Como o Cinema Contemporâneo Resgata a Essência Grega: Entre Tragédia, Arte e Filosofia! 🎭🎬
Certa vez, li que se a humanidade pagasse royalties aos gregos por suas invenções, ficaria em débito eterno. A Grécia não passaria pelos maus bocados financeiros da última década, pois foi lá que surgiram a filosofia, a democracia e o teatro, por exemplo.
O teatro grego é centrado na tragédia. Grandes dramaturgos gregos, como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, eram trágicos. Em "O Nascimento da Tragédia", Nietzsche descreve a encenação das peças gregas em um grande anfiteatro circular, semelhante a um coliseu romano. Os artistas usavam pernas de pau para parecerem maiores, máscaras pesadas e, inicialmente, não havia diálogos, apenas trilha sonora.
Para Nietzsche, a fórmula do teatro grego era a união dos elementos apolíneos e dionisíacos. Apolíneo está relacionado ao deus Apolo, associado à harmonia, ordem e razão. Representa a busca pela forma, clareza e limites. Dionisíaco, derivado do deus grego Dionísio, está associado ao vinho, êxtase e caos criativo, representando a força vital e a emotividade.
Nietzsche argumenta que a tragédia grega era a definição do "grande estilo", a síntese equilibrada entre os elementos apolíneos e dionisíacos. Ele vê a tensão entre essas forças como essencial para a criação artística e para a compreensão mais profunda da existência humana.
Transportando para os dias atuais, a importância da tragédia persiste no cinema contemporâneo. Cineastas modernos como Michel Haneke, Lars von Trier e Darren Aronofsky (exceto o incompreensível "Noé") traduzem o sentimento da tragédia antiga em sua cinematografia.
É inegável a beleza desse estilo de cinema mais visceral representado por eles. Unem a realidade, representada por Dionísio, com a beleza, representada por Apolo, resultando em uma grande forma de arte. Mesmo que alguns filmes sejam daqueles que se assiste uma única vez, esse tipo de cinema trágico é crucial para desenvolver nossa consciência crítica.
Um filme que personifica o conceito de "grande estilo" nietzschiano, com a união dos elementos apolíneos e dionisíacos, é "Fale com Ela" de Pedro Almodóvar. O filme aborda assuntos delicados, transmitindo-os de forma bela, quase como uma fábula estética. As paletas vibrantes dos filmes de Almodóvar são escalafobéticas, mas ele as une de maneira bela.
Assisti a boa parte da filmografia de Almodóvar durante a Mostra Internacional de Cinema de 2014, que o homenageou, exibindo desde seus pequenos filmes de baixo orçamento até os grandes clássicos atuais, como "Ata-me" e "A Pele que Habito".
Confesso que, talvez por ser um homem hétero, possa não me identificar muito com o cinema de Almodóvar, mas é inegável que, com "Fale com Ela", ele produziu uma grande obra trágica, exemplificando o que Nietzsche quis dizer com o "grande estilo" grego.