As vivências do fascínio e da aversão no reino psíquico
Introdução
Com o intuito de pensar as vivências do fascínio e da aversão no reino psíquico, este capítulo lastreia-se em psicanálise. A princípio, essas noções são tratadas de maneira genérica - conforme suas acepções em dicionários e em livros. Adendos sobre obras literárias permitem ampliar essas reflexões. A seguir, o fascínio e a aversão são estudados sob o vértice psicanalítico. Depois, eles adquirem conotações específicas no contexto teórico-clínico do desejo e do sistema representacional.
Ao longo do tempo, vários pensadores investigaram o fascínio e a aversão diante do outro e do mundo. As contribuições de diversos campos do saber sobre eles são apresentadas adiante.
O fascínio e a aversão no campo linguístico, mitológico e psicológico
De início, as noções de fascínio e aversão são estudadas em seu aspecto linguístico, mitológico e psicológico.
Oriundo do latim fascinum, fascínio significa encanto, sortilégio, malefício e mau-olhado, remetendo às sensações de admiração e deslumbramento. Por sua vez, o verbo fascinar significa subjugar com o olhar, dominar por encantamento, atrair irresistivelmente, encantar, seduzir. Fascínio designa o falo ereto (Ferreira, 1986). Ademais, o fascínio conota: atração, sedução, charme, maravilhamento, arrebatamento, êxtase, paixão, glamour. Em contrapartida, a aversão se associa à repulsa, ao horror, ao rechaço e ao asco (Michaelis online, 2021).
Para melhor entender a questão do fascínio, cabe esmiuçar seus sinônimos. Do latim sortilegium, sortilégio significa adivinhação e remete a encantar, enfeitiçar, ou seduzir, através de atributos naturais ou artificiais. Está relacionado com práticas ocultas como a feitiçaria e a invocação de espíritos malignos, com o intuito de atingir certo objetivo. Mau-olhado ou olho gordo é a crença de que a inveja de alguém, demonstrada pelo olhar ou não, pode causar a degradação do objeto da inveja ou da boa sorte. Associado à ideia de ‘secar com os olhos’, o olho gordo representa uma forma de impedir uma situação de prosperidade (Ferreira, 1986).
Passando-se para o plano mitológico, trabalha-se com duas mitologias.
Na mitologia grega, a aversão se presentifica no olhar da Medusa que transformava os homens em pedra. A máscara da Medusa - encontrada no escudo de Atena - representava seu poder aterrador. Por sua vez, o fascínio era simbolizado por meio das sereias que tinham o poder de enfeitiçar os homens com seu canto e sua música maravilhosa. Fascinados, eles se atiravam ao mar e eram devorados por elas. Na mitologia romana, o fascinus personificado era um deus romano protetor da infância, sobretudo dos meninos. Era um amuleto com a forma de falo, colocado no pescoço dos rapazinhos, para protegê-los dos malefícios - evitando o mau-olhado, bem como propiciando a conquista, a coragem e a fertilidade (Brandão, 2015).
Quanto ao fascínio no nível psicológico, Bacon (2007) aponta que o amor e a inveja tem o poder de fascinar e enfeitiçar, gerando desejos intensos, cristalizando-se e produzindo fantasias. Eles se apresentam ao olhar, na presença de alguns objetos.
Ao se examinar as diversas concepções acerca do fascínio, encontram-se tanto seus significados positivos quanto negativos. Assim, os significados do fascínio e da aversão estão mais próximos do que se poderia pensar a princípio.
Posto isso, faz-se mister pensar o fascínio e a aversão de modo amplo.
O fascínio e a aversão na ficção
Nessa seção, as aspas simples destacam certas frases proferidas pelos personagens dos livros. Os colchetes com reticências indicam a exclusão de certas palavras, enquanto se mantem aquelas essenciais para seu entendimento. A inserção de algumas palavras nos colchetes presta-se a deixar a frase mais clara, para o leitor.
Com o objetivo de examinar o fascínio e a aversão na produção ficcional, algumas obras - em que eles se entrelaçam - são apresentadas. Visando pensar a aversão, utilizam-se termos correlatos a ela: a repulsa, a repugnância e o horror.
Nessa via, obras de ficção como Ricardo III (2010), O Retrato de Dorian Gray (2005) e Amar e ser Sábio/To love and be wise (1973) servem de inspiração para pensar o fascínio e a aversão no campo literário.
Ricardo III se sente desfavorecido pela sorte - tendo-se em vista sua deformidade física e seus insucessos amorosos. Tem enorme sede de poder e usa de ardis para jogar seus irmãos George e o rei Eduardo IV, um contra o outro. Ele se vangloria por enganar a todos fingindo ser uma boa pessoa, enquanto espalha rumores de que a rainha e seus familiares constroem intrigas contra ele. Ele deseja desposar Lady Anne, cujo esposo e sogro foram mortos por ele. Ele a corteja, enquanto ela o cobre de impropérios - pois sabe que ele é o assassino deles. Por fim, ele afirma que a causa da morte de ambos foi a formosura dela. Ele lhe oferece a própria espada para que ela a crave em seu peito, de modo a vingar a morte deles. Ela lhe devolve a espada e ele lhe oferece seu anel como símbolo de seu desejo de desposá-la. Ela aceita o anel. Ele celebra sua conquista, tanto mais valiosa por ela estar de luto - provocado por ele.
