Minha avó Margarida
Minha avó paterna se chamava Margarida Maria de Jesus, filha natural de Maria Lúcia Alves Novado e Ildefonso Novato. Ainda na primeira infância, as incertezas da vida levaram ela a ser adotada por Idalina Cândida de Jesus, de quem lembrava com muito carinho pelo amor que dela recebera. Em 1915, casou-se com Herculano Paes, natural de Barbacena, Minas Gerais. Anos depois a família fixou residência em Jacuí, Sudoeste Mineiro, onde meu avô trabalhou na abertura das primeiras estradas da região. Em 1925, Herculano e Margarida e o primogênito do casal, José Paes, se mudaram para São Sebastião do Paraíso, também em Minas Gerais. Nos anos seguintes, o casal foi agraciado com o nascimento de duas meninas, chamadas Abadia e Ricardina. Escrevo essas linhas para rememorar sua suave presença em toda a minha infância. Ficou viúva em 1944, quando o filho mais velho, José Paes, então com 22 anos de idade, já trabalhava como sapateiro na oficina do italiano Luca Bertucca. Vô Margarida teve uma presença intensa na família, acompanhando a criação dos netos. Era uma pessoa calma, serena, quase mística e amava os gatos e a natureza. Tinha pele morena, cabelos pretos e longos, penteados em coque. Contava histórias de aventura do seu tempo de menina, deixava transparecer traços de uma distante cultura indígena. Falava dos tempos difíceis de sua infância, quando caminhava por trilhas e matas, por vários dias. Revisitar essas cenas de sua trajetória, depois de seis décadas, me fortalece e permite entender que ela soube transmitir sabedoria latente que ainda pulsa no fundo do meu coração.