GUAÇUÍ/ES: Ano de 1956 - A construção do Monumento ao Cristo Redentor
Antônio Francisco Moreira: O fazedor de "Bonecos"
É isso mesmo. Como o próprio título insinua, era assim mesmo que Antônio Francisco Moreira se auto intitulava. Ele, ora era cômico, ora intempestivo, ora amável. Parece contraditório, mas não é. Mau sabia ler e mau escrevia, no entanto, diante de um homem cujo temperamento era difícil de se compreender, de sua mente semi- analfabeta e de suas mãos ásperas para as letras imaginava-se e se produzia as mais belas imagens que se podia criar, modeladas em artefatos de cimento. Obras de uma engenharia inexplicável, pois, seus cálculos e desenhos somente ele os entendiam.
Não se fala aqui de uma época atual em que os recursos tecnológicos são de fácil acesso , mas discorremos sobre um tempo em que não se contava com as facilidades com as quais nos deparamos na atualidade. Naqueles anos 50, sobretudo, a partir de 1955, tudo era difícil, pois na cidade de Guaçuí ainda se abriam estradas, ainda se projetava áreas de urbanização, uma vez em que o município passava por profundas transformações. Não nos esqueçamos que, a nível nacional, o país, que se encontrava sob a égide da administração de Juscelino Kubstschek, desenvolvia-se aceleradamente de modo que não se podia perder o bonde da história e, neste contexto Guaçuí também buscava respirar os ares do desenvolvimento e da projeção a nível nacional, considerando a visão progressista de seus administradores públicos, como é o caso de José Henrique Cortat, Djalma de Sá Oliveira e Eugênio de Souza Paixão. Esses homens souberam ler a realidade dos fatos e acontecimentos daqueles anos dourados e, assim, a pequena cidade de Guaçuí, paulatinamente, vai produzindo protagonistas, verdadeiros ícones que marcarão a história, não somente do município, mas do Estado do Espírito Santo, bem como, do Brasil.
Aqueles dez anos foram impressionantes. Mas, é a partir de 1956 que cravar-se-á naquele morro que, mais tarde, será conhecido como "Morro do Cristo", o segundo maior monumento do Brasil, ou seja, o monumento do "Cristo Redentor".
Seu autor? Sim. Ele mesmo! O semianalfabeto Antônio Francisco Moreira. Aquele homem simples que gostava de fazer cocho para tratar de vacas. Não gostava de fazer imagens de nenhum santo, pois, se dizia ateu, e convencê-lo não era uma tarefa fácil. Quem afirma isso é o seu velho amigo de longa data, o senhor Vanderlan Lima Fraga. Eles se conheciam muito bem e todos que desejassem uma obra feita pelas mãos daquele escultor, procurava seu amigo Vanderlan e pedia-lhe para intermediar a conversa. Foi assim que aconteceu quando o Prefeito Djalma de Sá Oliveira quis construir uma grande cruz que viesse representar o "Cruzeiro", pois o antigo estava, já, depreciado pelo tempo. Da conversa dos três surgiu a idéia de se fazer um "Boneco". Um boneco? Isso mesmo! Um Cristo Redentor que Antônio Francisco Moreira chamava de "Boneco", conforme já mencionamos.
Então, após tudo acordado e acertado, aquela pessoa simples e de grau escolar primário, inventor e construtor, imediatamente fez os desenhos e os arranjos e a planta os quais, após terem sido apresentados ao senhor Prefeito, que os aprovou de imediato, iniciaram-se, no mês de setembro de 1956, as obras de um monumento de 100 toneladas, com 20,40 metros de altura, construído no alto de uma colina, cuja altitude corresponde a 705 metros. Assim se deu a construção do segundo maior monumento do Brasil que seria inaugurado a 23 de dezembro do mesmo ano. Sua consagração, porém, se deu a 19 de maio de 1957.
Do livro:
GUAÇUÍ/ES ENSAIO & HISTÓRIA
Colonização Desenvolvimento & Cultura Por Miguel Aparecido Teodoro
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