CARNAVAL

A palavra de hoje não poderia ser outra a não ser CARNAVAL, pois estamos em pleno dia dessa festa comemorada há centenas de anos, num período que antecede a Páscoa, e que foi marcada exatamente para acontecer 40 dias antes da Páscoa para que as pessoas que participassem dela pudessem viver uma vida de reconstrução de tudo que foi destruído nesse dia: a dignidade, a moral, os bons costumes e tanta coisa mais, que dizem fazer parte desses momentos de total desvario para festejar a Avaliação da Carne, ou a Aprovação da carne, pois aval significa avaliação, aprovação. Então as pessoas se deleitavam nessas festas pagãs, cometendo todo tipo de liberdade e libertinagem que se possa imaginar, e depois, passavam pela quaresma - os 40 dias - de total abstinência, um período de orações e pedidos de perdão, como verdadeiros anjinhos que mereciam a misericórdia e não a punição.

Eu gosto de carnaval. Este ano não fui pular carnaval, pois aqui onde moro não teve. Não assisto pela tv há muitos anos, durante alguns anos assistia até madrugada para ver fantasias, os carros alegóricos contando suas belas histórias. mas hoje acho entediante, embora lindo, os desfiles das escolas de samba contando histórias interessantes com curiosidades que não sabemos e acabamos aprendendo, mas atualmente de uns anos pra cá, a ostentação está tão imensa que o carnaval perdeu aquela coisa de diversão, é disputa, é concorrência, é se mostrar quem pode mais, quem faz melhor, além da exploração e exposição do corpo está cada vez mais exagerada chegando ao vulgar, não é mais arte, é vulgaridade. Não sou moralista, nem um pouco, mas tudo tem limite, e dizem ser em prol da arte. Que arte? Danças vulgares, roupas, quase nada de roupa, vulgares. Mas, cada um na sua. Tudo pelo sucesso, tudo pela fama.

Meu pai dizia que o mês de novembro era o mês que mais nasciam crianças em todos os lugares do país, porque eram, como ele dizia, FILHOS DO CARNAVAL, pois muitas nem sabiam quem era o pai, devido a tanta orgia, tanta festa, tanto exagero ocasionado pela bebida, e às vezes, naquela época, nem tanto, mas drogas também. São tantas consequências por atos mal pensados, por se deixarem levar pela leviandade do momento de festa, de euforia e alegria exacerbada, sem medir o que pode ser o amanhã. Curtir o momento pode trazer sequelas gravíssimas, a mínima delas é ter um filho, porque doenças perigosas e indesejadas são adquiridas por essas relações voluptuosas, sem pensar, se deixando levar pela leviandade do desejo incontido, impulsionado pelo álcool que depois será a desculpa para o que for que venha a acontecer. Tudo culpa do álcool, nunca da pessoa.

O carnaval poderia ser uma festa legal, se fosse encarada de forma mais festiva mesmo, para se divertir, mas o divertimento se transforma em orgia, em bacanal para muitas pessoas, que só pensam nisso para esses dias. Não adianta pensar que estou errado, porque não estou. Assim que todos pensam quando vão para uma festa de carnaval, em salão ou de rua: pegar alguém. Para que esse pegar se torne fácil e realmente consiga, apelam para as bebidas alcóolicas que facilitam consideravelmente o momento e faz tudo ficar mais fácil, mágico e encantador. É bom? Claro que é, não vou ser hipócrita em dizer que não, porque já participei de muitos carnavais por muitos anos. Não vou criticar, jamais farei isso, pois cada um sabe o que faz ( ou deveria saber), quem sou eu para dizer que estão errado, se eu mesmo já participei dessa festa. E tudo isso acontece de forma tão natural que já é incutido na mente das pessoas algo que se iniciou lá muitos séculos passados. A hereditariedade.

