Ao meu amigo Silveira
Há quase 50 anos, meu amigo Antônio da Silveira convidou um grupo de jovens paraisenses para prestar vestibular na Universidade Federal do Pará (UFPA). Havia uma grande vontade e uma garra ainda maior de conseguir ingressar numa universidade pública onde ele pretendia fazer Medicina e eu estudar Matemática. Havia então uma enorme concorrência para ingressar nas poucas universidades federais existentes na região Sudeste. Na região Norte seria menos difícil. Para realizar o grande sonho, nos reuníamos todas as noites no salão de um bar fechado, propriedade do pai de um amigo, para estudar as matérias do vestibular. Até hoje, me lembro da sua capacidade diferenciada em acertas todos os exercícios, ou quase isso, de Matemática e outras matérias da melhor coleção do ensino secundário daquela época.
Para realizar o grande sonho e nortear a vida, nos primeiros dias de 1976, esse grupo de amigos pegou um ônibus em São Sebastião do Paraíso, MG, para Ribeirão Preto, SP, de onde seguiram para a rodoviária de Brasília, onde embarcaram num ônibus Transbrasiliana para Belém do Pará. Quase três dias depois, chegamos ao destino para prestar vestibular. Faltava ainda estudar alguns temas da história regional previstos para cair no vestibular. Percorrermos praças e monumentos de Belém do Pará, anotando nomes e datas que pudessem, eventualmente, cair na prova de história. Estratégia certeira.
A princípio, quando o grupo de amigos chegou a Belém, tentou sem sucesso alojamento na Casa do Estudante Universitário. Fomos dormir então sob a marquise de um prédio onde havia uma república de estudantes. Não havia vagas. Dormimos ao relento na companhia picante dos terríveis carapanãs. Porém conseguirmos que as nossas malas fossem guardadas dentro da república, evitando algum possível incidente com nossos poucos pertences. Na manhã seguinte, procuramos o representante comercial Guerino Cayuela, com quem fizemos contato na viagem. Ele foi de uma generosidade indescritível em receber o grupo de estudantes em seu apartamento, torcendo para o nosso sucesso no vestibular.
Eu o Silveira ficamos em Belém. Cursei Licenciatura em Matemática e ele graduou-se em Medicina na UFPA. No início dos anos 1980, meu amigo médico especializou-se em Obstetrícia nos principais centros médicos da capital paulista. Retornou para a região Norte e depois empreendeu no ramo hospitalar em Açailândia, Maranhão, oferecendo oportunidade de trabalho e emprego para conterrâneos. Hoje, o renomado médico paulistano-paraisense tem três lindas filhas, duas das quais formadas em Medicina.
No ano seguinte à nossa chegada em Belém, passamos contar com a intensa presença do nosso saudoso conterrâneo Juvenal Donizete Ozelim, que também se graduou em Medicina na antiga Escola Estadual de Medicina, hoje incorporada à Universidade Estadual do Pará. Há poucos anos, o doutor Juvenal partir, repentinamente, já como oficial médico do Exército Brasileiro, deixando um rastro de boas lembranças para os seus familiares e amigos. Eu, Silveira e Juvenal compartilhamos os felizes e animados anos estudantis e início de carreira profissional em Belém. Tenho boas lembranças desses dois grandes amigos com os quais tive a chance de aprender muito, aproveitando todas as oportunidades para se formar e se tornar autor da nossa própria vida.