BOIS TAMBÉM FAZEM A FESTA NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO

Pernambuco é rico em ritmos e manifestações carnavalescas. Mas poucas despertam tanto o interesse dos foliões quanto o frevo e o maracatu. Quem pensa ou fala na folia do interior, lembra dos papangus (Bezerros) e dos caiporas (Pesqueira), no Agreste; dos caretas (Triunfo) e dos tabaqueiros (Afogados da Ingazeira), no Sertão; e dos bonecos gigantes (Belém do São Francisco), no Sertão de Itaparica . Quase não se fala nos Bois - também chamados "Bois de Carnaval" ou simplesmente "Boizinhos".

Temos o Tira-teima, de Caruaru; o Charuto, de Buenos Aires; o Sorrizo (com z) e o Estrela, de Jaboatão dos Guararapes; o Mojubá, de Olinda; o Cara Branca e o Misterioso, de Limoeiro; o Milagroso, o Treloso e o Diamante, de Arcoverde; o Surpresa, o de Trigo e o Rubro-negro, de Timbaúba. No Recife tem o Boi de Mainha, do Ibura; o Faceiro, dos Coelhos; o Misterioso, de Afogados; o Tatatá, do Jardim Monte Verde; o Treloso, do Alto do Pascoal; o Manhoso, de Areias; o Mimoso, o Malabá e o Mirim, da Bomba do Hemetério.

Apesar de estarem por toda parte e somar mais de 300 em todo o Estado - 60 deles somente em Timbaúba, a "Terra dos Bois de Carnaval" - sobrevivem quase na invisibilidade. Não é exagero afirmar que os Bois são os "primos pobres" do frevo e do maracatu: sem destaque, sem prestígio, sem recursos e sem padrinhos.

Essas agremiações, aqui em Pernambuco, derivam do bumba-meu-boi, manifestação típica das festas religiosas de São João e Natal, onde se conta a história da morte e ressurreição do animal. A maioria delas está concentrada na Zona da Mata e no Agreste do Estado. Mas o êxodo rural encarregou-se de trazer esse "brinquedo" para a folia momesca, nos grandes centros. E nessa migração para o Carnaval, a brincadeira acrescentou e suprimiu ritmos e personagens.

Para se ter uma ideia, no livro “Apresentação do Bumba-Meu-Boi” (1966; 174p.), Hermilo Borba Filho (1917-1976) aponta a existência de 78 personagens, onde estão misturadas figuras humanas (o Capitão, o Doutor e o Padre; Bastião, Mateus e Catirina ou Catita), animais (o Boi, a Ema, a Burrinha e a Cobra) e seres imaginários (o Babau, o Jaraguá, o Diabo, o Morto-carregando-o-vivo, o Arlequim, a Caipora e o Mané Pequenino entre outros). Mas ao Boi de Carnaval foram acrescentados o estandarte e o porta-bandeira; um Mestre e um Contramestre; uma burrica; toureiros e vaqueiro; uma rainha e uma Mulher da Maleta. Alguns grupos introduziram cordões de pastorinhas, alas de baianas e fileiras de caboclos.

A versão carnavalesca dos Bois é sinônimo de simplicidade e irreverência; de improviso e movimento; de cores vibrantes e alegria; de muita música e dança. É formada por personagens vestidos com estampas de chitão, acompanhados por uma orquestra composta por tarol, caixas, ganzá, gonguê, reco-reco, alfaia e rabeca. As loas (cantigas), de domínio público ou improvisadas, são tiradas pelo cantador.

Que tal, neste Carnaval de 2023, observarmos com mais atenção essa manifestação, presente em quase todos os municípios da Zona da Mata, do Agreste e da Região Metropolitana do Recife? No domingo (19.02.23) acontecerá o Encontro de Bois, no centro de Timbaúba (Zona da Mata Norte), e cortejos no Morro do Cruzeiro e nos Alto de Santa Terezinha e Alto da Independência, localidades onde estão as sedes da maioria deles.

Em Olinda, os foliões que insistem em não se despedir da "quarta-feira ingrata" podem se deslocar para a "Casa de Dona Dá", na Rua da Boa Hora, na noite da Quarta-feira de Cinzas (22.02.23), para acompanhar o Encontro de Bois, que costuma reunir cerca de 30 agremiações, vindas de diversos cantos de Pernambuco para estender a brincadeira nas ladeiras do sítio histórico.

ALEXANDRE ACIOLI
Enviado por ALEXANDRE ACIOLI em 06/02/2023
Reeditado em 26/01/2024
Código do texto: T7712901
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