, com escritura particular, datada de 23 de novembro de 1869".

Doação efetuada com as bênçãos do Padre Pe Antônio Marrani

Em 1872 chegará ao povoado o senhor Padre Jeronymo Pinto Velozo que além de trazer conforto espiritual para os fiéis paroquianos devotos de São Miguel Arcanjo, trás consigo uma máquina de pilar café, pois a região já havia iniciado o plantio para a exploração desse produto. Esse padre, porém, por dezesseis anos prestará serviços à comunidade aqui existente, bem como, incentivará, com seus conhecimentos, a plantação do café e fará construir ao largo da pequena Capela de São Miguel um prédio onde se instalou a sua máquina de pilar café e que serviu, também, como depósito de produtos rurais. Aquele prédio, no século seguinte, se transformará em um educandário.

Será por seu intermédio que os primeiros escravos da região começão a ser alforriados, como é o caso daqueles que eram de propriedade de Dona Anna Antônia e, também, do senhor Alferes Luiz Francisco de Carvalho. Apesar de todo seu dianamismo e entusiasmo, ele será subtituído, em 1888, pelo Padre Joaquim Martins Teixeira.

Padre Joaquim Martins Teixeira prestará serviços à Paróquia até o ano de 1902 e será em sua administração que se iniciarão alguns conflitos oriundos da invasão das terras paroquiais. Isto, porque em 1895, a capela que aqui foi erigida, ainda estava sob a jurisdição do bispado de Mariana. Todavia, neste mesmo ano, a pequena Paróquia seria submetida à jurisdição do recém criado bispado da Província do Espírito Santo com sede em Vitória, que será administrada pelo senhor Bispo Dom João Batista Ferreira Nery, que surpreenderá a Paróquia, visitando-a, em 1902, acompanhado de uma comitiva formada por 50 cavaleiros, para dar posse ao Padre Pe. Bianor Emílio Aranha.

É importante frisar que, de 1863 a 1903, as terras da igreja foram sendo, paulatinamente, invadidas, fato que gerou a "Cobrança de Aforamento". Esta cobrança foi causa de conflitos entre os padres administradores da paróquia e alguns fiéis. Entretanto, durante aqueles quarenta anos, apesar dos conflitos, nada foi feito. Mesmo assim, foi somente a partir do início do século XX que a situação começou a se resolver, uma vez que o senhor Bispo diocesano, Dom João Batista Ferreira Nery, durante o período de sua visita à Paróquia, quis regularizar tudo a respeito do patrimônio paroquial, o que o fez nomear, em 1903, um padre para intermediar a questão e, ainda, para tratar das medições das terras, o Pe. José Lidwin que imediatamente deu início a à solução de problemas concernentes à "Cobranças de Aforamento" cujas contas começaram a ser pagas pelos fiéis invasores, o que permitiu a paróquia quitar os impostos referentes a ambas as doações das terras que foram, respectivamente, efetuadas à Paróquia, nos anos de 1863 e 1869. Consta, ainda, no Cartório do Tabelião Custódio Martins Carneiro que os impostos foram quitados pelo Pe. Bianor Emílio Aranha, no dia 30 de abril de 1904.

É evidente que muitos dos que haviam invadidos as terras paroquiais devolveram os valores devidos à Paróquia. Porém, registra-se que somente o Senhor Custódio Martins Carneiro e D. Maria Ambrozina Castro, cumpriram a missão de devolver à Igreja os valores referentes à Cobrança de Aforamento. Ainda assim, muitos deixaram tanto a paróquia quanto a diocese no prejuízo, pois sonegaram o pagamento dos valores devidos, mas há que se acreditar que foram perdoados de suas dívidas.

7.9 Relação dos padres que atuaram, de 1859 a 1918, na Paróquia de São Miguel Arcanjo

01 1859 a 1866 Pe. Antônio Bento Machado

02 1866 a 1872 Pe Antônio Marrani

03 1872 a 1888 Pe Jeronymo Pinto Velozo

04 1888 a 1902 Pe. Joaquim Martins Teixeira

05 1902 a 1918 Pe. Bianor Emílio Aranha

Será o Padre Bianor Emílio Aranha quem acolherá, na Paróquia, ao Padre Miguel de Sanctis. Um padre que se destacará pela sua autenticidade e suas inigualáveis virtudes, no desempenho de suas funções, bem como, pela sua fortaleza inexpugnável para o engrandecimento do Cristianismo nas Terras de São Miguel. A sua fé inquebrantável e a sua fibra de herói, o patentearão como o Vigário apostólico que suportava valentemente, frente as dificuldades, as fadigas do caminho.

Nova Matriz

Em decorrência dos conflitos das Cobranças de Aforamento, iniciados no final do século anterior, conforme citamos no capítulo sete deste livro, foi somente a partir de 1919 que se pensou em construir uma nova Matriz, pois, foi graças aos serviços prestados pelo competente senhor Edward Emery que se regularizaram os bens da Igreja e, em decorrência deste seu ato, foi possível iniciar as obras da Matriz tão logo a planta fosse aprovada pelo Senhor Bispo diocesano. Para a época, uma obra ambiciosa, gigantesca.

Suas dimensões eram as seguintes: 30 metros de comprimento, 14 metros de largura, 10 de altura com uma torre de 28 metros. Os alicerces com 80 cm e as paredes com 50 cm. Para iniciá-la, foram convidados os seguintes profissionais: construtor: Sr. Francisco Tallon, um italiano residente em Muniz Freire – ES. Carpinteiro-chefe: o Sr. Américo Lopes de Faria Lemos – MG. Pintor do teto e paredes: Sr. Benedito Simões. Engenheiro dos Altares: Sr.Luís Matheli. Para montar os três altares: o artífice Senhor Adolpho Oslegher . Os sinos: Casa Stemberg do Rio de Janeiro incumbiu-se de importá-los da Alemanha.

Com a planta aprovada, os profissionais foram contratados e a Pedra Fundamental, abençoada em solenidade festiva realizada às quatro horas da tarde do dia 29 de setembro de 1923. Contudo, o povo não acreditava na realização desta obra.

Desacreditado, só e sem dinheiro, movido apenas pela fé em Deus, Pe. Miguel autorizou o início das obras sem nenhum recurso financeiro e dispôs a trabalhar como auxiliar dos construtores para torná-la uma realidade.

Somente quando os primeiro resultados começaram a aparecer, é que os paroquianos sentiram que ela poderia ser concluída. De porta em porta, Padre Miguel pedia dinheiro para executá-la. Dia a dia, mês a mês, ano após ano, a comissão formada por Pe. Miguel, em 29 de setembro de 1920, não desanimara. Com a confiança restaurada e a colaboração e o entusiasmo dos fiéis, mais oficiais puderam ser contratados e, finalmente, em setembro de 1928, as obras foram concluídas, porém, sua inauguração veio ocorrer em 29 de setembro de 1929.

A capela erigida, em 1859, por José Aguiar de Valin e Luís Francisco de Carvalho, cedeu lugar ao novo templo. A última missa celebrada na referida capela aconteceu em 29 de setembro de 1924, ano no qual a capela do Colégio São Geraldo foi nomeada Matriz provisória. Ressalta-se que ao demolirem a capela velha, inúmeras ossadas humanas foram encontradas pelos oficiais contratados e seus auxiliares.

Do livro:

GUAÇUÍ/ES ENSAIO & HISTÓRIA

Colonização Desenvolvimento & Cultura Por Miguel Aparecido Teodoro https://clubedeautores.com.br/livro/guacuies-ensaio-historia