A exegese da letra e música de Raul Seixas, ouro de tolo.

Eu devia estar contente porque tenho um bom emprego, sou um cidadão respeitável, ganho muito dinheiro, na verdade sou infeliz porque você é pobre e não tem perspectiva social de vida, sou humanista, destesto a burguesia opressora, o neoliberalismo, a razão da vossa miséria.

Eu devia agradecer a deus por ter tido sucesso na vida, ser um artista famoso, por poder comprar um bonito carro, todavia, não agradeço, tenho cognição desenvolvida, sei que deus não existe, o meu bem social é fruto tão somente do capitalismo, a razão da vossa miséria.

Eu tenho tudo, sabe qual a razão do meu bem estar, o fato de você viver a miséria, a diferença fundamental entre nós eu não defendo o neoliberalismo.

O modelo econômico e político desta nação, funciona por meio de emboscadas, este é novo Estado.

Entretanto, contemplo o sol, sinto a cor do universo e reflito a respeito dos sinais da minha imaginação.

Portanto, eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema, ser jovem, bonito e bem sucedido.

Todavia, nada disso é importante para mim, temos a mesma genética, a vossa pobreza incomada a minha pessoa, produzindo tristeza, detesto essa burguesia que coloca milhões de outras pessoas iguais a você, para viverem amontoados debaixo dos viadutos.

Não importa hoje o meu sucesso, isso não me engrandece, pois também passei fome, fui humilhado, discriminado, como um pobre coitado, como a vossa pessoa.

Hoje aqui na cidade Maravilhosa, devia estar sorrindo e orgulhoso por ter vencido na vida, no entanto, estou chorando neste regime de exceção, por você ser eternamente miserável com indigência, econômica e cognitiva.

Acho vida uma grande piada, sem graça e perigosa, então qual seria a razão de estar contente, por que deveria estar feliz, só por ter conseguido tudo que quis, todavia, você não conseguiu nada, como sou humanista, o mundo não é bom para minha pessoa.

Eu te confesso, acho que sou abestalhado, na verdade estou decepcionado, tudo foi muito fácil para mim, mas para você uma tragédia propositada.

Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e não posso ficar aqui parado, porque você vive o mundo da miseração.

Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido o domingo

pra ir com a família no Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos, mas não posso dar a você as minha mãos.

Todavia, posso te mostrar o caminho da salvação que te leva ao paraíso, imagino poder, entretanto, tenha cuidado com a ideologização política, você não pode dar poder a quem deseja a sua demolição.

Sou um sujeito chato nada disso é engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã, tudo isso um saco, quando olho no espelho, vejo um grande idiota, mal compreendo a realidade política deste país, entretanto, percebo que ninguém está contribuindo para a mudança política, desta nação.

Todo mundo com indigência cognitiva, você ainda acredita neste modelo político econômico.

Ninguém está contribuindo com sua parte para mudança deste quadro social.

Eu deveria estar sentado no trono de um apartamento

com a boca escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar, entretanto, não comporto deste modo, porque gosto de você, sei que é fundamental mudar a ordem econômica, a única forma dos pobres sairem debaixo dos viadutos.

Então longe das cercas embandeiradas que separam quintais,

no cume calmo do meu olho que vejo, assentado a sombra sonara de um disco voar, mapeando os lugares de perigo para o regime dominador.

Caro amigo, acorde e acenda a luz, ilumine a sua sombra, veja o hidrogênio do sol, compreenda a cor da imaginação, olhe para a infinitude do vácuo, veja o brilho da madrugada, supere por favor a vossa indigência cognitiva, faça esse mundo ser melhor.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 27/04/2023
Reeditado em 27/04/2023
Código do texto: T7774144
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