Alguns trechos da peça são significativos quanto a essas questões.
A relação entre sua má aparência e sua vilania irrompe em: ‘[…] eu que não fui moldado para jogos ou [brincadeiras] amorosas, eu que não tenho a majestade do amor para me pavonear diante de uma musa [...], eu que sou privado de harmoniosa proporção, (...) obra duma natureza enganadora, disforme […], monstruoso e feio […]. E, assim, já que não posso ser amante que goze esses dias de práticas suaves, estou decidido a ser ruim vilão e odiar os prazeres vazios destes dias […]’ (p. 10). Todavia, na conquista de Lady Anne, sua capacidade de sedução é notável.
Ela -‘Vai-te [para longe] de mim, temeroso ministro dos infernos [...]’.
Ele -‘Doce santa, por caridade, não blasfemeis assim’.
Ela -‘Demônio imundo, vai-te pelo amor de Deus e não nos atormentes’.
Ele -‘Senhora minha, não conheces as leis da caridade: retribuir o mal com o bem [...]’.
Ela -‘Pérfido, tu não conheces nem a lei de Deus nem a dos homens’.
Ele -‘Mor maravilha quando os anjos se enfurecem [...]. Permite, divina perfeição [...]’.
Ela -‘Permite, ó pestilenta infecção, [...] acusar tua maldita pessoa’.
Ele -‘Ó mais formosa do que a língua pode dizer [...]’.
Ela -‘Ó mais torpe do que o coração pode imaginar [..].
Ela -‘(...) foram abatidos por ti, escravo do diabo. O teu lugar não é senão o inferno’.
Ele -‘Sim, outro lugar, se quiserdes que o nomeie’.
Ela -‘Uma masmorra’.
Ele -‘A vossa alcova.
Ela -‘Que se abata a inquietude sobre a alcova em que te deitas’.
Ele -‘Assim acontece, senhora, até que me deite convosco’. (p. 39-40).
A despeito dos novos rechaços verbais por parte dela, ele reitera seus melhores sentimentos quanto a ela -amor, lealdade, adoração, servidão - subjacentes a seus atos maus dirigidos contra seu marido e seu sogro.
Os trechos significativos de suas falas sedutoras estão compilados, a seguir.
‘A vossa formosura foi a causa [dessas mortes]’. ‘É uma disputa horrenda, vingares-te em quem te ama’. ‘[...] tua formosura é o reino que desejo, o meu coração suplica’. ‘Se teu coração não pode perdoar, enterra esta espada em meu peito leal e [...] nesta alma que te adora [...]’. ‘Não hesites, matei [teu sogro], mas a tua formosura a tal me conduziu’. ‘Eu apunhalei [teu marido], mas teu rosto celestial a isso me forçou’. ‘Esta mão que, por teu amor matou teu amor, por teu amor matará um amor mais leal’. ‘Sou seu pobre e dedicado servo, [...] suplico que me concedas o favor de servir-vos’. Quando ela aceita o anel: ‘Ha! Eu sou muito bom... Ela é minha!’ (p.40-41)
Faz-se necessário, doravante, analisar o diálogo em questão.
Ao longo de todo o diálogo, ele recorre a palavras suaves e lisonjeiras para com ela e se posiciona de modo humilde. Nas duas primeiras respostas dela, ele é assimilado ao demônio e rechaçado por ela. Em sua primeira réplica, ele a posiciona como santa, conclamando uma emoção amena de apelo religioso - caridade - por parte dela e nomeando como blasfêmia - insulto ao sagrado - sua expressão de ódio. Na segunda réplica, ele a posiciona entre santa e dona dele -senhora minha -além de rogar novamente por sua caridade. Na terceira frase, ela lhe diz que ele está fora da lei humana e divina. Ele responde entronizando-a no plano divino -anjos e divina -e depois como objeto de grande admiração num nível supra-humano - mor maravilha e perfeição. Além disso, posiciona-se num nível subserviente por meio do verbo permitir. A resposta dela coloca-o no nível humano - não mais como demônio - mas com características muito negativas - pestilenta e maldita. Quando ela o chama de infecção, talvez ela já esteja sendo contaminada pelo jogo dele. Na sequência, ele a chama de formosa num plano do indizível e é chamado de torpe por ela: aí ambos se posicionam como humanos. Novamente, ela o coloca no plano demoníaco - escravo do diabo e inferno.