Desde pequeno participava do Bloco Carnavalesco Brotinhos, até os meus 14 anos, ano limite, que após os desfiles de rua do bloco, íamos para o salão pular, literalmente pular carnaval com as bandinhas tocando Mulata Bossa Nova, Máscara Negra, Cabeleira do Zezé, e tantas outras marchinhas deliciosas que hoje nem podem mais serem tocadas porque podem ser processados, por estarem sendo preconceituosos, racistas e praticando bullying. Tudo muito ridículo, como as pessoas estão dia após dias mais vulneráveis, mais mesquinhas, mais desinteressantes e individualistas. Na época que pulava carnaval nos salões, já adulto, abraçar uma menina era normal, dar uns beijinhos, hoje, nem isso pode fazer, porque é assédio. Elas é que tem de tomar as decisões e escolherem quem elas quiserem para fazerem o que elas quiserem, e às vezes, são tão danadas, que deixam o cara totalmente atordoado de tesão e o deixam a ver navios, e caso o rapaz insista, já é processado porque ela disse não e ele insistiu. E tem mais, se o cara não quer o assédio delas, é chamado de gay, veado e tudo o mais. Elas podem falar, o homem não pode. Tá difícil, cada dia mais difícil. Por isso aumenta o homem com homem, mulher com mulher, assim evita esses desastres todos. Eu muito beijo dei nos bailes, muitas meninas agarrei e tudo por simplesmente se divertir, sem interesse algum. Muitas noites até o amanhecer e ir direto para trabalhar, sem dormir. Coisas da juventude. Tempo maravilhoso. Éramos felizes e sabíamos, eu pelo menos sempre soube.

Quando criança, ficávamos na casa de uma tia aos cuidados da minha vó paterna. Digo ficávamos porque eram muitas crianças, quase todas da mesma idade, entre 8 e 14 anos. Nossa vó nos levava para assistirmos os desfiles dos Blocos Carnavalescos que nossas tias e tios participavam. Terminava o desfile, todos para casa dormir, e tínhamos que dormir, naquela imensa cama no chão, feita de acolchoados. A folia era boa demais. Meus pais não participavam dos blocos mas minha mãe trabalhava ajudando meu pai e toda uma equipe na copa do clube, a qual era ecônomo. Eles eram os últimos a saírem, fecharem o clube, já manhã alta e com sol. No outro dia, logo pela manhã, nós, as crianças, queríamos fazer algazarra e não podíamos porque os pais estavam dormindo e tínhamos que respeitar porque haviam chegado de madrugada, quase amanhecer em casa das noites de folia de um belo carnaval que realmente se aproveitava, se divertia. Foram anos assim, nesse processo. Até que um dia acabou. Como tudo que é bom acaba. Quando chegou a época que eu já estava em condições de aguentar uma noite acordado, eu ia aproveitar o carnaval e também ajudar meu pai no atendimento dos foliões.

Realmente, carnaval é a festa da carne, é a avaliação da carne, onde as pessoas se soltam com a intensão de se divertir, de soltar a franga, de desafogar todo um ano de amarguras, sofrimentos, excesso de trabalho, excesso de tudo e nesses 4 dias, de sábado a terça-feira, decidem abrirem-se para desopilar, descontrair, aliviar as tensões e os tesões. Por isso que, no Brasil, o ano só realmente começa após o carnaval. Após o carnaval, com esse desvario total é que as coisas começam a tomar rumo, a vida volta ao normal. Logo começam as aulas. Retorno ao trabalho de umas férias solicitadas nessa época exatamente para poder se divertir, viajar e se divertir, descansar e se divertir.

Uma amiga me convidou para ir num baile de carnaval numa cidade aqui perto. Ano passado nós fomos no carnaval no clube da cidade, pulamos bastante, nos divertimos. Mas esse não estava pilhado. Ela me disse que estou ficando velho. Estou mesmo, agora só quero escrever. Minha irmã me convida e está triste comigo porque não vou ficar uns dias com ela na praia, mas eu não sinto vontade de ir. Quero só escrever. Voltei a escrever e meu mundo agora é esse. Estou fazendo o que sempre gostei e por muitos anos tive que largar de lado - nunca deixei de escrever, mas escrevia mensagens para palestras, para turmas, eventos - mas agora voltei ao normal. E eis que estou escrevendo sobre o dia de hoje sobre o CARNAVAL, uma festa que já curti muito, mas hoje posso viver sem. Ficaram apenas as

E tu caro amigo e amiga, curtem carnaval? Ou aproveitam para fazer algum retiro espiritual, refletir sobre a vida?