Republicanamente re-publicando
(para o deleite dos latinistas...)
Fodere putas...?
Como está o teu latim? Sabes, surpreendeu também a mim a frase de que tirei o título desta composição, que é curta, mas puta curtição. Pois é, a sentença inteira tem a seguinte leitura: Adeamus ad montem fodere putas cum porribus nostrus. Não tenho absoluta certeza de que a frase em apreço possa estar gramaticalmente correta a cem por cento.
Meu latim, mal estudado ao longo de vários anos nunca foi suficiente para ler Cícero. Nem mesmo César, eu diria, pois praticamente a cada novo ano sempre começava da primeira declinação e às vezes nem chegava à quinta, repetindo-se, ad nauseam. Vai ver que os próprios mestres não estavam tampouco seguros de sua sapiência.
Afinal, o latim já há séculos é língua morta e consta que a falam, ou falavam somente eclesiásticos mais doutos quando iam a Roma ver o Papa, ou pap(e)ar deveras. E no entanto, apesar de cada vez mais distante, o latim tem o seu charme, sua força. A linguagem jurídica, donde saiu esse fodere putas, é eivada dele. Ad hoc, pari passu, sic, cui bono, etc e etc...
Um dito de que gosto muito é relativo às horas: Omnes vulnerant, ultima necat...(Todas elas ferem, a última, mata). Mas vamos ao título de meu artigo: sua tradução é simplesmente "plantar batatas..." E a sentença toda, de onde foi pinçada é "Vamos ao monte plantar batatas com nossas enxadas..."
Cícero jamais diria isso. Muito menos, faria. Seu negócio era a tribuna. E tenho dito.
Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/02/2017
Reeditado em 20/03/2022
Código do texto: T5915937
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Comentários
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Paulo Miranda
M
Marcus Antonius
há 3 horas
A frase conhecida é "Eamus in montem fodere putas cum porribis nostris". É uma frase inventada há muitos anos no meio académico pelos estudantes de direito da Universitas Olisiponensis num latim macarrónico relativamente bem declinado. Os vocábulos soando a algum léxico português criam uma cacofonia que nos leva a pensar numa outra semântica. "Eamus" é o verbo "Ire" na 1º pessoa do plural do presente indicativo, significando "Vamos". "In montem" ou "ad montem" significa "ao monte". "Fodere" significa cavar, abrir buraco, até mesmo enterrar, cujo partícipio passado é "fossus, fossa". Porque até já existia o verbo "futuere" ("futere" variante latim vernacular) que etimologicamente é a origem de português "foder" e cujo particípio era "fututus/fututa") e que tinha o significado semântico que ainda hoje lhe atribuímos, se bem que originalmente em latim significou "afundar". Futuere e fodere teriam a mesma origem etrusca e de indo-europeu devido aos significados e semelhança. "Putas" só com um t é a conjugação do verbo "putare" na segunda pessoa do presente do indicativo e siginifica o que "pensas" ou "achas". "Seria correcto escrever "puttas", plural de "putta", significando no latim da Roma Antiga "menina", cujo mesculino era "puttus" (menino, puto). "Cum" é a nossa proposição "com". "Porribus" é uma má declinação de Porrum (pau) no ablativo plural, que deveria ser "porris". Aliás o alho-porro foi buscar o nome ao seu aspeto de pau. O pau também poderia significar o cabo da "enxada" que em latim era "sarculum". Portanto estamos perante uma frase absolutamente inocente, mas de sonoridade obscena – para um falante do português, bem entendido –, como originalmente se escrevia macaronicamente: «Putas fodere cum porribus nostris?». Não, nada a ver com prostitutas ou com o ato sexual. Essa frase significa apenas «Pensas cavar com os nossos pauzinhos?». Dixi.
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Herculano Alencar
há 1 ano
Latim arcaico// Diz o poeta: errare humanum est,/ ao descrever o céu com cê cedilha,/ e revelar que a queda da bastilha/ foi logo, bem ali, na Zona Leste. // Há sempre alguém atento que conteste,: seja na língua pátria ou em latim,/ e ensina que a bastilha está no fim/ da ponte do Danúbio, em Budapeste. // Mas há também aquele tal fulano,/ que ajeita a frase: errare est humano/ e põe, junto à cedilha, um esse a mais.// E explica, com soberba erudição,/ que a frase foi cunhada por Platão/ numa velha caverna de Goiás.// kkk…
J
JMRuas
há 3 anos
No tempo dos romanos as batatas ainda não eram conhecidas, sendo, por isso, duvidoso traduzir "putas" por "batatas".
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Pacomolina
há 6 anos
Excelente artigo. Andei vendo algo a repeito e conclui que o latim morreu porque o catolicismo não o tinha como língua e linguagem mas sim uma forma de dominar povos dai que foi superado por que queria continuar com os ideias de liberdade. O jurídico é que gosta de seus termos.
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Norma Aparecida Silveira Moraes
há 6 anos
DE LATIM NADA SEI...FIAT LUX...