Então, ele ousa expor seu desejo sexual por ela - rompendo a postura humilde e servil, mas a serviço do domínio sobre ela. A seguir, retira de si a responsabilidade sobre as mortes e as atribui à formosura dela. Seu desejo sexual - na citação da alcova -é, então, agregado ao amor, ao coração e à sua súplica humilde. Sua alegada lealdade abrangeria seu peito e seu amor, sendo seu desejo sexual alçado ao nível de sua alma -que a adoraria. Dá-se o ápice dramático quando ele a convoca a matá-lo - depois de muito invocar a santidade dela - e a insta a ordenar que ele se mate. Assume a morte de seu sogro e de seu marido, mas atribui-as novamente à formosura dela e a seu rosto celestial. Ao usar o termo celestial, arremete-a novamente à esfera divina. Nesse ponto, ela recua, aceita seu anel e acredita em seu arrependimento. Ele reafirma sua posição de servo humilde e disposto a serví-la. Por fim, ele se vangloria de sua conquista. Quanto a isso, Chueiri (2016) aponta o prazer de Ricardo III no jogo sádico com os outros. Ele agia como desejava, sendo que o desejo do outro devia ser submetido ao seu. Ele desafiava tudo, dada sua falta de limites, de consciência, de honra e de vergonha. Ainda acerca desse personagem, Bloom (2000) descreve a irresistível mistura de fascínio e terror exercida por ele sobre o público.
No que tange à atração do público por vilões e anti-heróis, Nestarez (2013) diz que eles são um artifício da psique para trazer impulsos à consciência do sujeito, de maneira admissível a ela. Então, aqueles seriam símbolos do id - em maior ou menor escala - ao cometerem crimes terríveis e atos ardilosos. Transformar impulsos rejeitados em um personagem - sem ser responsável por eles - favorece a adesão a ele. Portanto, os desejos irracionais reprimidos podem ser aliviados na ficção, visto que isso não traz nenhum prejuízo para o sujeito. Com isso, ele vivencia certo êxtase com as ações sórdidas do vilão - dando livre expressão aos impulsos agressivos do id. Ao entender que as escolhas erradas trazem efeitos negativos para o ego, satisfaz-se os ideais do superego. A relação de fascínio e de horror do público com o personagem Ricardo III, há cerca de cinco séculos, é um exemplo supremo das ideias apresentadas acima.
O Retrato de Dorian Gray centra-se num belo rapaz pintado por Basil. Lorde Henry - um aristocrata hedonista amigo de Basil - o faz tomar consciência de sua beleza e do valor de sua juventude, iniciando-o num mundo de vícios e desregramento. Sua sedução pelo mundo da beleza e dos prazeres inconsequentes se intensifica ao ver seu retrato e apaixonar-se por sua imagem. Ele preserva sua juventude, enquanto os demais sofrem ao envelhecer. Sua perfeição estética se contrapõe à sua corrupção moral. Assim, ele comete crimes, favorece suicídios e trai de modo premeditado. Sem remorso, culpa ou medo, Dorian parece ilustrar um típico psicopata.
No diálogo inicial entre os dois amigos, Lorde Henry se refere a Dorian como ‘um homem de extraordinária beleza, um Adônis, feito de marfim e pétalas de rosa; um Narciso, cujo retrato me fascina’. Basil retruca: ‘há fatalidade em todas as distinções físicas e intelectuais’ e ‘todos sofreremos terrivelmente pelo que Deus nos deu’ (p. 15). Os conflitos de Basil quanto à beleza de Dorian Gray logo se fazem presentes. ‘Quando o vi pela primeira vez, um instinto de terror se apoderou de mim; uma personalidade tão fascinante, que absorveria minha essência, minha alma inteira, minha própria arte. Sempre fui meu próprio mestre, até encontrá-lo; sabia que se conversasse com ele, me tornaria devotado a ele. O medo crescia em mim, a covardia me impelia a deixar a sala, mas [sua] personalidade tinha estranhamente me atiçado’ (p. 18). A seguir, Basil relata percepções contraditórias a respeito de Dorian: ‘Ele parece ter verdadeiro prazer em me causar dor; sinto que revelei minha alma inteira para alguém que a trata como uma parte decorativa para encantar sua vaidade’. ‘Ele tem uma natureza simples e bela’ (p.22). Sendo assim, a divisão do eu de Dorian se anuncia.
Na sequência, ao encontrá-lo pessoalmente, Lorde Henry considera que ‘algo em seu rosto fazia alguém confiar nele imediatamente: toda a candura da juventude e uma pureza apaixonada. Ele se mantivera intacto quanto ao mundo. Ele fora feito para ser cultuado’ (p.25). Desse modo, a princípio, sua grande beleza e a pureza de sua alma estão associadas, aos olhos desse homem cínico. [Posteriormente] Dorian ficou cada vez mais enamorado de sua beleza e interessado na corrupção de sua alma (p.90). Ele examinava com prazer monstruoso [seu retrato], se perguntando se eram mais horríveis, os sinais de pecado ou da velhice; noites de horror repetiam sua vergonha (p.97).
No livro, a divisão de seu eu com seus paradoxos evidencia-se em: ele ia se juntar à comunhão católica romana, pois o ritual católico sempre exerceu grande atração sobre ele; amava se ajoelhar no frio pavimento, golpeando seu peito por seus pecados (p.93) e em: os escândalos lhe davam seu estranho e perigoso encanto, com sua devassa luxúria; contudo, às vezes, ele voltava com o coração leve, sua maravilhosa alegria, seu prazer apaixonado pela simples existência. Então, repentinamente, ele ia a lugares pavorosos e ficava lá, até ser levado para fora (p.99).
Com o tempo, suas facetas psicopáticas se agravam: ele se tornara um homem que nenhuma garota de mente pura e nenhuma mulher casta deveria conhecer (p.106). Ademais, ele se esgueirava nos mais infames covis, corrompia qualquer um de quem se tornasse íntimo; sua reputação era infame [inclusive sobre corromper amigos] (p.107). No tocante a si mesmo, ele nunca sentiu repugnância quanto a seus atos. Nesse sentido, cabe registrar: Porque ele observaria a abominável corrupção de sua alma? Ele mantinha a sua juventude - isso bastava (p. 86). No máximo, seu horror remetia a seu quadro ser roubado e seu segredo ser descoberto (p.99). Enfim, sua forma de lidar com o fascínio despertado por sua beleza favoreceu que ele se corrompesse e corrompesse os outros - causando repugnância, repúdio, aversão, horror e ódio em seus contemporâneos.
Amar e ser sábio retrata uma estória na qual a grande beleza de Leslie Searle, conflagra intensas emoções nos demais personagens. Numa festa, ele é convidado por uma senhora para uma temporada em sua casa. Um triângulo amoroso se estabelece quando sua sobrinha se aproxima dele, a despeito de ela ser noiva de outro homem. De modo geral, as personagens femininas vivenciam sentimentos contraditórios quanto a ele. Os personagens masculinos revelam emoções bastante negativas quanto a ele.
A construção do romance inicia com termos relativos à sua beleza - um homem jovem muito bonito, com cabelo loiro, agradável nariz reto e belos ossos da face (p.10). A esses atributos físicos, vários termos são interligados: fascinante, excessivamente atraente, atração, estranho, mau, maldade, demônio, anjo caído, erro. Assim, a anfitriã confidencia para sua sobrinha que ‘ninguém me fez sentir tão abandonada quanto ele; estou certa que ele foi muito mau na antiga Grécia’ (p. 14).
A seguir, encontra-se: até mesmo a não impressionável anfitriã fora tocada por sua estranha atração (p. 16). Em meio a isso, ela diz para a sobrinha: ‘Ele é estranho. Você não ama um imã; não é paixão, é atração; ele te fascina’(p. 16). A isso, sua sobrinha responde: ‘ele é excessivamente atraente’(p.16). Além disso, para outra personagem feminina, ‘ele é um homem jovem desconcertantemente belo, ele me impressionou em trinta segundos e eu sou considerada praticamente não inflamável pelas pessoas’(p.35).
Dentre os personagens masculinos, quatro deles associam-no ao demônio. Assim, para Ratoff, o belo homem estava associado a Lúcifer, um ser de glória decaído, uma beleza transformada em maldade (p.48). Adiante, encontra-se: para Serge, havia estranheza em sua boa aparência; algo não inteiramente do mundo dos homens; talvez isso lhe sugeriu a ideia de anjo caído (p.53). Por sua vez, para Toby, ele era perfeitamente aquilo que se imagina como um demônio materializado (p.57). Nesse mesmo diapasão, o vigário afirmou que ‘ele era um demônio, que tomou forma humana por certo tempo’ (p.64). Sua anfitriã disse: ‘É estranho, é o mesmo sentimento de erro; se me dissessem que ele era um belo demônio, eu acreditaria’ (p.71). Portanto, seu fascínio é contrastado com a sensação de estranheza dos demais e pela atribuição de maldade e de traços demoníacos a ele por cinco personagens. Porém, nada em seu comportamento favoreceu tais processos psíquicos, conforme o livro.
Feitos esses apontamentos sobre o fascínio e a aversão nos romances, passa-se às ideias que ajudam a pensá-los.
Na ficção, os bad boys podem ser mais atraentes e mais interessantes que os mocinhos. Geralmente, suas personalidades são descritas de forma complexa e envoltas numa atmosfera sexy. Há um elo entre o fascínio por eles e a história humana - com forte rastro de destruição (Nestarez, 2013). Nesse caso, a conjunção entre os impulsos sexuais e agressivos do bad boy e do espectador forma uma composição irresistível para o mundo mental deste último. Nesse sentido, o fascínio do público por Ricardo III faz-se emblemático há tempos.
O fascínio em psicanálise e em semiótica
No veio teórico da psicanálise, contribuições acerca das polaridades da vida psíquica são dadas a conhecer. Mais especificamente, o fascínio e a aversão são considerados sob a perspectiva de polaridades psíquicas entrelaçadas ao desejo humano.
Segundo Freud (1915), a vida mental é regida por três polaridades: sujeito/eu versus objeto/não-eu/mundo; prazer versus desprazer e atividade versus passividade.
Visando pensar o fascínio, adentra-se na relação sujeito-objeto; envereda-se pela via da morte, do crime, do horror, do poder, do dinheiro e se chega ao narcisismo, à escolha objetal e à identificação.
Quanto ao fascínio na relação eu-outro, Freud (1914) aponta que o eu ideal é a imagem do eu dotada de todas as perfeições. Essa imagem idealizada é construída pelos pais, que se projetam no filho. Quando adulto, o narcisismo do objeto exerce fascínio sobre ele, que renunciou à parte de seu narcisismo e busca o amor do objeto. E, ainda, Freud (1921) distingue a identificação do fascínio. Na identificação, o objeto é perdido ou abandonado e erigido dentro do ego. No fascínio, o objeto é mantido dentro de si, à custa do ego empobrecido. O objeto é supervalorizado pelo sujeito, entregue à ilusória encarnação de seu ideal naquele objeto. A paixão amorosa resvala para o empobrecimento do eu, fascinado pelo objeto idealizado. Quanto mais ele é idealizado, mais o sujeito fica fascinado por ele.
Na perspectiva lacaniana, o fascínio provocado pelo olhar do outro possibilita o investimento libidinal - necessário para a constituição do eu. Logo, o fascínio se relaciona à identificação com uma imagem fascinante na constituição subjetiva. Desse modo, o fascínio resvala para a captura do sujeito por uma paixão, que transborda seu eu e dissolve os limites eu-outro. O objeto fascinante acena com a possibilidade de preencher sua falta constitutiva (Lacan, 1949).
Segundo Herrmann (2001), o fascínio - apelo mais forte da sexualidade - nasce da adequada composição entre identidade e alteridade, fusão e alienação, nojo e ridículo. Para o sujeito se encontrar no objeto de prazer sexual, demanda uma espécie de si mesmo - bastante próximo dele. Contudo, a absoluta identidade e interioridade no encontro com o objeto sexual é paradoxalmente desagradável, pois o nojo é despertado pelo que é demasiadamente igual e interno. Por outro lado, no ridículo, o alheio e o estranho suscitam desagrado parecido.
No que tange ao fascínio pelo dinheiro, Freud (1898) diz que a felicidade é a realização de um desejo pré-histórico da infância, de modo que a riqueza traz tão pouca felicidade. Os prazeres infantis de ser amado, afagado, abraçado, cuidado, atendido e considerado, bem como de dormir, comer e brincar são os verdadeiros prazeres satisfatórios. O dinheiro não é objeto do desejo infantil e a felicidade é vivida quando se satisfaz um desejo infantil. Complementando essas ideias, Phillips (1988) considera que o dinheiro divide a pessoa, ao expô-la a conflitos: uma parte o deseja, mas outra parte deseja algo mais. Comparadas com o glamour da riqueza, as antigas alternativas -salvação pessoal, imortalidade, honra, amor ou justiça -parecem estranhas. Porquanto, o dinheiro se tornou o objeto universal de desejo. Ele se tornou um símbolo de tudo que se deseja e um meio para não se pensar sobre aquilo que se deseja. Ele esconde o que importa na vida e o que é necessário para ter uma vida que se ame. O desejo por ele pode significar ressentimento com as frustrações nas relações, busca de autossuficiência e de segurança na vida.
O fascínio pela morte encerra uma forte repulsa e uma estranha atração, pois à medida que acontece ao outro, não acontece ao sujeito. Assim, há uma sensação de poder ou controle sobre a morte, a despeito do medo que ela gera. Por sua vez, o fascínio por crimes se deve à ruptura da ordem ética e jurídica da sociedade, ao romper a barreira civilizatória. Com isso, ocorre o fascínio pelo personagem, que realiza atos que a maioria das pessoas realiza apenas na fantasia (Corso, 2009).
Situando o fascínio e a aversão no tocante à beleza e à feiura, de acordo com Eco (2007; 2010) a beleza remete à harmonia, à proporção e à integridade; porém, a feiura não se configura como simples oposto daquela. Historicamente, houve movimentos de repúdio à feiura em conjunção com tocantes gestos de compaixão por ela. Sua rejeição se fez acompanhar de êxtases diante dela, pois a feiura pode fascinar e aterrorizar as pessoas, enquanto assimetria, desarmonia, desfiguramento, deformação e repugnância. Nesse fascínio, o feio é sempre o ‘outro’, aquilo que se desconhece.
Em psicanálise, o fascínio foi articulado à paixão, sedução e arrebatamento, mas, também, a domínio, captura pelo outro, ilusão do eu, atração e repulsa, retomando a proximidade semântica e emocional entre aparentes opostos: o fascínio e a aversão.
A aversão em psicanálise
Nessa pesquisa sobre a aversão, incluem-se seus sinônimos - repulsa, repugnância, nojo, asco, horror e repúdio - encontrados na obra freudiana.
Investigando a questão da repulsa, Freud (1895) escreve que os estados traumáticos tendem a ser revividos, reproduzindo a dor anterior, que leva à repulsa ao objeto. Logo, a repulsa não deriva da vivência de satisfação, mas da vivência de dor. A seguir, Freud (1915) diz que se o objeto for fonte de desprazer, aumenta a distância entre ele e o eu. Então, sente-se repulsa e ódio do objeto.
Igualmente, em Freud (1905), a aversão adquire os sentidos de repugnância, nojo e asco. A aversão significa algo repulsivo ao sujeito, que detém grande intensidade em relação à certa representação -devido à proibição do incesto. Na cultura, erguem-se as barreiras à sexualidade infantil perversa e polimorfa. Com seu declínio, certo objeto de prazer anterior passa a ser objeto de aversão. Esse conteúdo é recalcado e transformado em laços sociais. Assim, marca-se a aversão sexual na psique. Igualmente, Freud (1913) afirma que o desejo de incesto é inerente ao ser humano, mas sua interdição o afasta dele, sob a forma de lei. Logo, a proibição do incesto tem como origem o desejo ligado a ele - e não o horror a ele. Ainda conforme Freud (1937), o ‘repúdio à feminilidade, notável característica da vida psíquica dos seres humanos’- se manifesta no final da análise. À mulher, cabe enfrentar a inveja do pênis e ao homem cumpre lidar com a recusa da feminilidade.
Quanto ao horror, Freud (1919) comenta que o tema do ‘estranho’ relaciona-se com o que provoca medo e horror. Refere-se ao medo diante de situações, que deflagram processos mentais de cunho sexual: ameaça de castração, desejos recalcados e processos primitivos de pensamento. Logo, a realidade psíquica é a fonte de estranheza e do temor humano. Nesse contexto, a visão da cabeça da Medusa torna o espectador rígido de terror, sendo que ficar rígido significa ter uma ereção. Esse símbolo de horror representa a mulher como assustadora e repulsiva por ser castrada. Sua falta de pênis causaria horror, caracterizando o horror feminae.
Segundo Magalhães (2018), Freud (1919) promove uma reviravolta na estética ocidental ao apagar a falsa fronteira entre o heimlich e o unheimlich, destacando a íntima relação entre o belo e o feio, o atraente e o repulsivo, a harmonia e o estranhamento familiar, o horror e o sublime. A beleza - com seus sentimentos positivos e de familiaridade - e a feiura - com seus sentimentos negativos e de estranhamento - se imbricam. Porquanto, o desejo não reconhece essas falsas fronteiras.
Essas ideias articularam a aversão à dor; à prazer-desprazer; à distância eu-outro; ao desejo e à sua proibição cultural; ao feminino, à atração e à repulsa/horror.
O fascínio e a aversão - mais elementos psicanalíticos
Para estudar o fascínio e a aversão, retoma-se o aspecto econômico da psique. Segundo Freud (1915), ele designa as alterações nas quantidades de excitação. No inconsciente, há conteúdos investidos com maior ou menor força.
Dado o prisma econômico, as representações podem ser investidas por maiores ou menores quantidades de amor, ódio e horror -entre outros afetos -caracterizando seu investimento, subinvestimento ou sobreinvestimento (Almeida, 2003).
Ademais, a relação do sujeito com seus objetos de fascínio e de aversão está interligada à idealização e à perseguição de Klein. Estes são trazidos para o plano das representações e afetos do desejo no sistema representacional.
Klein (1996) expressa que o seio se divide em seio bom/gratificador e seio mau/frustrador dos impulsos. Com o aumento da frustração e da agressividade, forma-se o seio persecutório. A idealização vincula-se aos aspectos bons do seio, que são exagerados como defesa contra o seio persecutório.
Na vida adulta, o sujeito elege os objetos secundários idealizados e persecutórios com base na relação com seus objetos primários/pais. Os objetos secundários fornecem um modo essencial de suporte do eu, na saúde mental e no sofrimento psíquico. Em se tratando do sofrimento psíquico, o sujeito utiliza os objetos secundários (i)material-simbólicos e idealizado como escudo defensivo. Ele se apoia nos objetos de forma falha, não assumindo seu desejo no mundo. Logo, seus objetos são utilizados de maneira construtiva ou destrutiva, salutar ou deletéria (Almeida, 2003).
O fascínio e a aversão no tocante ao desejo e ao sistema representacional
Nessa seção, trabalha-se com duas hipóteses investigativas - de base psicanalítica - para pensar o fascínio e a aversão sob outro prisma.
O desejo fomenta movimentos psíquicos, visando se realizar no mundo. Em oposição a isso, bloqueios em sua realização decorrem da fixação em conteúdos, que limitam a possibilidade de ação do sujeito. Sob essas circunstâncias, a atividade representativa do sistema está alterada (Almeida, 2003; 2005; 2016).
O fascínio e a aversão na clínica psicanalítica
Esse caso clínico retrata como os conflitos da criança com seus pais faz com que o desejo do adulto apresente bloqueios em sua efetivação no mundo. Tais bloqueios se manifestam na projeção de representações - do sujeito e das figuras significativas - para o objeto idealizado. Porquanto, certas facetas de seu desejo são proibidas em sua família e impossíveis para ele - em termos de satisfação na vida adulta - mas realizadas pelo objeto idealizado, em alto nível. Esta figura de destaque emocional para ele pode ser: uma pessoa famosa, o bonitão da cidade, um professor (Almeida, 2010).
Certa paciente tinha intenso ódio a si e aos objetos primários, bem como horror às pessoas, em geral. Desse modo, ela sobre-investiu amor nos objetos secundários: (i)materiais-simbólicos - leitura e escrita - e humano idealizado - escritor famoso. Nessa trama, a literatura representava sua masculinidade, defendendo-a de sua afetividade - associada à sua feminilidade. Então, o exercício passivo da leitura e o exercício ativo da escrita serviam para excluí-la de sua família e do mundo. Seu talento para escrever era sobrevalorizado por ela, mas era amaldiçoado também. Com isso, era representado como: ser invulnerável ao amor, mas perdido para sempre. Portanto, devia ser escondido e ser proibido em sua realização no mundo. Brilhante e reconhecido no mundo, o escritor famoso era idealizado e persecutório para ela. Com essa carga psíquica, escrever era representado como impossível para ela.
Nesse pathos de seu desejo, há o sobre-investimento de amor em representações do objeto idealizado: ser tudo, ser magnífico, ser perfeito, ser brilhante, ser majestoso. Por sua vez, o sujeito sustenta seu eu em representações de seu desvalor: ser nada, ser aversivo, ser insignificante, ser errado, ser ordinário, ser desprezível - sobre-investidas por ódio e horror. Dada a herança familiar que proíbe a satisfação de seu desejo, o sistema representacional mantém as representações de seu desvalor. Para tanto, seu pensamento circular implica que as representações de desvalor remetam umas às outras, contra novas representações de seus talentos e méritos: ser inteligente, ser competente, ser determinado, ser merecedor de coisas boas - investidas por amor. A desconstrução do objeto idealizado viabiliza seu acesso ao outrora impossível na realização de seu desejo. Desse modo, o sujeito pode realizar seu desejo no mundo compartilhado das relações (Almeida, 2010).
Discussão
Diante das vertentes do fascínio, certos elementos teóricos aparecem em relevo.
Do ponto de vista linguístico, o fascínio apresenta sentidos positivos - encanto, admiração, deslumbramento, maravilhamento - e negativos - sortilégio, mau olhado, malefício (Michaelis online,2021). Seus sinônimos - deslumbramento e maravilhamento - ressaltam o intenso teor emocional suscitado por um objeto de desejo. Sendo assim, parecem indicar a idealização e a perseguição do objeto. Em sua faceta mitológica, o fascinus tinha como função repelir algo negativo: o mau-olhado (Brandão, 2015). Aliás, a questão do olhar está inserida em suas várias definições. No plano psicológico, fascínio se entrelaça a feitiço, ao amor, à inveja e ao desejo (Bacon, 2007).
Além do mais, os significados do fascínio resvalam para a sexualidade, o falo e a fertilidade (Brandão, 2015). Nessa via, na psicanálise freudiana, o fascínio envolve a relação eu-outro, sendo investida por libido. Abrange a paixão amorosa do sujeito pelo objeto idealizado, sendo que seu eu fica empobrecido, ao valorizá-lo em demasia (Freud, 1921). Em específico, na teoria lacaniana, o fascínio do olhar do objeto se liga à constituição do eu e à sua natureza faltante (Lacan, 1949). Quando se pensa o fascínio quanto ao dinheiro entram em questão a sedução, o repúdio e o ódio (Freud, 1898; Phillips, 1988). O fascínio e a aversão no tocante à feiura decorrem da falta de diferenciação entre o material psíquico familiar e o estranho (Freud, 2019). No fascínio pela morte, ressalta-se sua relação direta com a aversão ou repulsa (Corso, 2009). A repulsa se liga à dor e ao ódio ao objeto; há a aversão à sexualidade (Freud, 2019).
No plano ficcional, Ricardo III e Dorian Gray exemplificam o fascínio do público por personagens que cometem crimes, devido à ruptura da ordem ética e jurídica da sociedade e da civilização. Eles realizam atos, que a maioria das pessoas realiza apenas na fantasia (Corso, 2009). Complementando essas ideias, Nestarez (2013) diz que na atração do público por vilões e anti-heróis, seus impulsos reprimidos são trazidos à consciência, de maneira admissível para ela. Então, eles seriam símbolos do id - ao cometerem crimes terríveis e atos ardilosos. Portanto, os desejos irracionais reprimidos do sujeito podem ser aliviados na ficção, sem lhe trazer qualquer prejuízo. Com isso, ele vivencia certo êxtase com as ações sórdidas do vilão - dando livre expressão aos impulsos agressivos do id. Por sua vez, Bloom (2000) pontua a irresistível mistura de fascínio e terror exercida por Ricardo III sobre o público, há cinco séculos. A semelhança de Ricardo III e a Dorian Gray no sentido de cometerem crimes horrendos é contrastada por sua notável diferença no campo estético, dada a grande feiura do primeiro e a grande beleza do segundo. Ademais, os impulsos sexuais e agressivos dos dois personagens se associam, formando uma composição sedutora para a plateia - com seus impulsos.
Quanto a Ricardo III, a feiura pode fascinar e aterrorizar as pessoas - como assimetria, desarmonia, desfiguramento, deformação e repugnância. Nesse fascínio, o feio é sempre o ‘outro’, aquilo que se desconhece em si (Eco, 2007).
Tal como Dorian Gray, Leslie Searle se destaca por sua grande beleza, conquanto seja retratado como bom, calmo e discreto - oposto a aquele. Nos homens, suas associações entre a figura de Leslie e a do diabo-príncipe da maldade se devem à projeção de seus impulsos agressivos nele, dada a inveja do poder de sua beleza junto às mulheres (Bacon, 2007). Nesse contexto, uma única mulher o associa ao diabo, talvez por estar atraída e dominada por sua beleza. As demais estão divididas ante seu fascínio.
Sob o viés do desejo, no fascínio do sujeito pelo objeto idealizado, há o sequestro de seu valor mediante a projeção de representações do valor e de intenso amor para ele. Nessa medida, o fascínio comporta forte carga de ódio e horror ao próprio desejo. Essa concepção se diferencia do referencial freudiano, que associa o fascínio à libido tão somente. No fascínio, o sujeito pode vivenciar pavor de perder o controle de seu eu e, então, tentar controlar o objeto do fascínio. Assim, o fascínio pelo objeto se situa na fronteira entre o possível e o impossível, bem como entre o humano e o sobrehumano na realização do desejo - ser tudo, ser fascinante, ser magnífico, ser perfeito, ser brilhante, ser majestoso (Almeida, 2010).
O fascínio e a aversão abrem o leque de suas várias facetas teórico-vivenciais.
Considerações finais
Dada a complexidade do tema, fez-se necessário abarcá-lo sob os enfoques linguístico, mitológico, psicológico, ficcional e psicanalítico.
Sob o prisma linguístico, o fascínio envolve o encanto, o arrebatamento e o êxtase, junto com o domínio, o poder do jugo/opressão e os malefícios. Assim sendo, os sentidos positivos e negativos do fascínio se entrelaçam de tal maneira, que o fascínio e a aversão estão muito mais próximos - semântica e afetivamente - do que parece, a princípio. Porquanto, o domínio, o poder do jugo/opressão e os malefícios promovem a aversão, a repulsa, o horror, o rechaço e o asco.
Em psicanálise, o fascínio é articulado à paixão, sedução e arrebatamento, assim como a domínio, captura pelo outro, ilusão do eu, atração e repulsa. A aversão é equacionada à dor; prazer-desprazer; distância-aproximação eu-outro; desejo-proibição cultural; feminino-atração-repulsa/horror. A proximidade semântica-afetiva entre fascínio e aversão se junta ao paradoxo de que os extremos se tangenciam e sobrepõem: vida-morte, atração-repulsa, prazer-desprazer. Constituem polaridades psíquicas do desejo e pares de opostos indissociáveis entre si no sistema das representações.
E, mais, boa parte das contribuições acerca do fascínio e da aversão remete à relação eu-outro, envolvendo os objetos primários/pais e os objetos secundários humanos idealizados. Contudo, o fascínio e a aversão por dinheiro, crimes e morte - objetos secundários simbólico-(i)materiais - são referidos em poucos estudos. As investigações sobre o fascínio e a aversão quanto à beleza e à feiura põem em primeiro plano a indistinção entre o material psíquico familiar e estranho. Seus efeitos psicológicos se aproximam, bem como suas definições se ampliam quanto ao desejo.
Nos conflitos com seu desejo, o sujeito atribui representações sobrevalorizadas ao objeto idealizado - ser tudo, ser fascinante, ser magnífico, ser perfeito, ser brilhante, ser majestoso, com intensa carga de amor - ao passo que atribui a si representações subvalorizadas - ser nada, ser aversivo, ser insignificante, ser errado, ser ordinário, ser desprezível - com intenso quantum de ódio. Contrapartes um do outro, são pensados com base no desejo e no sistema representacional, ante à complexidade da mente e do desafio da psicanálise de lidar com os vários fenômenos mentais que se lhe apresentam.
Portanto, esse panorama sobre o fascínio e a aversão buscou esmiuçá-los, haja vista sua força na psique desde tempos imemoriais.